46. Vocês vão todos morrer

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– Credo, o que estás a fazer? Endoideceste?

– Não – ele respondeu, apanhando da carpete a arma que Alana utilizara contra si. – Só que o mundo endoideceu primeiro e eu juro que sou o próximo se estas duas não começam a falar.

O olhar de David moveu-se das gémeas amarradas para o homem cujo peito sangrava de alguns cortes. Ele confiava no bom senso do irmão, por isso sentiu o coração acelerar quando percebeu que nada naquele cenário indicava normalidade. Jake era sensato.

Rachel também estudava a situação inesperada e, ao contrário de David, não conseguiu prender uma exclamação surpresa ao notar o desconhecido semi-nu, cujo tronco retalhado e os pulsos feridos mostravam uma violência cruel.

– Para onde estás a olhar, puta? – April, a autora dos ferimentos e que Jake surpreendera naquela manhã, deixou cair a máscara que a cobria da mais nobre perfeição, e com escárnio dirigiu-se a Rachel. – Já não tens um para ti?

Rachel fitou a rapariga com descrença e avançou um passo inconsciente na sua direção até David a impedir.  

– Ok, talvez uma delas tenha problemas. – resmungou, enquanto a outra erguia um dos sobrolhos bem delineados, em absoluto desafio. – Nem devíamos ter dormido cá.

– Não é só isso – rematou Jake, agachando-se para observar o pulso tatuado de April. – Eu gostava que me dissesses o que isto significa para começar.

– Deixa-as, Jake – insistiu David, num tom grave que não admitia recusa. Não admitia recusa para todos exceto Jake.

– Não, eu quero mesmo saber – insistiu o mais velho, devolvendo o tom grave ao irmão.

– E porquê? – Alana resolveu interceder pela irmã, agitando-se novamente na cadeira. – A menos que tenhas uma igual não me parece que queiras saber.

– A Kim tem – revelou ele. – E isto não é apenas uma tatuagem, pois não? O que é então?

Ambas se entreolharam durante algum tempo, tornando visível para todos como aquela informação as destabilizara e surpreendera.

– A morena escanzelada? – caçoou April, para depois rir. – Impossível. Ela é deficiente.

– April – repreendeu Alana, lançando-lhe um olhar significativo que Jake ignorou prontamente. Num ato irreflexo ele puxou os cabelos sedosos de April para trás, fazendo-a semicerrar os olhos mas não cedendo. Ele simplesmente não queria ouvir mais aquele adjetivo que o enfurecia para além do saudável.

– Se tu voltas a chamar-lhe isso eu desfaço-te – avisou, ignorando o novo aviso de David. – Eu não fico de quatro com esse teu ar inocente, por isso não duvides por um segundo que o faço mesmo.

April soltou uma gargalhada sensual e deixou a cabeça pender, para conseguir fitá-lo nos olhos furiosos.

– É por isso que gostei logo de ti, querido. Talvez devesse ter procurado por ti para te ter na minha cama. Acredito que seria...

Jake revirou os olhos e, inspirando fundo, tornou a puxar-lhe os cabelos.

– A tatuagem!

A loira cerrou os maxilares e fechou os olhos com o puxão. Então abriu-os e ergueu a cabeça com força, forçando-o a arrancar-lhe alguns dos cabelos com o punho forte. Ela era tão retorcida que infligia dor a si mesma para provar que não o temia. Jake não conseguia perceber uma mente tão desequilibrada e soltou-a imediatamente, para ver os cabelos platinados que arrancara pela raiz caírem no chão.

Apesar de tudo, a rapariga adotara uma nova expressão e desta vez mostrava-se igual a ele. Finalmente ela mostrava sentir algo mais negro.

– Esquece a tatuagem! – bramiu entredentes, tentando aproximar-se o máximo que conseguia dele. – Se a estúpida da tua namorada fosse esperta o suficiente isto não estava a acontecer.

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