Capítulo 4 - Aparências

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Arco I: Rapina


A garota de cabelos loiros e reluzentes caminhava pela calçada da empresa trajando seu típico jaleco branco de trabalho. Ela carregava uma mochila de estudante nas costas e caminhava em direção aos portões de entrada enquanto empurrava uma moderna cadeira flutuante. Sentada no assento hospitalar estava uma mulher de cerca de trinta e poucos anos, coberta por uma manta e aparentemente inconsciente.

Aquela era uma área conceituada, segura e bem policiada que camuflava o resto humilde da cidade com prédios brilhantes e lojas pomposas. Vultress conhecia o tipo de bairro e detestava ter que agir ali. Pela sua experiência, ela sabia que, naquele lado, as ruas estariam praticamente vazias ao escurecer. Viaturas noturnas provavelmente seriam constantes, mas a guarda pessoal nas empresas estaria reduzida e dispersa.

Contando com isso, os planejamentos de suas invasões normalmente eram bem simples: no horário ideal, ela só precisava encontrar um ponto suficientemente desguarnecido para entrar, não precisava nem estar vazio. O problema maior não era ser avistada por pessoas à sua volta, mas em ser reconhecida pelas câmeras. Por isso, quando já dentro do local, seu foco primário deveria ser desestabilizar o sistema de segurança, e os modos de realizar isso variavam. Após ter pelo menos inutilizado as câmeras, ela estaria livre para agir como quisesse dentro do local.

No entanto, as coisas não seriam tão fáceis daquela vez. Notavelmente, aquela não era uma empresa comum. Sua carga horária estendida e a forte segurança mesmo no horário noturno dificultavam um pouco seus planos. Por isso, ela precisou improvisar.

Ao verem a funcionária se aproximando de forma diferente do habitual, um dos guardas da guarita se adiantou e parou a estudante.

— Boa noite, Polly. — Ele questionou com o olhar, esperando que a conhecida antecipasse a explicação.

— Boa noite, Sr. Carter. Como vai a família? — A garota tinha um rosto sorridente e amigável, sua simpatia natural era cativante e Cassandra até sentiu um pouco de inveja da habilidade que usava ali. — Ah! Esta é minha prima Agnes. Ela precisa de cuidados, sabe? Seus pais tiveram que sair e me deixaram tomando conta dela.

O guarda se aproximou ainda desconfiado, abaixou-se para ver o rosto desconhecido que descansava abaixo das mechas pretas, mas de sua face só foi possível identificar os olhos fechados, pois uma máscara respiratória cobria-lhe parte frontal.

— Ela está descansando, mas não se preocupe, eu já conversei com a Sra. Patterson para deixa-la no espaço de Day-Care da empresa. Pode ligar pra ela pra confirmar se quiser.

O homem então se afastou e voltou a falar com a estudante.

— Tudo bem, vou só confirmar com ela. Espere aqui, por favor.

— Claro. — Pelos olhos azuis de Polly, Cassandra observou o guarda voltar à guarita e discar para sua superior. Ela esperou pacientemente, já com a certeza da resposta garantida a algumas horas atrás, com ajuda de César.

Quando o guarda sinalizou que estava tudo certo, a estudante acenou e sorriu mais uma vez. Os portões gradeados se abriram e ela seguiu em direção ao hall do prédio levando sua suposta parente.

Já dentro da empresa, Cassandra faz questão de continuar no papel até que estivesse realmente segura. Ela manteve o sorriso, acenou e cumprimentou todos que encontrava. Pelo que havia investigado, Polly era uma estagiária alegre, extrovertida e extremamente amigável que adorava seu trabalho. Cassandra julgava-a uma garota chata, invasiva e um tanto ingênua, mas, felizmente, a mercenária também conseguia ser uma ótima atriz se assim desejasse.

Vultress: A Salteadora de Fissuras [Arco I: Rapina]Where stories live. Discover now