Capítulo 4

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Pete acordou tarde. Não sabia exatamente o horário. Só tinha certeza que estava quase na hora de Joe e Andy chegarem do trabalho.
Geralmente depois de passar quatro noites acordado, conseguia dormir muito bem. Aquele tinha sido o caso.
Estava com bastante fome, como sempre acontecia quando dormia demais. O bom era que havia guardado as sobras de seu jantar no Taco Bell. Seu corpo reclamou ao se levantar. Provavelmente consequências do sofá desconfortável. Sentiu seus músculos doerem, porém, se forçou a ir até a cozinha do pequeno apartamento.
Enquanto comia pensou na noite anterior. Chorou até dormir ouvindo seu ex-namorado da escola cantar. Ah, como sua vida era ótima. Isso sem levar em consideração que dormia de graça na casa dos amigos por não conseguir arrumar um emprego e no momento estava comendo tacos frios. Sentia-se um fracasso total. Nada comparado ao Pete do colégio, amado por todos. Daria tudo para voltar mais um dia para aquela época. Só gostaria de poder jogar futebol, conversar com Frank, sair do treino e passar o resto do dia com Patrick. Aqueles eram tempos de ouro.
Enquanto comia lentamente, pensou em sua ideia de ligar para o ruivo. Ele provavelmente estava acordado naquele momento. O problema eram as chances de estar trabalhando também serem altas. Bem, não tinha o que perder mesmo. No pior dos casos, veria a ligação e retornaria mais tarde.
Ao digitar o número, esperava que não estivesse realmente trabalhando e que ele se tornasse o idiota que o impediu de salvar a vida de uma criança. Antes que pudesse se arrepender e desligar, uma voz cansada soou.
- Olá?
- Uh, oi, Patrick. É... o Pete.
Parecia que seu cérebro havia derretido. Por que estava esquecendo as palavras? Era como se eles nem tivessem passado muitos meses conversando quando namoravam.
- Pete! Como você está?
- Bem, eu acho. Ah, me desculpe se estiver interrompendo algo, podemos falar depois se precisar.
- Não tem problema. Acabei de sair do hospital. Depois de longas horas acordado, finalmente vou poder dormir.
- Oh, não quero incomodar seu sono.
- Não se preocupe, ainda estou a caminho do meu apartamento.
- Caralho, Patrick, você pode falar mais baixo, por favor? Eu tentando dirigir aqui - alguém falou do outro lado da linha.
O moreno sentia seu coração se entristecer com aquilo. Não que esperasse que ele tivesse ficado solteiro por todos aqueles anos, esperando pela sua volta. Só... era estranho.
- Você... uh, tem companhia.
- É o Ray, que trabalha comigo. Nós somos vizinhos então voltamos juntos.
Sentiu-se aliviado. Por que se sentia assim? Não era como se tivessem chance de ficarem juntos mesmo.
- Enfim, por que ligou?
Totalmente não foi porque não conseguia parar de pensar nele depois de escutá-lo cantando na noite anterior.
- Queria falar sobre aquele grupo de apoio - mentiu.
A verdade era que não pensara naquilo. Mas agora parecia uma boa ideia a ser considerada.
- Ah, que bom que considerou a ideia. Acho que na quinta tem uma reunião, vou conversar com a Anne por você. Quer dizer, com a doutora Nicholson.
- Boa, Patrick - o outro homem disse, rindo.
- Cala a boca - riu.
- Vai ser bom para ti, Pete. Mesmo com a sua dificuldade em falar sobre as coisas, acho que vai conseguir se dar bem lá.
- Obrigado, Trick.
Prendeu a respiração, arrependido de ter usado o apelido. Ele não era mais o seu 'Trick'.
- Uau, há quanto tempo não ouvia isso...
- Me desculpe.
- Não tem problema.
- Eu... te vejo por aí, Patrick.
- Até mais, Pete.
- Durma bem.
Desligou, com uma leve vontade de sumir. Por que disse aquelas coisas? Sentia-se péssimo, um completo idiota.
Tinha sido uma péssima ideia ligar. Parecia que não conseguiria viver sem o ruivo. Depois de tantas coisas, ele ainda era viciado em Patrick. Sempre foi, desde o primeiro momento em que seus olhos se cruzaram.
Como todo viciado, Pete precisava dele. E agora mais do nunca.

