Capitulo 63

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- pronto, já fui sua cobaia então quero minha recompensa. Meu beijo ruiva, você está me devendo.
Ela joga os braços por cima dos meus ombros e os coloca em volta do meu pescoço, aproximando o rosto do meu. Apenas continuo a olhar para seus lábios, imaginando se ela comeu um dos seus bolinhos antes de chegar até aqui. Sorrio satisfeito só de imaginar o gosto de whisky em sua boca. Finalmente então Mia deposita os lábios sobre os meus, me dando o beijo que estava esperando desde que a vi a alguns minutos atrás. Com a mão livre rodeio sua cintura fina e delicada e a puxo mais perto, aprofundando o beijo e rezando aos céus para que tenhamos mais tempo antes do sinal tocar. Como um sinal divino o som da sirene toca, mostrando mais uma vez que a natureza nem sempre está ao meu favor e dos meu desejos.
- temos que ir amor.
Em resposta, Mia sussurra algo baixinho que eu não consigo entender antes de soltá-la e tirar seus braços de cima mim. Pego em uma das suas mãos, a levando para dentro do prédio preservado e notando a boa e velha decoração que antecede os dias de jogos. Bandeiras, cartazes e algumas coisas espalhadas pelos corredores.
- está ansioso com o jogo Andrew?
- sinceramente, não estou ansioso e sim preocupado. - ele me olha sem entender antes de parar em frente ao seu armário, abrindo o para pegar seus livros. - Os caras do outro time são violentos, tem o legado de ganhar a qualquer custo, isso inclui ossos quebrados e fraturas sérias. Meu time tem se esforçado bastante nos treinos, focado em criar jogadas que nunca fizemos antes para garantir que nenhum deles possa prever nossos movimentos. Martin tem sido bem rigoroso esses dias e eu espero que tenhamos o resultado que precisamos para sermos classificados para as semifinais. 
- Andrew, você e os meninos são tão bons que seguem invictos a dois anos, são líderes do campeonato estadual e desde o início das aulas alguns olheiras já estão de olho vocês em todos os jogos da temporada. Acha mesmo que perder um jogo seria tão prejudicial assim?
- Martin nos disse que eles são sujos, sem moral. Conheço meu time, sei que vão defender um ao outro com unhas e dentes e os Monkeys podem usar isso contra nós dentro de quadra. Provocar um Lion para que os outros caiam na pilha.
- tenho uma ideia do que poderia ajudar você e os meninos a não caírem na pilha deles, a apenas ignorarem as palavras maldosas.
- e o que seria?
- precisam esvaziar a cabeça antes do jogo, deixarem toda a raiva e ansiedade fora da quadra. Precisam relaxar um pouco, parar de pensar nas coisas ruins e focar no trabalho de vocês dentro daquele ginásio. Os Gold Lions precisam se associar mais ao nome que carregam, precisam representar a força, resistência, agilidade, voracidade e principalmente a paciência.
- acho que você quem deveria falar conosco. - rio baixo, orgulhoso da inteligência dela. - sabe muito bem usar as palavras certas.
- eu até poderia, posso ter as palavras certas amor mas você tem as palavras que o seu time precisa ouvir. É uma das responsabilidades do capitão. Sei que vai conseguir.
O sinal toca alto e estridente, me fazendo praguejar internamente por ter que me despedir da minha garota.
- vai dar tudo certo Andrew, agora tenho que ir. Eu te amo.
- também te amo ruiva.
Mia deposita um beijo rápido e singelo em meus lábios antes de fechar seu armário e correr para a sala de aula junto com todos os outros que estão no corredor. Meu celular vibra dentro do bolso frontal do jeans, fazendo com que os cabelos ruivos na multidão percam minha atenção. O número de Charlotte piscando na tela me faz franzir a testa antes de atender a sua chamada.

