Capítulo 62 -"Luta ou fuga"

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"Você não vai mais conseguir lutar..."

  Acordei num sobressalto, sentindo-me ofegante devido ao sonho ruim que acabara de ter, mais uma noite meu cerebro me obrigou à reviver as cenas daquele dia.
   Sentada na cama, olhei pela janela do quarto sem conseguir conter a minha frustação, já faz seis meses que sai daquele hospital com essa notícia nos ombros. No inicio, tentei realmente voltar à lutar, não queria desistir tão fácil de algo que significa tanto pra mim. Convenci Alfie a me treinar, nós criamos uma rotina de lutas matinais que se tornaram impossíveis pra mim cumprir.
    Meu cerebro sabia exatamente o que precisava fazer, mas o meu corpo simplesmente não obedecia aos meus comandos e não conseguia desviar dos socos. Meus reflexos já eram. Qualquer movimento brusco gerava tontura: abaixar, levantar, rodar, subir escadas, ou simplesmente virar a cabeça rápido demais.
    Procurei diversos especialitas na área, buscando alguma solução para o meu problema, mas todos eles deram o mesmo diagnóstico: crônico. A partir daí, as coisas pra mim ficaram piores. Simplesmente não conseguia acreditar que isso tinha acontecido comigo, que não poderia mais lutar, e embarquei na onda de brigas. Saia de noite, tentando arrumar alguma briga, na esperança que meu corpo milagrosamente reagisse e voltasse ao normal. Apanhei muito, e por sorte minha situação não piorou, tudo graças ao Alfie que conseguiu chegar bem à tempo.
   Depois disso, me afastei da minha familia, estava num processo de alto destruição tóxico demais para elas. Alfie até tentou impedir, dizendo que queria estar comigo nesse processo, que jamais me abandonaria numa situação dessas. Mas não dei ouvidos, preferindo que eles não fossem obrigados à me ver assim.
  Não sou mais nem a sombra do que  fui, não consigo nem desviar de um mísero soco e o pior é que não posso nem me vingar...prender os homens que fizeram isso...minha única solução é deixar que outras pessoas resolvam isso por mim. Mexer com a mafia sem saber ao menos se defender é suicídio. Pelo menos, ainda tinha minha mira intacta, esse era o meu único consolo.
    Tomo duas doses do remédio para labirintite em cima da mesa da cozinha, e engulo ao seco. Aluguei um apartamento no centro da cidade.

-Alô? -digo, atendendo ao telefone assim que ouvi ele vibrar.

-Nat? Bom dia!

-Bom dia, Kansas. Está tudo bem com as crianças? -forço uma animação inexistente.

      Nós não estamos separados, como disse, apenas preferi manter distância. É um pouco difícil fingir o tempo todo que estou bem para não preocupar as pessoas que me cercam.

-Não. Só queria saber como você está, dormiu bem?

-Sim. -minto. -Melhor do que nunca!

-Quando vai voltar pra casa?

     Suspiro. Ele sempre faz a mesma pergunta, e sempre respondo a mesma coisa:

-Em breve.

-Quer almoçar junto hoje? Só nós dois?

-E as crianças? -estranho.

-Natalia e Aidan vão ficar na escola até mais tarde. A Alisson está na casa da Katye, e acabei de voltar com a Jessica do hospital, ela foi visitar a mãe...

-Como ela está?

-Péssima...quase não fala...o pior de tudo é saber que a garota é tão inteligente, que provavelmente entende tudo o que está acontecendo...ela é muito nova pra passar por isso.

-Quanto tempo acha que a Maddie tem?

-Não sei...-admite. -Mas acredito que não seja muito... ela está realmente muito fraca.

    Bufo.

-Se vamos almoçar juntos, o que vai fazer com a Jessica?

-Ela nem fala.

Agente Morgan 5Onde as histórias ganham vida. Descobre agora