»●« »●«

- E aí, vai me contar quem é? - Ray questionou.
Patrick revirou os olhos e ignorou a pergunta.
- Pete, não é? Bonito nome. Quem é ele?
- Pensei que era você quem estava mal-humorado há uns vinte minutos atrás, me mandando calar a boca.
- Isso foi antes de eu perceber que não sabia com quem estava falando.
Saíram, do veículo, ainda discutindo.
- Não vou te falar.
- Por que? É seu namorado secreto? Cara, não vou ficar com ciúmes, não precisa se preocupar.
- Você é um idiota.
- Vou te chamar de Pat.
- Não ouse.
- O Gerard disse que sempre funciona para te obrigar a fazer algo... não é, Pat?
- Sorte sua que estou cansado demais para bater sua cara contra essa parede.
- Como se você tivesse força para isso normalmente...
O ruivo estava com os olhos fechados, muito exausto para discutir.
- Não te deixar em paz enquanto não me falar.
Ao saírem no corredor, uma das vizinhas os encarou, como sempre, com uma expressão desconfiada. Com certeza a aparência de ambos não era das melhores.
- Fala, Pat.
- Vai dormir, Raymond.
- Não. Você tem que me falar antes.
Abriu a porta de seu apartamento, dizendo:
- Vai ficar sem dormir, então.
- Você também porque não vou te deixar em paz. Por favor, Patrick.
Suspirou, pensando na melhor forma de dizer aquilo.
- Lembra daquele cara, que o Gerard e o Frank falaram sobre... que foi meu namorado quando estudavámos juntos?
- O que te pediu em namoro na frente de dezenas de pessoas em um jogo de futebol?
- Sim.
- O que tem ele?
Deu uma pausa, esperando que o amigo descobrisse sozinho. Após alguns segundos, finalmente pareceu entender.
- Oh, isso faz sentido. Mas ele não tinha se mudado para outro estado...?
- Ele voltou. Não sei o porquê de estar aqui novamente, só sei que nos encontramos e conversamos.
- Você não... pensa em namorar ele novamente, pensa?
- O que? Claro que não. Somos no máximo amigos. E vamos permanecer sendo amigos. É... só amigos.
Mesmo que não parecesse convencido da resposta, o mais alto sorriu.
- Agora pode ficar em paz.
- Obrigado! - revirou os olhos e entrou na residência.
- Boa noite, Ray.
- Boa noite, Pat.
Antes que pudesse reclamar, o outro sumiu de vista.
Trancou a porta e foi para seu quarto, se jogando sobre a cama macia. Amava seu trabalho, de verdade. Adorava cuidar daquelas crianças. Mas também adorava descansar. Deitar no colchão fofinho era uma ótima recompensa depois de um dia cheio.
Entretanto, precisava tomar um banho antes. Era essencial.
Lentamente, se arrastou até o chuveiro.  Era impossível contar sua satisfação ao sentir a água quente caindo sobre seu corpo. Parecia que toda a tensão do dia havia desaparecido. Suas energias eram renovadas e se sentiu mais cansado. Algumas pessoas o achariam estranho por estar com tanto sono no meio da tarde, mas elas provavelmente não passavam dias inteiros acordadas.
No único dia que tinha folga, decidiu comprar algumas coisas e encontrou seu ex de dez anos atrás. Além de ter que sair no meio do dia para resolver um problema com uma paciente que tratava fazia meses. 
Aproveitou o momento para pensar nas palavras de Seb. Não queria namorar Pete, era óbvio. Eles já não eram mais os mesmos de antes. Muito tempo havia se passado. A forma como que terminaram não foi por brigas ou desentendimentos, simplesmente precisavam seguir caminhos diferentes. Era isso que haviam feito. E agora tinham seguido em frente, não tinham razões para que voltasse atrás em sua decisão. O que estava feito, estava feito. Não podiam voltar no tempo. Precisavam seguir com a vida, por mais que parecesse extremamente difícil naquele instante.
Eles nunca poderiam ficar juntos. O passado que tinham estava morto e enterrado. Peterick estava acabado e não tinha mais volta.

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