Tudo se ajeita

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Um mês depois, era hora de encarar a realidade da audiência. As esperanças eram de que, pelo menos dessa vez, um acordo fosse aceito. Mas não foi preciso. Todo nosso trabalho e esforço tinha valido a pena. Hugo tinha a guarda de Arthur de volta e os avós o direito de visitar. 

Não perdemos a chance de fazer uma festa de aniversário de um ano para o Arthur, mesmo tendo passado algum tempo desde o aniversário dele. De quebra, dividiria o aniversário com ele, porque o meu estava chegando. Mas é claro que a estrela ali não seria eu.  

Por respeito, convidamos os avós maternos pra ficarem na festa, quando foram levar Arthur de volta a São Paulo. Eles recusaram de maneira mal educada e foram embora. Aquilo me fez refletir sobre o amor deles como avós. Será que realmente se importavam com Arthur?

Enquanto eu e Hugo preparávamos o salão, Bruna e Ramón davam banho e trocavam Arthur. De onde eu estava, eu pude ouvir seu choro. 

— O Arthur tá chorando, eu acho. — Falei. 

— É bom pra Bruna e pro Ramón irem se acostumando. — Hugo respondeu e nós rimos.

— É, mas esse filho é seu. Vai lá olhar...

— Não é só meu. É seu também. 

Não respondi nada. Meu coração esquentou naquele momento e meus olhos ficaram marejados. Continuei amarrando as bexigas, e depois de um tempo continuei:

— Meu também...?

— É claro que é. Você me ajudou a criar ele quando a gente mais precisou, Rafa. E ajudou até quando ele não tava com a gente. Você é tão pai quanto eu. 

— Hugo... 

— Tá, eu te assustei. Não tô jogando mais responsabilidade sobre você. Mas a gente tá morando junto, a gente namora, o Arthur vai morar com a gente...

— Não, você não me assustou. — A emoção tomava conta de mim. — Pelo contrário. Ouvir que eu sou pai dele... Me faz a pessoa mais feliz do mundo.

Hugo parou o que estava fazendo e me deu um abraço. 

— Ele é nosso filho, Rafa. Ele nunca vai deixar de ser filho da Gi, mas não quer dizer que ele também não possa ser seu filho. Você tá aqui por ele e por mim. Isso é família. Podem falar e pensar o que quiserem. "Nossa, tão novos" ou "Nossa, acabaram de começar a namorar e já tão falando que o menino é filho dos dois". Eu não me importo, cara. Você foi e é mais pai que muita gente por aí. Então eu quero fazer isso. Eu quero criar o Arthur com você se você quiser.

— Eu quero, eu quero muito!  — Hugo me deu um beijo na testa.

— Pode começar agora. Você vai lá ver por que ele tá chorando e eu fico amarrando essas bexigas. 

Eu ri com lágrimas nos olhos e fui. 

Além dos amigos, nós tínhamos convidado a família da Bruna e alguns poucos vizinhos do condomínio onde morávamos, que tinham colaborado de alguma forma com nossa mudança ou com quem a gente tinha alguma afinidade. Algumas pessoas do trabalho apareceram, incluindo Viviane. Convidamos meus pais, também. Rosane apareceu de surpresa, depois de dizer que talvez não pudesse ir. 

Meus pais se aproximaram de Hugo, que estava com Arthur no colo, e nesse momento fui na direção deles pra poder cumprimenta-los. Me enchia de alegria ver os dois ali, depois de tudo o que a gente tinha passado. 

— Oi mãe, oi pai. 

Eles me abraçaram e brincaram com Arthur. 

— Que lindo que ele está! — Minha mãe comentou, dando os braços na direção de Arthur, que não pensou duas vezes em ir. Meu pai fazia gracinhas pra ele e ele ria de uma forma gostosa.

— O neto de vocês já ama vocês. — Hugo comentou propositalmente. 

Meus pais olharam pra mim e para o Hugo. Olharam para o Arthur, que puxava o brinco da minha mãe. Olharam de novo pra nós dois. Os olhos da vovó coruja se encheram de lágrimas e ela deu um abraço apertado em Arthur.  Bruna tirou uma foto de nós cinco e depois do Arthur com os seus mais novos avós. Eu juro que queria morar pra sempre naquele momento. 

Não terminando por ali, minha mãe me surpreendeu ao enviar um comprovante de transferência pelo whatsapp, que retornava pra mim tudo o que eu tinha pago em relação aos serviços que ela havia prestado como advogada de Hugo. Quando tentei agradecer, ela apenas fez que não com a cabeça, como se não precisasse. Mas dei um abraço apertado nela e, novamente, Bruna com seu timing certeiro tirou uma foto nossa. 

Algumas horas depois de festa, o fato de não ter muitas crianças por ali fez com que a gente trocasse as músicas infantis por algumas mais próximas da nossa idade. Mas é claro que os mais velhos queriam ser contemplados, também. Não demorou até que todos fossem arrastados pra pista do salão, dançando músicas de uma época bem distante. 

Foi um momento divertido e feliz. As coisas pareciam começar a se ajeitar e a sensação era indescritível. 

Amor de Areia (Romance LGBT)Where stories live. Discover now