Prólogo

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Era uma tarde de outono e eu estava sentada em um banquinho no meio da praça. Sua imaginação pode te levar a imaginar muitas árvores e tapetes naturais a sua volta, formados por folhas que caíram e foram levadas pelo vento. Mas, na realidade, estava quente. Muito quente. No Rio de Janeiro não faz muita diferença qual estação do ano é, sempre estará quente.

Eu suava por conta do calor, mas isso não me incomodava, pelo contrário, eu estava tentando me livrar do que eu estava sentindo, do sentimento de impotência que brotava dentro de mim. No início estava dando certo, olhando para as pessoas felizes caminhando, famílias se encontrando, se abraçando, se beijando... E desejando isso pra mim. Mas, logo voltei à realidade, e, ao perceber o quão suada eu estava, senti raiva. Se já não bastasse tudo que estava acontecendo eu ainda estava toda molhada de suor. Levantei do banco e fui pra casa.

Ao chegar em casa, como imaginei, o ambiente não estava muito melhor. Minha irmã corria de um lado para o outro, tentando de todas as formas possíveis encontrar alguma forma de contornar a situação. Eu, entretanto, tinha uma solução na palma de minhas mãos, mas não contaria a ela, pois ela jamais concordaria comigo. Aquilo estava me corroendo, pois eu sabia que se dissesse sim tudo mudaria pra melhor. Só não sabia se esse melhor chegaria pra mim.

Entrei no meu quarto e me joguei na minha cama. Olhando para o teto tentei refletir mais um pouco sobre a situação e como eu poderia ajudar. Fechei meus olhos e busquei, por meio da minha imaginação, criar a situação e comecei a chorar. Não era daquela forma que eu queria que as coisas acontecessem. Não foi assim que eu imaginei que minha vida seria. Mas se eu não o fizesse, eu viveria remoendo a culpa por não ter tentado.

Peguei meu telefone e fiz a ligação. Nos encontraríamos em 2 horas na mesma praça que eu estava minutos atrás. Respirei fundo e fui em direção ao banheiro. Ao entrar, tranquei a porta e ao encostar minha testa na porta falei "você está fazendo o que é certo". Virei-me e ao me ver no espelho percebi o quão mal eu estava. Olheiras profundas marcavam meu rosto, meus cabelos estavam opacos e eu estava extremamente pálida.

Pensei nas pessoas que me viram daquela forma e o que elas pensaram de mim. Será que elas conseguiam imaginar pelo o que eu estava passando? Acho que não. Respirei fundo mais uma vez e tomei meu banho. Coloquei uma roupa confortável e que me permitisse sair sem parecer a sem vida de antes. Tentei sorrir ao me olhar no espelho, mas era impossível. Fui para a cozinha e dei de cara com a mina irmã.

- Eu entrei em contato com o meu gerente do banco. Ele vai tentar aumentar minha margem pra conseguir um empréstimo maior. Disse que não pode me dar 100% de certeza que vai conseguir, mas eu tenho fé que ele vai – falou tentando transparecer confiança e me oferecendo um sorriso forçado.

Eu não podia contar a ela o que eu ia fazer. Que ela não precisaria mais fazer aquele empréstimo e se afundar em dívidas. A única coisa que pude fazer foi pegar em suas mãos e dizer que tudo ficaria bem, que tudo daria certo.

Comi uma maçã, escovei meus dentes e saí. Era cedo ainda, mas eu não conseguiria ficar mais tempo em casa vendo o desespero da minha irmã. Aquilo precisava acabar, e iria acabar. Caminhei pela praça, sentindo a brisa fresca da noite em minha pele, o que por uns minutos me fez sentir um pouco melhor. Parei próxima a uma árvore que me remetia inúmeras lembranças da infância, inspirei e soltei o ar devagar, tentando evitar as lágrimas. Dei meia volta e sentei em um banco próximo. Tinha uma senhora nele, e ao perceber como eu estava notei que ela ficou em uma indecisão de me perguntar se estava tudo bem ou ignorar. No fim das contas ela se levantou e saiu.

Passei as mãos pelo meu rosto e olhei para o céu, tentei imaginar se Deus estaria orgulhoso ou furioso comigo. Passei alguns minutos assim e não percebi quando ele chegou e se sentou ao meu lado. Só notei sua presença quando ele tocou em meu ombro e disse:

- Vitória?

Me esquivei com o susto, e logo em seguida pedi desculpas, expliquei que estava distraída. E ele, como sempre, compreensivo, disse que estava tudo bem. Passamos alguns minutos em silêncio e finalmente tomei coragem e comuniquei minha decisão:

- Eu aceito – disse olhando para o chão. Respirei fundo, levantei o rosto e olhei em seus olhos – Eu aceito sua proposta. Você me dá o dinheiro necessário pra pagar o tratamento da minha mãe e eu tenho um filho seu.

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