Capítulo 20

159 21 2
                                    

Assim que estaciono já percebo as mudanças, tem um letreiro enorme escrito " TORPEDO'S" o antigo Gym descascado desapareceu. Saio do carro e vejo que tem demarcações entre os veículos, para passagem das cadeiras de rodas, tem uma rampa no lugar da antiga escadinha de 3 degraus, na entrada uma recepção com uma moça muito simpática, antes só o Tony ficava ali, um segurança que dormia na porta. Ela me olha:
-Olá, posso ajudar?
-O Alberto está? Pergunto sem parar de olhar o espaço, assim que falo o nome dele ele vem em minha direção, me abraça e me conduz para atrás de um vidro espelhado. Solto um "uau!" e ele pergunta "gostou?" fico sem palavras um momento, tudo mudou, os aparelhos, esteiras, sacos de areia e principalmente o tatame, tudo planejado e adaptado para um cadeirante, e temos vários treinando, inclusive professores também.
- Como você fez tudo isso, e pra que?
Pergunto sem olha para ele.
-Você me abriu os olhos para um nicho que não era explorado, eu apenas comprei a ideia de um investidor.
Pensei que o tal investidor deveria ter muito investimento, fez tudo em meses...
- Gostou mesmo? Alberto pergunta
-Claro, adorei! Da até vontade de voltar. Falo sorrindo.
- Quero que volte, quero ajudar a sua melhora, sua qualidade de vida.
- Alberto você sabe que não volto a andar nunca mais..
- Eu sei, eu sei, mas vc pode ter qualidade de vida, vc pode ter um hobby, válvula de escape e o principal pode melhorar os músculos para ajudar na sua mobilidade. Temos fisioterapeutas todos os dias, eles avaliam e acompanham o treino, vi muitas melhoras aqui, em meses...
Me pego pensando em realmente aceitar a proposta. Ainda não consigo me imaginar malhando.. Mas não posso manter esse ritmo de vida que estou agora..
- Eu volto, com uma condição? Falo sorrindo, "na verdade, 2 condições"
-Diga.
-Quero vc me treinando.
- não imaginei o contrario. Ele diz sorrindo.
- Quero investir também, isso está o máximo.
Ele solta uma gargalhada alta que chama atenção de todos, passamos a manhã na academia, ele me mostra todos os aparelhos, funcionários, até o segundo andar onde ficou uma academia "normal" com os antigos alunos. Deu autógrafos, tirei fotos, a muito tempo não fazia isso, normalmente fugia ou dizia não está bem no momento. Mas ali, com meu eterno treinador, me senti voltando pra casa.
Já passava das 15h quando cheguei em casa, almocei com meu fisioterapeuta e com meu técnico e combinamos de fazer algumas avaliações daqui a 2 dias, ainda quero terminar minha obra antes de entrar de cabeça na malhação, porque não quero nada me atrapalhando.
Fiz uma lista de compras com a Edna, vou voltar a me alimentar melhor, e ouvi um " Já tava na hora!" da minha governanta foi engraçado. Ela me olhou e continuou " na entrevista me falaram que a alimentação daqui era regrada, mas não tinha nada disso até agora" tive que concordar, eu estava muito desleixada comigo, não comia direito, pulava refeições, comia besteira... Enfim, um caos...
Fui acompanhar o termino da obra da cozinha e estava praticamente no final, estavam limpando e recolocando a louça nos lugares, "amanhã a senhora já janta na sua cozinha nova" disse um funcionário.
O dia estava no fim e resolvi tomar um banho de banheira, Edna me ajudou a entrar e me deixou sozinha, passou 10min ela trouxe o celular
"Dona Vanessa no telefone" atendi com muita alegria
"Oi amigaaa!"
- fico tão feliz em te ouvi assim! Como vc está? Sentiu minha falta...
Deixei ela contar sobre todos os passeio e lugares que ela fez em 2 dias. Eu realmente queria saber, não estava no automático como faço normalmente.
- E você? Novidades? Ela pergunta
Eu aproveito e conto tudo da obra, e depois falo da academia nova do Alberto, conto detalhes dos aparelhos, da mobilidade, fisioterapia e falo da minha vontade em investir
-Oh você vai fazer um ótimo negócio. O Rick fez um excelente trabalho ali.
-Rick? Ricardo? Ele é o investidor.
-Ops! O Alberto não contou? Enfim. O Ricardo que teve essa ideia, mas ele não tem now know de academia, então eu dei a dica do Alberto, eles são sócios e estão de vento em popa.
Diante do meu silêncio ela diz
-Tininha, vc tá ai?
- Estou
- Não vai ficar chateada, o Rick não queria se meter na sua vida nem nada..
- Não pensei nisso.
-Não, o que vc pensou?
- Pensei que em meio a tudo que passei, em sempre que peço pra ele ir embora. Ele ainda pensa em mim, assim!
- Tina, ele gosta muito de você. Sei que vc se acha inferior as modelos que ele trabalha, depois do acidente então. Enfim, já falamos disso, mas ele vê em você algo que não vê nas outras... Seja só amiga, sei que é difícil, mas sei que não acredita, mas ele ta sofrendo muito, de verdade..
- Nisso ela pede pra desligar e que retorna depois.
Desligou e fico olhando a parede e ouvindo a voz da minha amiga..
"Ele tá sofrendo muito, de verdade"
Penso o quanto também estou sofrendo, e pq fazer as coisas assim serem difíceis, lembro de uma frase da terapia de grupo
" Você não pode mudar o que aconteceu, você pode dá um novo recomeço "
Pego o celular e ligo para o Ricardo. O telefone toca 2x e cai na caixa postal.
Coloco o celular na pia e termino meu banho, sem parar de pensar que posso sim dá uma oportunidade para nós, estou sofrendo, ele tbm. Porque não somos amigos? podemos conversar, jantar, eu quero ele feliz, não consigo imagina vê ele sofrendo, e saber que a culpa é minha! Não posso deixar. Mesmo que eu sofra vendo ele com outra, prefiro isso a vê ele sofrer.
Estou chorando na minha cama, quando meu telefone toca.
-Alô!
-Tina, você me ligou? Esta chorando? Está tudo bem?
Eu só consigo dizer
"Preciso de você feliz"
Ele só responde " calma, estou indo pra ai"

Luta de sensaçõesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora