Capítulo 7 - As Dores da Insubordinação

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Arco I: Rapina


Quando jovem, Vultress tinha um sonho: alcançar a liberdade verdadeira, mesmo que nem ela própria entendesse o significado dessa frase. Sua entrada na Anchieta System veio com uma esperança, lá deveria ser o local onde ela poderia viver e construir algo de seu interesse, sem ter que se sentir presa e emocionalmente contida. Um sonho vazio e inocente. Ao fim, suas expectativas nunca foram alcançadas e empregar-se naquela empresa só serviu para ensiná-la uma dura lição.

Hoje ela conseguia perceber como havia sido nada mais do que um filhote ingênuo, que tentou alçar seu primeiro voo, mas acabou sendo levado pelo vento para dentro de uma orquestrada armadilha.

Só com o caminhar do tempo Vultress pôde enxergar que ela nunca poderia alcançar a verdadeira liberdade sendo propriedade de alguém, mas sim ao erguer as próprias asas, seguir seus próprios interesses e se expressar do seu modo.

Mas ao fim de toda essa saga, suas penas haviam caído e seu espírito quase se quebrou, no entanto, com muito custo aquele filhote conseguiria se libertar.

Vultress agora não se considerava mais uma infante. Ela tinha suas penas novamente e sua vontade estava intacta. Não precisava mais deles e se recusava a ter que recorrer a tais recordações.

Naquele momento, um dos seguranças pareceu sentir o olhar feroz à espreita pois sua espinha imediatamente gelou. O pressentimento foi tão forte que o obrigou a virar para trás. Seus olhos se cruzaram com o da invasora e ele viu o exato momento em que seu parceiro estava prestes a levar uma coronhada na cabeça.

― Atrás! Atrás! ― O outro ainda tentou gritar, mas já era tarde para seu colega. O guarda da direita caiu de joelhos com a pancada na cabeça. Apesar da dor contundente, aquilo não foi o bastante para apagá-lo.

No passo seguinte do ataque, Vultress já investia na direção do outro, um grandalhão que agora movia-se para alvejá-la. O homem viu os acontecimentos em sua frente, mas não conseguiu acompanhar. Já no impulso, Cassandra jogou a escopeta vermelha para o lado e a arma deslizou para as costas, assegurada pela bandoleira listrada que transpassava seu corpo. A mulher era ágil e, mesmo com uma arma grande em mãos, sabia movimentá-la e se esquivar sem muito esforço.

Então, de mãos nuas, a mercenária propôs-se a segurar o braço daquele guarda antes que ele pudesse se virar por completo. Um disparo imediato saiu da arma inimiga, mas Vultress já impedia seu punho de mirar precisamente.

Com a mão esquerda ela impulsionou os ombros do homem, e com a direita, já forçava o braço dele na direção oposta à sua articulação. O guarda podia ser maior e bem mais forte que a invasora, mas ela conhecia bem as técnicas necessárias para uma imobilização eficiente. Ele gemeu de dor.

― Atira nela! ― Sem ter como se mover, o segurança só pode chamar por ajuda.

Um pouco atrás, o companheiro caído erguia a arma e se levantava lentamente, claramente ainda sentindo os efeitos da concussão. O guarda rendido gritou e viu-se obrigado a se curvar para não quebrar o membro. Nisso, a mercenária tomou o controle de sua mão e apontou a arma de ponta-cabeça para o outro oficial. Ambos atiraram quase ao mesmo tempo. E, como se tivessem combinado, os dois disparos acertaram suas pernas. Tanto Cassandra quanto o guarda tiveram uma bala atravessada na coxa.

O guarda atingido urrou, segurou a perna, mas não caiu. Vultress também reclamou e fraquejou por um instante, no entanto, procurou usar aquele contratempo para se preparar para o próximo ataque inimigo. "Arma fraca demais..." Pensou Cassandra, observando o resultado obtido. Apesar da implicância com o armamento, ela sabia que não tinha direito de reclamar demais daquela vez.

Vultress: A Salteadora de Fissuras [Arco I: Rapina]Where stories live. Discover now