Arco de primaveras

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Era uma vez, em um brilhante dia em mil oitocentos e trinta e um, poucos dias antes da abdicação de Dom Pedro I e a instauração do Período Regencial onde um trio de homens governaria em lugar de Dom Pedro II que então contava os cinco anos de idade, um casamento entre um marquês e a filha de um conde.

Nenhuma das famílias sairia do Brasil e iria para Portugal em razão do retorno do Imperador, pois ambas tinham ideais políticos que se alinhavam com a nova fase do Império.

Sob um grande arco colorido de flores primaveras, no final de um caramanchão coberto por trepadeiras, e longo o bastante para acomodar todos os convidados, estava o noivo frente ao altar. Sorria largamente, pois a alegria não cabia em si. Nervoso, olhava para os rostos de amigos e família enquanto esperava a entrada de Sorte.

Logo ela apareceu antecedida por um séquito de crianças que jogavam pétalas sobre um grande tapete de cor verde. Conduzida pelo irmão, Sorte sorria emocionada. O vestido era de renda branca, com mangas longas, ombros à mostra e saia armada. Tinha bordado de pérolas em todo o corpete e detalhes em dourado que brilhavam sob a luz do sol. Em mãos, levava um buquê de rosas vermelhas e cor de rosa.

O cabelo, arrumado em um coque com cachos, tinha como grinalda uma tiara de pedras esmeraldas digna de uma princesa na qual estava preso um longo véu.

Azarado, com face abobalhada de amor, recebeu a noiva ao som de um quarteto de cordas. Mal podia acreditar que depois de tudo conseguiriam se unir em matrimônio. Ouviram as palavras em latim como se padre Antoine cantasse a mais bela música de todo o planeta e quando fizeram os votos, foram envoltos por uma densa nuvem de felicidade que fazia tudo parecer irreal. Sorte ficara com o anel da marquesa, como Bianca quisera.

Depois da cerimônia seguiram-se as comemorações de praxe e uma grande festa, da qual os noivos retiraram antes do final. Foram para os aposentos novos, de marquês e marquesa.

Sorte, sentada na cama coberta de pétalas de mesma cor do buquê, suspirou.

— Finalmente. — Desabafou.

Azarado, encostado no guarda roupas e de braços cruzados, sorriu.

— Estava com pressa? — Perguntou com malícia enquanto os olhos brilhavam.

— Sim. — Ela respondeu sem e dar conta do duplo sentido. — Este vestido é demasiado quente.

Azarado abafou o riso frente à inocência dela. Sim, ele a respeitara. Ela não deu passos além de beijos durante aquele tempo, ele também não fez esforço para conseguir mais que isso.

— Esta roupa também é. — Ele acenou frente o próprio corpo.

— Ora, tire-a então. — Sorte falou. E os olhos dele brilharam selvagens.

— Seu desejo é uma ordem, mas primeiro...

Azarado saiu de onde estava e andou até Sorte. Curvou-se e a beijou com ousadia. Ela respirou ofegante. Quando notou, já puxava o homem pela nuca na própria direção. Ele se soltou dela e posicionou as mãos da mulher sobre o próprio colo.

— Ainda não. Espere eu tirar minha roupa. — Respondeu enquanto ela observava com o coração acelerado.

— Mas... — Ele tapou os lábios dela com o indicador e piscou apenas com o olho esquerdo.

— Sou muito obediente, esposa. — Sussurrou ao pé do ouvido dela com a voz rouca, depois passou a ponta da língua no lóbulo enfeitado por um brinco e soprou.
Sorte ficou toda arrepiada e tremeu.

Azarado ergueu um cacho do cabelo da esposa que tapava uma cicatriz do acidente. Ficava bem acima da sobrancelha esquerda e tinha cerca de três centímetros de comprimento. Ela tinha sensibilidade ali e foi por isso que ele beijou. Ela tremeu outra vez.

Sorte tentou levar a mão até os botões da roupa dele, mas o homem as segurou e as voltou para sobre o colo dela onde as tinha colocado anteriormente.

— Nem pense... Você foi clara. Eu devo tirar minha roupa. — Disse olhando no fundo dos olhos da esposa. Depois a beijou novamente.

