Capítulo 2

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Rolo os olhos no exato momento em que Anthony se senta a mesa, os olhos azuis raivosos me causam uma extrema vontade de rir. Meu pai está sentado em uma das pontas da mesa com um jornal enfiado no rosto e minha mãe na outra ponta com a atenção totalmente em mim. O olhar curioso e impaciente.
- o que foi isso no seu rosto Andy ? - paro o garfo no ar, deixando de olhar o pedaço de bacon para encará-la. - não me diga que já se meteu em problemas.
- pergunte ao Anthony. - digo sínico, enfiando o bacon na boca. - ele é o meu problema.
- foi só um soco mãe, esse pivete merecia muito mais do que isso. - Anthony coloca os cotovelos sobre a mesa, se esticando para pegar a jarra de suco.
- não me importa o que ele merecia ou não Anthony, já disse que não vou tolerar violência entre vocês e pensei que tivesse sido clara. - ela realmente parece irritada, mas sua expressão ainda está tão calma quanto a de um anjo. - eu não quero ver isso acontecer outra vez.
Deus queira que eu nunca veja essa mulher furiosa.
- desculpa mãe, mas não passe a mão na cabeça desse moleque depois do que ele fez. - rio baixo, não acreditando que esse idiota pensa que sabe o que aconteceu.
- e eu ainda achava que você tinha ficado menos burro. - enfio outro pedaço de bacon na boca, sentindo a carne crocante sendo quebrada pelos meus dentes. - não haja como se soubesse o que aconteceu, porque eu tenho certeza de que ela não te contou nada.
- e precisa contar ? A garota estava fugindo de você no meio de um temporal. Você só pode ter feito alguma merda.
- se eu fiz merda ou não você nunca vai saber, sei que a Mia não vai te contar e eu muito menos. - pisco sínico, apanhando o copo de suco.
- veremos se eu não vou descobrir.
- tente. - sorrio sem mostrar os dentes antes de tomar o líquido amarelo.
- já chega dessa briga idiota meninos, não atrapalhem meu café da manhã.
A voz do meu pai aparece junto com o cair do jornal, as folhas sendo dobradas de forma calma enquanto ele altera o olhar entre mim e Anthony. Minha mãe continua a comer, observando tudo como se algum plano maluco estivesse rondando sua mente.
- todas as vezes em que vocês citaram o nome da Mia durante a conversa, eu tentava pensar o que poderia ter acontecido para que ela se tornasse um motivo de discussão entre vocês. - o duro olha dela sobre mim, como se tentasse entrar em minha mente e pegar as informações que precisa para entender melhor a situação. - sugiro que ambos tomem cuidado com essa garota, ela não é um objeto que possa ser posse de alguém. Nenhuma mulher é.
- não é por posse querida, é por orgulho. - meu pai leva um pedaço de bolo a boca. - a guerra pessoal deles acabou de ganhar um novo estopim, só espero que não usem a menina como arma. Mulheres são inteligentes o suficiente para saberem quando estão sendo usadas.
- e nunca usei a Mia. - um rosnado baixo escapa de minha boca, a base do copo encostando na toalha branca.
- não estou dizendo que você a usou, mas com certeza é isso que ela pensa, ao contrário seu irmão não estaria tão próximo da sua namorada, se é que eu ainda posso aderir esse termo a ela.
E por um fração de segundos, o pensamento de que meu pai me conhece melhor do que eu imaginava aparece. As palavras que saem de sua boca se mostram verdadeiras mesmo que ele não saiba o que aconteceu.
Droga, eu não sou tão fácil de ler assim ?
Sou ?
- sem aliança, sem compromisso pivete. - a cada sílaba que sai da boca de Anthony eu me convenço que ele não vai desistir até conseguir o que quer.
Ele não vai ter minha herança !
Não vai ter minhas ações na empresa !
Não vai ter o gosto de me ver arruinado !
E não vai ter Mia Collins, por ela já ser minha !

A noite caiu tão depressa quanto a tarde. O céu parece ter perdido um pouco das nuvens acidentadas e deu espaço para um azul tão intenso quanto a minha curiosidade. A luz do quarto dela está acesa e a cortina, para a minha sorte, com uma brecha não muito grande, mas o suficiente para que eu consiga ver a ruiva por alguns minutos. Ela parece estar pensativa, os cabelos amarrados no topo da cabeça e o óculos rosa no rosto.
Eu queria tanto poder ir até lá e não ser recebido como alguém indesejado.
A probabilidade dela ter escondido o evento de ontem do senhor Collins é bem pequena, eu só não diria nula por saber que talvez, Mia não queira deixar seu avô estressado com um garoto que quebrou seu coração. E isso me deixa feliz por um instante. Se o senhor Collins ainda não apareceu aqui para cumprir a promessa que fez, significa que eu ainda tenho uma chance de consertar toda essa bagunça. Uma chance de convencer a ruiva a me escutar e de voltar para mim. Uma chance de mostrar a ela que Raven enlouqueceu com suas próprias conclusões sobre nossos encontros casuais.
Respiro fundo, sentindo minhas vértebras cervicais fazerem um barulho estranho. Fecho a janela e a cortina escura em seguida, dando poucos passos até minha cama e me jogando na mesma. A cabeça latejando ao imaginar que Anthony possa estar mais próximo dela do que eu pensei, o ódio e a indignação crescendo em meu peito.
Eu não posso deixar esse desgraçado se aproveitar dela, não posso deixar ele se aproximar tanto.
Uma vez que Mia deixar Anthony ultrapassar a linha da intimidade, não terá mais volta. Meu odiado irmão teria a única coisa na qual eu pensei que nunca seria de outra pessoa além de mim. Fecho os olhos com força, os dentes quase se quebrando pela força que causa o atrito entre ambos. Quem poderia diabos me ajudar com isso ? Quem ? 
Sam !
Se eu conseguir a ajuda do loiro seria mais fácil chegar até a ruiva ! Preciso falar com Brandon logo, preciso tentar evitar que a minha garota caia nas mãos de Anthony. Um ponto de luz me atinge, o sorriso sapeca que aparece em meus lábios só confirma minha determinação em ter Mia de volta.
E eu vou ter !
Tudo depende se Sam estiver disposto a me ajudar e sinceramente, eu espero que ele me ajude. O loiro entende que o momento atual pode ser muito doloroso para a amiga e com certeza, fará de tudo para ajudá-la.
Sam é a ponte que ainda me liga a ruiva.
Ele é o único que pode me colocar no mesmo local que ela sem a mesma querer fugir.
Eu preciso ficar frente a frente com aqueles olhos cinza azulados e dizer tudo o que está entalado na minha garganta. Dizer que eu sinto sua falta, que vê-la correr de mim daquele jeito destroçou tudo dentro do meu coração, que eu sinto falta do calor de seu corpo, do cheiro dos seus cabelos, dos lábios nos meus.
Só preciso ficar sozinho com ela.

Sem Anthony.
Sem o senhor Collins.
Sem ele mesmo.

Só eu e Mia.
Como deve ser.

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