Nem em mil anos Laís pudera sequer cogitar a ideia de ser feita de refém. Quem em sã consciência assalta uma livraria? Contudo, há loucos pra tudo neste mundo.
E quando essa catástrofe acontece, ela se vê sem saída. Mas quando um Deus pecaminoso...
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Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. Clarice Lispector.
• Gabriel Barcellos
Meus olhos ainda pesados, demoraram a se abrir. A claridade rapidamente os ferindo. O som de um despertador fazia meus ouvidos doerem, mas eu sabia que o dia tinha de começar.
Chuto as cobertas e esfrego o rosto em uma tentativa falha de despertar completamente. O quarto ainda estava rodeado de caixas, fazendo meu trajeto até a porta ser mais turbulento que o normal.
Sigo para o banheiro aos tropeços, mas logo me deparo com Flor especada sobre a pia.
— Vamos lá, Laís. — Ela encara o espelho. — Você precisa trabalhar! Acorda, mulher.
— Falando sozinha, Flor.
— Bom dia, Bi. — Em um bocejo, ela se recompõe. — Foi só comigo ou essa noite durou trinta minutos?
— Sei bem do que está falando, mal dormi. — Aponto meu dedo para as pequenas olheiras embaixo dos olhos. — Devo estar parecendo um zumbi.
Rindo, ela segue até seu quarto alegando que precisa se arrumar. Logo, faço o mesmo.
Não demoro muito para ficar pronto, mas segui em passos apressados para a cozinha. A água do café já estava fervida no momento em que pisei no cômodo, então o café não tardou para ficar pronto.
— Esse cheiro está divino. — Uma Laís maquiada surgiu ao meu lado. — Minha barriga até fez piruetas.
— Sabia que precisava de café tanto quanto eu, fiz bastante. — Aponto para a garrafa. — Sirva-se.
Flor não fez cerimonia e logo encheu sua caneca com o liquido fumegante. — Preciso correr, estou um pouco em cima da hora.
— Cuidado com o trânsito. — Sorrio quando a mesma se levanta. — Bom trabalho, Flor.
— Para você também, Bi. Até mais tarde. — Em passos apressados ela se vai.
Não tardou para que eu também partisse para meu próprio expediente. A delegacia ainda poderia estar sendo descrita como um terror, já que Jorginho Matador continuava a aterrorizar nossos dias.
Meu coração batucava ansioso para a reunião que demandaria o novo "dono" do caso. Mauricio, como bem sabe, está a um pé na minha frente. Minha vontade era de esganar esse cara, mas isso vai contra aos meus princípios.
Henrique dissera que quer conversar com algumas pessoas que ao seu ver, teriam potencial para derrubar de vez, Jorginho. E para minha grande surpresa meu nome estava ali no meio.
Nunca me senti tão feliz como a alguns minutos quando o papel fora pendurado naquele lindo painel.
— Seu sorriso está tão grande que daqui a pouco vai rasgar sua cara, Biel. — A voz assustada de Matheus me faz rir ainda mais. — Esquisito.
