zhong chenle é meio desastrado;

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já faz dois meses que park jisung estuda naquela escola de clichês e algumas rotinas simplesmente fazem parte da sua vida acadêmica agora.

como, por exemplo, correr para pegar o ônibus porque sempre dorme demais, comer pizza amanhecida na cantina e assistir aos jogos de sexta á noite, mesmo detestando futebol americano.

ele assiste porque mark adora ver donghyuck animar, mas ele também assiste porque quer entender onde chenle vai depois de esperar por mais de uma hora sob o placar.

quando jisung contou a mark sobre o que viu lá no estacionamento – logo depois de se conhecerem na interação dos estrangeiros e perceberem que, algumas amizades, simplesmente são pra ser –chenle chorando e abraçando Lucas como uma criança birrenta, o canadense o fez acreditar que ele com certeza o confundiu com outra pessoa.

certo, claro. confundiu seus cabelos esverdeados e a jaqueta inseparável dos rolling stones.

jisung não é burro.

na verdade ele sabe bem porque mark mantem essa história feito um grande segredo: ele morre de medo de huang renjun, o melhor amigo chinês de chenle.

há muitos boatos sobre renjun pela escola. acreditem em mim, muitos.

alguns dizem que ele vendeu o próprio rim para poder fugir da china após assassinar o pai.

outros dizem que ele trabalhava em um prostíbulo turco e fez o proprietário se apaixonar por ele, bancando sua viagem até ali.

há também quem confirma ter visto, com os próprios olhos, renjun traficando nas dependências da escola e escapando com sua super moto tunada.

claro que renjun não nega nenhum deles – quanto mais falarem pelas suas costas, menos virão falar na sua frente – mas a verdade é que a moto tunada é uma harley antiga que o pai deu de presente no seu aniversário de dezesseis, uns meses atrás.

ele só deixa tudo rolar porque odeia do fundo do coração ter que dar explicações sobre sua vida pessoal pra estranhos. na verdade, na verdade, ele odeia profundamente estranhos no geral.

mas isso é na jaemin quem conta pra ele, daqui alguns meses, depois de uma noite de choradeira.

jisung saiu mais cedo do jogo hoje porque está começando a chover e ele, particularmente, odeia chuva.

pra ser bem honesto, a culpa é do seu cabelo. ele sabe bem como é um inferno ter que tratar o cabelo alaranjado com todo o cuidado depois só porque fios descoloridos ficam terrivelmente ressecados se tomarem um pouquinho de chuva.

está debaixo da tenda estendida do carrinho de cachorro-quentes e suspira, olhando pra camiseta do capitão américa encharcada e já fazendo cara feia. agora seria obrigado a lavar roupas no sábado de manhã porque guardar aquilo ali úmido no minúsculo apartamento de dois cômodos é pedir para morrer asfixiado.

- merda de mark lee – está resmungando, trêmulo, quando avista os mesmos fios esverdeados que parece ver o tempo todo correndo na sua direção.

chenle cobre a cabeça com sua jaqueta de couro e tem um jeito engraçado de correr que faz com que pareça estar pisando em lugares específicos. jisung pensa na possibilidade do garoto estar desviando das linhas que dividem o concreto avermelhado do chão, mas a ideia parece estúpida demais até para um garoto meio biruta feito o chinês.

após alcançar seu objetivo – a segurança do toldo ao lado de jisung – chenle xinga um pouquinho, suspirando, e veste seu casaco.

é só neste momento que o olhar dos dois se cruzam, pela primeira vez de fato, e o loiro esverdeado chega a ficar paralisado por uns segundos, completamente em choque. jisung quer imaginar uma cena bonitinha – em que chenle percebe a existência dele e começa a prestar mais atenção em si pelos corredores do colégio – mas o outro só fecha a expressão e franze o nariz em sua direção, como se ele fosse um incômodo.

o park até se sente bem ofendido, não é nada legal ser chamado de incômodo pelo nariz dos outros, mas chenle nem dá tempo dele protestar quando pede um cachorro quente com batata palha e salada, mas sem salsicha.

jisung acha ainda mais esquisito isso, mas não se arrisca em olhar para o garoto e correr o risco de acabar levando mais caretas pra casa.

- lele, seu covarde! – donghyuck chega gritando, todo encharcado pela chuva também – você não pode andar em piso repartido sem um de nós!

o castanho está meio ofegante, mas parece tão irritado quanto em qualquer outra briga. ele até fica na chuva mesmo, se negando a ficar sob o toldo.

- eu não pisei em nenhuma rachadura.

- duvido!

a camiseta do garoto se suja com molho e ele xinga mais uma vez, baixinho, entretanto quando faz isso o cachorro-quente suja ainda mais seu rosto e jisung precisa se concentrar em qualquer outra coisa para não rir.

ele não acha que chenle vai deixá-lo sair dali ileso se desconfiar que estava rindo da sua cara.

mas jisung meio que está, porque o garoto é um desastre ambulante.

- pergunta pra ele então – sentencia, apontando pra si – cara, eu pisei em alguma rachadura?

dá pra acreditar que chenle está falando consigo, olho no olho, como se já tivessem algum dia sido apresentados e ele de fato reconhecesse sua existência?

jisung quase desmaia bem ali, mas ao invés disso só limpa a garganta e fala meio baixo demais: - não, não pisou, não.

o sorriso infantil se alarga no rosto do mais baixo e o coração de jisung erra uma batida. deve ser só porque, com o rosto ainda sujo de mostarda, chenle fica parecendo um idiota.

- viu só? – agora está mostrando a língua para donghyuck e caminhando na chuva – você me deve um sundae.

- você é muito trapaceiro.

- cala a boca, seu merdinha.

park jisung chega em casa tão emocionalmente exausto que nem toma banho – ele promete a si mesmo que vai tomar um bem cedo na manhã seguinte, mas mora sozinho e não deve satisfações a ninguém – e fica assistindo as constelações por mais meia hora, lembrando da carinha irritada do colega de turma quando sua blusa branca ficou manchada de molho.

zhong chenle é mesmo, quando você olha de perto, um carinha bem desastrado. 

kids; chensungWhere stories live. Discover now