zhong chenle é meio inteligente;

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faz só vinte minutos que chenle ligou – jisung nem parou pra pensar onde ele arrumou seu número – e o apartamento do garoto já está impecável, com ele entrando no banho em uma velocidade praticamente impossível.

quando o chinês desdenhou da sua tentativa de puxar assunto no sábado passado – e ainda lançou aquela pergunta que o desnorteou inteirinho – o park jurou que ele simplesmente desistiria do trabalho de biologia e deixaria tudo sob seu encargo.

bem, chenle pode ser muitas coisas, mas não é um irresponsável.

portanto, às quatro e meia da tarde daquele feriado prolongado, os dois garotos de quinze anos se reúnem na frente do computador de jisung e pesquisam a utilidade de cada osso do corpo humano.

o trabalho é incrivelmente estúpido – fazer um desenho em tamanho real dos ossos do corpo humano e explicar a função de uma área específica, a da dupla foram as falanges e juntas – e a apresentação é amanhã, então jisung, mesmo tentando parecer tão descolado quanto chenle e seu dar de ombros, está uma pilha de nervos.

- que bom que eu pensei mais nisso como ser humano do que como aluno – comenta o garoto, retirando três canetões permanentes da mochila que largou sobre a cama do mais novo – e aí, quem tira a roupa?

- como é?

- vamos, sungie, você é grande. os desenhos vão ficar bonitos.

as orelhas do park queimam em mil tons de vermelho quando o baixinho chega bem mais perto, levando as mãos pequenininhas até a base da sua camiseta e ameaçando erguê-la a qualquer momento.

antes que possa sequer entender seu próprio organismo, jisung já deu um longo – muito longo mesmo – passo pra trás e disfarça seu constrangimento com um aceso de tosse que pode ser (ou pode não ser) forçado.

- tudo bem, criancinha, eu tiro a roupa.

e, antes que o protesto chegue à sua garganta, o moletom de chenle já está jogado no seu tapete e o garoto leva as mãos pros botões da calça escura.

ele é bem mais magro do que jisung imaginaria. de certa forma, a pose que passa pelo colégio faz todo mundo automaticamente supor que o chinês tem massa muscular o suficiente para se defender sozinho em uma briga de bar.

vendo o peito nu do rapaz a menos de um metro, o park tem certeza que ele seria o primeiro a morrer se estivesse envolvido em uma.

a pele é muito clara – muito clara mesmo, como se não tomasse sol nunca – e cada detalhe delicado faz a boca do mais novo ressecar e dá um nó na pobre cabecinha.

agora só de cueca – pro completo pânico de um jisung na flor da idade – chenle deita no tapete e estende uma das canetas para o alaranjado, com uma expressão de desgosto no rosto por ele ainda estar parado na mesma posição.

- vamos, jisung, eu não sou tão diferente de você, sou?

é.

jisung está indignado.

sim, chenle é completamente diferente dele. chenle é marcável, mordível, beijável.

chenle é todo novo e diferente e jisung está tremendo um pouquinho quando destampa a caneta com os dentes para dirigir até a pele tão branquinha. já no primeiro risquinho, no antebraço, o coreano sente que está cometendo um crime inigualável em sujar a delicadeza de chenle.

- vai logo, cara, eu to com frio – reclama, os pelinhos do braço se arrepiando ao sentir as cócegas da respiração do garoto contra sua pele – será que eu consigo fazer uma parte também?

- se você ficar se mexendo, vai estragar tudo.

a voz de jisung está ainda mais baixa que o normal – estranhamente grave – e chenle paralisa na hora. no fundinho da sua barriga, onde a respiração é mais desregulada, ele gosta de ouvi-lo tão perto assim.

se passam dez minutos naquele quase silêncio – o esverdeado não aguentou nem dois minutos, então colocou nirvana pra tocar baixinho e fingiu não estar sentindo seu corpo reagindo esquisito a cada vez que jisung o apertava com um pouquinho mais de força – quando os olhos do zhong encontraram o telescópio abandonado bem ao lado da janela, feito um tesouro completamente esquecido.

- você gosta de ver as estrelas? – jisung concorda com um murmúrio, sem desviar a atenção da primeira costela – qual sua constelação favorita?

– todas. nenhuma. ahn... eu só gosto de ver plutão, na verdade.

- por quê?

- bem, o planeta que não é mais planeta – o park se afasta um pouquinho, o suficiente para seus olhos se cruzarem – é precisamente melancólico, não é?

- park jisung é a merda de um poeta – ri, olhando para baixo e para cima de novo – você deveria começar com as falanges do pé e depois ir pro metatarso, não acha?

jisung o olha um pouquinho surpreso e depois para os pés do garoto. ele não sabia qual era o metatarso, mas chenle soou tão natural que não tem como o alaranjado duvidar do que ele dizia.

- você já... sabe o nome dos ossos?

- eu gosto de biologia – dá de ombros, como se não fosse nada demais – e eu reprovei, né, então ainda lembro de alguma coisa.

- um planeta que não é mais planeta.

sussurra, tão baixinho que o chinês até duvida que tenha escutado mesmo, mas então ele continua:

- você era bom? sabe, no colégio.

- cara, eu era o melhor da classe disparado! – gaba-se, com o sorrisinho arrogante que mostra só de brincadeira – eu faltei demais, foi só isso.

- precisamente melancólico.

chenle o encara, como se jisung nunca estivesse ali até então e, finalmente, o estivesse vendo.

jisung que é o único do colégio com cabelos coloridos como o seu, em um desafio mudo a quem ousasse opinar.

jisung que veio de outro país, mas de vez em quando sentia que estava no planeta errado.

jisung que falava pouco, mas gostava de observar.

park jisung. presente.

e jisung que continuou desenhando em seu corpo, tão perto que os arrepios deixaram de ser frio muito tempo atrás, por mais de uma hora depois disso.

eles descobriram que tinham muitas coisas em comum – bandas dos anos 80, comida apimentada, medo do escuro – e descobriram que eram completamente diferentes em muitas outras – um gostava de montanhas-russas, o outro amava insetos, um via as estrelas, o outro sonhava em viver nelas – e descobriram que alguns detalhes são mais importantes juntos do que separadamente.

se chenle o achava um garoto engraçado antes daquela ideia maluca, agora ele o achava um garoto. simples assim.

e chenle tinha uma queda por garotos demais daquele colégio.

- eu vou... fazer seu crânio agora. você precisa parar de falar – comenta, ficando com uma perna de cada lado do corpo do outro e tomando um cuidado extremo para não se apoiar onde já fora desenhado.

- jisung.

chenle chama na primeira oportunidade, fazendo o park rir meio abobado. aquele garoto é insuportavelmente caótico, não é?

- eu disse que você não pode falar, chenle – reclama, ainda mais baixo, porque sua voz já está quase dentro dos ouvidos do mais velho.

- jisung – tenta de novo, e dessa vez o garoto para de vez e fica o encarando – você já beijou?

jisung quer responder, mas alguma coisa no brilho felino do olhar sobre si engole todas as suas palavras.

o esverdeado reprovou um ano porque não gosta de ir pra escola, mas ninguém pode negar que zhong chenle é meio inteligente demais.

kids; chensungOnde as histórias ganham vida. Descobre agora