Segurava as laterais do rosto dela com ambas as mãos. Soltou a cabeça dela e se afastou um pouco. Sentia o membro rijo dentro dos limites da roupa, mas iria em frente com o jogo.

Tirou o véu da tiara, o dobrou e colocou sobre o criado mudo. Ela dava sinais de impaciência, pois batia o pé nervosamente. O homem sorriu quando estava de costas, sabia que a noite seria boa.

Sorte, com o coração acelerado, queria jogá-lo sobre a cama e arrancar a força aquela roupa de noivo, mas tinha curiosidade de saber até onde ele iria.

Azarado tirou a tiara e colocou sobre o véu. Depois tirou todas as presilhas de cabelo e colocou dentro do arco da tiara. Os cachos castanhos penderam sobre os ombros quando ela balançou a cabeça. O marquês extraiu as pulseiras da noiva e colocou junto às presilhas. E quando voltou, beijou as palmas das mãos de Sorte enquanto se ajoelhava.

Vagarosamente tirou uma sapatilha e depois a outra. Em seguida as meias de seda. O corpo da jovem tremia febril enquanto sentia as mãos dele deslizarem pelas coxas abaixo da saia do vestido. Quando puxou a segunda meia, Azarado propositalmente encostou o anelar na abertura da roupa íntima dela e sentiu a carne quente úmida. Ele fixou o olhar nos olhos dela, uma mecha de cabelos negros caída sobre a testa. O homem passou a língua pelos lábios enquanto piscava um olho.

Cada vez que ele piscava daquela forma, ela derretia um pouco por dentro.

Quando terminou de tirar a segunda meia, ele a colocou de pé e fez com que virasse de costas. Então tirou o fino colar de ouro que ela levava no pescoço. Desabotoou o fecho depois agarrou com os lábios o metal sobre a nuca dela e puxou devagar ao passo que a segurava firme pela cintura. Sentiu-a tremer quando o metal deslizou sobre a pele.

— Falta pouco. — Sussurrou e ela suspirou impaciente enquanto ele ia colocar a jóia dentro do arco da tiara.
Azarado voltou e desabotoou o vestido de Sorte que tinha fecho nas costas.

Quando o tecido caiu no chão, Sorte se virou, o agarrou pelo pescoço e o beijou. Ávida, desmanchou o penteado perfeito do homem enquanto ele retribuía a carícia. Azarado apertou o corpo dela contra o próprio enquanto a segurava pela nuca e a beijava de uma forma que a deixava sem ar. Ela nem percebeu que ele desamarra o espartilho até que o marido se afastou bruscamente e puxou a peça. Os seios saltaram livres da pressão. A única peça que restara estava sobre o quadril.

— Deite-se e assista enquanto cumpro sua ordem. — Acenou para a cabeceira da cama enquanto deixava o espartilho cair.

Ela engatinhou sobre o colchão e ele soltou um estranho gemido rouco vendo a cena de provocação. Sorte se sentou com as costas apoiadas nos travesseiros da cabeceira e olhou para ele.

Primeiro Azarado desabotoou a casaca devagar e a abriu lentamente. Tirou a peça e jogou no chão. Depois foi a vez da gravata, o colete e por fim a camisa. Os olhos de Sorte brilharam de cobiça quando viu o tórax nu.

Ele sorriu cheio de desejo. Era aquilo que ele queria: constelações.

Azarado tirou os sapatos, as meias e ficou apenas de calças. Abriu o botão da calça e a deixou cair. Sorte tapou a boca ao ver o volume inédito, já que era sua primeira vez naquela experiência.

— Satisfeita? — Perguntou enquanto andava até a cama.

— Nem perto disso. — Ela disse manhosa ao vê-lo engatinhar até si.

Azarado se colocou sobre ela e a beijou voraz.

Sobre ainda terem sorte ou azar? Quem sabe responder, afinal? Nunca se separaram e nada muito fora da curva aconteceu depois. No fim das contas ganharam aquilo que Azarado tanto defendia e pedia internamente: um amor tranquilo, a vida sem terríveis obstáculos.

E a ironia? É sempre o destino.

Sorte e o Marquês (Donas do Império - Livro 1) [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora