Capítulo 9 - Emoções Inquietantes

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Arco I: Rapina


Caso César estivesse ali, ele certamente teria alertado Cassandra para ser mais cautelosa e principalmente não se deixar levar pela confiança. Afinal, os dois sabiam bem que o medo era capaz de fazer as pessoas agirem sem pensar, exatamente como fez a ela uma vez e agora fazia a Sanchez.

Presenciar aquela máquina gigantesca se aproximar após um longo massacre foi o gatilho que o segurança precisava para sair do estupor. Quase espontaneamente, ele tirou as mãos dos ouvidos e agarrou a primeira coisa que seus dedos encostaram no chão: o fuzil do oficial em comando que havia caído minutos atrás. E sem nem raciocinar direito, Sanchez puxou a arma para si e gritou a plenos pulmões enquanto disparava contra o perigo iminente.

Os projéteis de energia traçaram uma linha irregular que ia praticamente do chão até o teto, rasgando a lataria do neotecron pelo caminho.

Mesmo puxado pelo recuo vertical da arma, o guarda continuou atirando descontrolado para todos os lados, só parando quando ouviu o barulho do grande robô caindo desativado sobre os próprios joelhos, com as luzes completamente apagadas.

Em seu corpo, Cassandra acordou num sobressalto. A sensação de morrer, mesmo amenizada, nunca era algo agradável. Antes de levantar-se, ela checou o próprio corpo e viu que parecia completamente restaurado. Seu tique forçou-lhe a tentar arrumar as roupas da melhor forma possível, mesmo que o tecido estivesse rasgado, coberto de poeira e sangue seco, desfiado e com furos de projéteis. Mas ela também não insistiu muito, daquela distância já era possível ouvir o choramingar de Sanchez ao longe.

Vultress terminou de colocar os explosivos daquele lado e rumou de volta para onde havia deixado os transmissores. Para sua surpresa, um dos seus aparelhos estava perfurado e havia furos de disparos em vários pontos do maquinário por ali. Quando tentou ligá-lo, não houve resposta. Ela contraiu os lábios e despontou um sorriso, mas não de alegria.

― Saaaaaancheezzzz... ― Sua voz soou baixa, tremida e assustadoramente melodiosa, expressando um ódio profundo e talvez até um certo sadismo. Imaginando que aquelas avarias pudessem levar a missão por água abaixo, a mercenária não pôde se conter.

Um pigarro distante chegou aos seus ouvidos e ela começou a caminhar em direção a ele, agora com mais cautela. Mas como o tempo correndo, ela precisava verificar se os dados haviam sido enviados corretamente, então ligou de volta o comunicador.

― Cass!? O que aconteceu aí?

― O mesmo de sempre. ― Vultress sussurrou enquanto cruzava os corredores em silêncio.

― Não se esconda, Sanchezinho... ― Disse, aumentando o tom de voz novamente. Enquanto se aproximava, ela ouvia os espasmos do soldado à distância, junto com murmúrios de negação ininterruptos.

― Quem é "Sanchezinho"? Você não está perdendo tempo caçando alguém enquanto esquece o objetivo não, né?

A acusação fez Vultress parar e sentir-se culpada, como se tivesse sido pega no flagra. Ela abriu a boca para falar, mas não encontrou uma desculpa válida. De repente, uma rápida rajada de fuzil disparou bem próximo e fez a mulher pular mais uma vez de susto.

Assim, o silêncio reinou soberano, e mesmo César se calou no comunicador. Vultress moveu seus músculos tensos e voltou a se aproximar, preocupada, até que logo avistou o último guarda caído sozinho. Ele estava com o corpo virado de lado, os braços imóveis ainda segurando o fuzil e com uma visível abertura na cabeça por onde se destacava manchas de sangue e massa encefálica.

Cassandra tentou suspirar, mas o ar parecia ainda preso em seu peito. Seus batimentos estavam acelerados e ela sabia que não iriam diminuir se continuasse diante daquela cena. "Pra que esse susto de novo, seu puto...?" Seus pensamentos, no entanto, irradiavam irritação e pesar.

Vultress: A Salteadora de Fissuras [Arco I: Rapina]Where stories live. Discover now