Capítulo 3

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Assim que cheguei na recepção do prédio, ele me pegou pela mão e me levou para o lado do passageiro, fechando a porta do carro.
Fomos em silêncio até um restaurante, gostava desse nosso método de comunicação, sem forçar, sem pressão, apenas a gente se conhecendo sem som.

Chegamos num restaurante a beira mar, ele reservou uma mesa na areia, tiramos os sapatos e fomos de mãos dadas até nosso lugar. Ricardo escolheu um vinho português tinto maravilhoso e aceitei a sugestão do garçom e pedi bacalhau como prato principal, falamos sobre o clima, sobre o tempo e chegamos a parte família, ele me disse que era de uma família de 3 irmãos, os país moravam numa fazenda mas viviam passeando e viajando pelo mundo, gostavam de fazer trabalhos voluntários pelo mundo e conhecer novas culturas, ele basicamente falava mais que eu, não me perguntou sobre minha família, achei sensato da parte dele, era um momento delicado da minha vida e não queria falar sobre isso agora, iria estragar nosso clima, na verdade nunca falei disso com ninguém.

Depois do jantar resolvemos ir passear pela praia, dessa vez sem as mãos dadas,após mais de 1 hora, nos direcionamos ao carro, depois de tirar o máximo de areia possível, ele deu partida e fomos novamente em silêncio no caminho de volta. Quando chegamos no saguão virei para agradecer, mas ele já havia desligado e saído do carro, estava abrindo minha porta e me ajudando a descer, comecei a pensar que as intenções dele estavam equivocadas, ele não iria entrar no meu apartamento dessa vez, espero que ele entenda que só vai até a porta. Comecei a ficar tensa com a situação, e quando o elevador parou ele falou:
- Foi uma excelente noite
- Eu também adorei, muito obrigada. Tenho que levantar cedo amanhã.

Mas quando paro na porta e me viro, Ricardo me coloca na parede, segura meu queixo e me beija, foi tão inesperado que fico parada, sem ação, após o susto correspondo o beijo e o enlaço pelo pescoço, isso o encoraja a continuar e fico entregue aos seus lábios, não consigo fazer nada, somente viajar na sua língua e lábios, sinto seu cheiro e quando decido abrir a porta para continuarmos dentro do apartamento, não me importando com ele ser um completo desconhecido e pior, por ser nosso primeiro encontro, ele para, me olha nos olhos, beija minha testa e diz:

-Boa noite.
Pega o elevador e me deixa ali, plantada na porta, ainda sentindo o cheiro dele nas minhas roupas e o gosto nos meus lábios.

No dia seguinte, acordei com o toque do interfone alto e estridente. Não estava esperando visita, assim que cheguei na sala, sabia quem era, Vanessa gritava:

-Tina! Abre a portaaaa!
Abri com o meu cabelo desalinhado e suspirei...
-Oi?
-Como você pôde ter saído na festa com Ricardo Maestrini. E não me falar nada?
-Não deu tempo, foi muito rápido, na verdade ele me salvou, mas como você ficou sabendo?
-Vinícius! Ele viu tudo e se achou no direito de me esconder.. Mas me conta?
-Contar o que?
-Como foi?
-Estava meio alta ele só me trouxe em casa e me deixou na cama e...
- Como assim na cama?
-Não é nada disso. Acordei vestida.

Falo isso tomando um grande gole de água

-Ele só te deixou e saiu? Vejo o rosto frustado da minha amiga, sempre querendo me envolver num romance quente como o dela, resolvo contar tudo...
-Tem mais coisa.

O olhar dela brilha

-Ele dormiu no sofá. Nisso ela quica, como se tivesse sentado nele sem querer e corre para a poltrona.
-E saímos ontem para jantar
Vejo a sombra se formando no rosto da Vanessa, a mesma que ela fica quando resolve me levar na manicure. Espero ela tomar fôlego e disparo
-Nos beijamos na porta do apartamento.
Não demora 10 segundos para ela começar a pular feito louca, só vejo os cabelos muito loiros, quase brancos, em movimento, e os braços para o ar.
-Ele vai te ligar? Marcaram um novo jantar?
Nessa hora percebo com uma pontada de tristeza que não dei meu telefone a ele, minha amiga loura percebe e me acalma:
-Relaxa, ele sabe onde você mora e um cara com os conhecimentos dele não é difícil te encontrar.
-Que conhecimentos? O que ele faz exatamente?
-Amiga, ele foi modelo anos e agora fez um império da moda, hoje ele é empresário, tem participação em várias grifes, tem uma agência de modelos, está entre as 5 maiores homens fashion do mundo..
Percebo que ele é de um mundo diferente do meu, minha carreira envolve empenho e disciplina, beleza nunca é lembrada. Ele tem um mundo clamoroso com modelos lindas e perfeitas..
-Sei o que você está pensando!
-Virou vidente?
-Você está se imaginando feia, e que as modelos que ele conhece são muito melhores que você.
Fiquei olhando para Vanessa imaginando quando ela começou a ler a mente. Ela continua:
- Você realmente nunca se viu no espelho como realmente é? Esses cabelos brilhantes que nenhum salão consegue igual, olhos azuis, essa barriga chapada, bunda, seios... Qual e? Você compete com elas em igualdade, na verdade você tem atributos que elas não tem.
Sei que ela estava melhorando minha auto-estima, meu treinador fazia isso antes das lutas, conheço a tática, mas nunca seria igual, nunca vou me comparar aquelas modelos de corpo magro...

-Bom, vamos fazer o que?

Olho para ela e disparo

-Fazer o que? não farei nada, ficarei quietinha no meu canto, na verdade agora quero comer algo, só isso.

Ela se interessa pelo cardápio de comida japonesa, enquanto tomo um banho e passamos a tarde comendo e vendo series, como sempre fazemos desde a nossa adolescência, não falamos mais de "Ricardo" naquela tarde, ela sabe que me pressionar não ajuda, mas antes de sair ela comenta na porta

- Relaxa, tenho certeza que ele volta.

Me dá um abraço e sai pelas escadas, fecho a porta pensando o que faz ela achar que estou tensa com isso. Mas o assunto realmente não sai da minha cabeça, durante toda a tarde, me sinto tão acordada que resolvo correr, troco de roupa, pego o celular e as chaves e saio de casa.

Depois de 2 horas estou chegando no prédio e sinto meu telefone vibrar, um número desconhecido aparece.

-Alo!

-Sra. Cristina?

-Sim

-Um momento que vou transferir a ligação

Fico andando até chegar em casa com o celular na mão e esperando alguém me atender.

Assim que entro na sala escuto uma voz grossa e sedutora.

-Oi Tina! Você está bem?

Sinto a falta de forças nas pernas e me sento, sem saber o que dizer apenas digo:

-Oi Ricardo! Estou bem, e vc?

Ele fica em silencio por um tempo e diz :

-Quero te vê? na verdade queria jantar com você, mas estou a algumas horas tentando falar com você e você não atendia, achei que tinha acontecido algo.

Nesse momento, olho para a tela e vejo que tenho algumas ligações não atendidas..

-Me desculpe, eu fui correr e não ouvir tocando. Mas está com pouco tarde..

-Eu sei, desculpa

Antes que ele desistisse eu falei

-Eu não comi nada, estou faminta e podíamos pedir algo e conversar, se você não se importa

- Claro, estarei aí em 30 minutos eu levo o jantar.

Desligou e eu fiquei ali, parada sem ação, ainda ouvindo a voz dele dizendo "Preciso te vê".


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