- é no mínimo estranho você estar me ligando a essa hora.
- eu sei que você está na escola, mas por alguma razão pensei que você não é aquele aluno exemplar que entra na sala cinco minutos antes da aula começar. - seu tom de voz me parece estranho, como se tivesse tentando mascarar alguma coisa.
- eu até poderia me sentir ofendido se não estivesse certa, mas como você está digo que sou culpado. Mas agora me diz o que está acontecendo Charlotte. Estamos com algum problema?
- não, pelo menos não ainda. Preciso saber se você vem para a empresa hoje?
- tudo isso é pra saber se vai ter minha ilustre presença hoje? - o corredor começa a ficar vazio e sim, eu preciso correr para a aula de história antes que o Sr. Smith me arrume problemas com a diretoria.
- Andrew, o assunto é sério. Preciso que você venha hoje.
Começo a caminhar com passos rápidos em direção a última sala de aula do corredor, praguejando baixo por ela parecer estar mais longe do que deveria.
- pode me adiantar alguma coisa?
- vamos ter uma reunião importante hoje com os poucos acionistas da empresa, seu pai está me cobrando desde que cheguei para garantir que você esteja . .
- ainda não entendi a gravidade disso?
- um deles quer vender sua parte na empresa e pelo que escutei por sei pai está decidido a comprar antes que qualquer banana com dinheiro consiga se enfiar na empresa. - entro na sala, não ligando muito para as reclamações do Sr. Smith e já indo na direção da última carteira disponível  no fundo da sala. - agora que você e Anthony estão fazendo parte da diretoria precisam estar presentes caso o seu pai abra as negociações para comprar as ações, basicamente vocês três precisam concordar para que a compra seja válida perante a lei. 

- Sr. Grayson, desligue a porcaria do celular na minha aula.
Afasto o aparelho da orelha, colocando meus olhos no homem repulsivo na frente da turma.
Como alguém consegue ser tão babaca?
Com os braços cruzados ele se encosta no quadro negro e continua a me encarar, os olhos escuros pela primeira vez focados em outra coisa que não seja a bunda ou os seios de alguma aluna. Diria que nesse momento, várias meninas nessa sala estão me agradecendo internamente por tirar um pouco o foco do Sr. Smith.
Apenas coloco o aparelho novamente na orelha, molhando os lábios antes de responder Charlotte, que incrivelmente ainda está na linha.

- estarei assim que possível.
- ok.

Ela encerra a ligação e eu apenas deixo o celular em cima da mesa antes de apanhar meu caderno dentro da mochila.
- se fosse o senhor não ficaria me olhando tanto, posso ficar constrangido com toda essa atenção. - digo calmamente, não entendo o porque dele estar me fuzilando com os olhos.
- só fique na sua Grayson e não me tire do sério hoje.
Sorrio sem mostrar os dentes ao dar uma piscadela em sua direção, ele rola os olhos e se vira para a lousa, começando a escrever quase ilegivelmente alguma coisa sobre a crise de 2007. Apanho o celular novamente, digitando uma mensagem rápida para Mia.

Preciso ir na empresa hoje depois que sairmos daqui, mas passo mais tarde na sua casa para conversarmos.
Eu te amo.
Andrew G.

Não demora muito para que ela me responda.

Tudo bem, deixarei a janela aberta.
Também te amo amor.
Ruiva ❤️.

Enfio o celular no bolso frontal da mochila logo após pegar alguma caneta para anotar o que conseguir entender das palavras tortas do meu professor. Não posso bombar em nenhuma matéria esse ano e eu sei que o Sr. Smith adoraria me reter em história para ser suspenso de algum jogo importante, já que o mesmo não dá a mínima para nada além de pessoas do sexo feminino que obviamente não estão interessadas nele.
Espero estar por perto quando sua máscara finalmente cair e alguém conseguir provar que todas essas meninas estão certas em sentir nojo e manter distância desse homem covarde.
Continuo anotando as poucas coisas que ele fala e que fazem sentindo dentro do assunto, apenas torno a me lembrar de como meu pai ficou desnorteado no meio dessa crise e por mais que  Anthony e eu não tivéssemos muita noção do que estava acontecendo vimos o quanto ele ficou preocupado. Lembro como se fosse ontem de ver ele e minha mãe falando com vários advogados  sobre os valores dos restaurantes ainda estavam em reforma e dos predios que estavam sendo erguidos, estavam com medo de não conseguirem reaver o dinheiro investido na bolsa de valores e acabarem tendo que abrir mão de tudo por conta das dividas que se criaram com a crise. Sei que tentavam a todo custo esconder de nós que a situação estava feia, mas sabíamos que algo não estava certo. A crise havia derrubado nossas ações em níveis nunca previstos pela contabilidade, as contas da empresa estavam quase no zero e meus pais ficavam cada vez mais preocupados com as paralisações das obras e a duvida interna que só crescia. Eu diria que apenas no começo do ano seguinte  pude ver minha familiar respirar tranquila novamente, as ações subiram de uma forma esmagadora quase que multiplicando em seis vezes o dinheiro que foi investido em todos os negócios da minha família. Levando como lição o que aconteceu, meus pais decidiram criar um fundo para cada um dos filhos com uma boa quantia em dinheiro que está seguro e fora do alcance de qualquer crise financeira. Quando completarmos vinte e cinco anos teremos acesso a ele e só cabe a nós decidir o que será feito.
Cabe a nós decidir como criar nossas vidas fora das asas dos nossos pais. 

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