Capítulo 31

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Narrado por Ricardo

Hoje faz 1 ano que eu perdi meu  coração, sem a Tina eu não sou ninguém, só estou sobrevivendo.
Há exatos 365 dias, um homem, que estava com grandes problemas depressivos, fez uma carta de amor para Tina, sim ele era apaixonado por ela, a polícia encontrou recortes de jornais e revistas em toda a casa dele, ele acompanhava ela desde o início da carreira. Na carta que ele entregou para ela no restaurante tinha projetos de vida para os 2 juntos, ele por algum motivo ignorava minha existência, ele tinha certeza que ela iria ficar com ele. Quando ela saiu do restaurante sem a pasta ele se sentiu traído, menosprezado, abandonado, rejeitado e foi atrás dela. Como ele tinha uma arma? Ninguém soube explicar, ele não tinha família, assim como a Tina a família morreu num acidente de carro, então acharam que esse foi a forma que ele achava que era feito pra ela, que eles tinham muito em comum, ele se matou depois de atirar nela.
E eu? Desde que tudo aconteceu, minha vida apenas existe, vendi toda minha marca de moda, não faz sentido mais trabalhar com isso. Me dedico a fundação da Tina, as academias e a terapia, que faço 3x por semana.
Alberto se culpou por muito tempo, hoje ele se dedica 24h aos treinos, nunca mais pegou outro lutador, só faz consultoria, mesmo depois do divórcio, a esposa não aguentou ele e sua culpa, ele não faz outra coisa a não ser cuidar da academia.
Vanessa teve 2 meninos gêmeos, foi o escape dela, engravidou logo após a morte da Tina, um dos meninos se chama Cristiano o outro Tino. Os 2 em homenagem a nossa Cristina, minha Tina.
Meus pais e irmãos me ligaram hoje, para saber como estou, estou bem, se viver assim é bem.
Tina foi cremada, as cinzas dela serão jogadas hoje na arena, comprei uma e coloquei o nome dela, embaixo do octógono fiz um canto para ela. Ela precisa está ali onde se sente bem, ela precisa está em casa.

20 anos depois...

Ainda me lembro dela, ainda sinto o cheiro dela quando tomo banho de banheira, ainda escuto o barulho das rodas da cadeira dela pela casa, que é a mesma adaptada para ela, ainda não consigo assistir uma luta ou entrar na fundação, que hoje é reconhecida mundialmente.
Ainda tenho a Tina entranhada em mim. Me casei, foi a pior besteira que fiz, minha ex- mulher não mereceu a vida que lhe dei, foram 6 anos de um homem marcado, tentando achar nela a minha Tina, eu nunca conseguiria. Mas ela me deu uma Tina, sim, tive uma filha, o nome seria outro, mas registrei Tina sem a mãe querer, desse dia em diante nossas vidas se tornaram um inferno.
Eu não deveria ter feito isso com ela, esse fardo é meu, não podia ter dividido.
Agora estou numa cama de hospital, câncer de pulmão, comecei a fumar 1 ano após a morte da minha Tina , sempre odiei cigarro, mas ele se mostrou meu companheiro de solidão. Parei a terapia 2 anos depois, eu não queria sair dessa, não queria seguir vida, fiz outra pessoa sofrer. Mas o câncer apareceu e sinceramente foi um alívio, só não queria fazer minha filha sofrer, ela vem me vê todos os dias, e chora porque quer que eu vá na formatura dela de nível médio. Não sei se será possível, se tiro o oxigênio para ir ao banheiro, parece que corri uma maratona. Não seria legal isso em uma escola.
Vanessa se tornou minha irmã, veio me vê várias vezes, com e sem os meninos que agora são 2 homens universitários.
Alberto faleceu 3 anos após a Tina, a culpa o corroeu até infartar dentro da academia.
E eu estou aqui, esperando a minha morte. Minha filha tem um padrasto ótimo, meus irmãos vão cuidar dela também, meu sofrimento será melhor longe dela.
Sei que parece estranho mais me sinto como se tivesse me preparando para uma viagem, onde vou encontrar a Tina. Não acredito nessas coisas, mas é onde posso me apegar.
Já são 2h da manhã e resolvo ir ao banheiro, volto ofegante e na hora que me deito na cama, não pego a mascara, fico sentindo meus pulmões tentando puxar o ar que não vem. Conto até 10 e a última coisa que vejo e a Tina, sem cadeira, do mesmo jeito do nosso primeiro passeio de barco, de saída de praia branca, cabelos soltos, descalça e em pé na areia da praia, o sol se pondo ao fundo. Ela me estende a mão e diz

-Vem meu Ricardo!

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⏰ Última atualização: Sep 16, 2019 ⏰

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