Um conflito

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A festa começou como tantas outras iguais. Os convidados cumprimentaram os noivos e depois se acomodaram em cadeiras de madeira. Em pouco tempo pessoas começaram a servir a bebida e a comida.

Passado um tempo de conversas amenas e observações sobre a recepção, quando os músicos começaram a tocar e os convidados puseram-se a dançar, Sorte alcançou a mesa onde Diamantais estava com os pais e os Desfleurs. O grupo estava engajado em um debate sobre vinhos franceses versus vinhos portugueses, mas pararam de falar quando a moça se aproximou.

— Com licença, senhor e senhora Almeida. — Sorte pediu. — Preciso de um minuto a sós com seu filho, se não se não for importuno.

— De modo algum, querida. — Bianca respondeu. — Ficaremos com a companhia dos espirituosos Desfleurs. Não estou satisfeita com a opinião deles sobre bebidas.

Sorte sorriu comedidamente por fora, mas comemorou por dentro. Aquilo manteria a francesa na mesa.

— Se não houver problema, mademoiselle Olivares, reservo uma contradança com a senhorita. — Marcel falou e depois sorriu de uma maneira que fez surgir uma covinha em sua bochecha. Sorte sentiu-se desmoronar de vergonha, pois não sabia administrar a situação.

Azarado levantou-se da cadeira e a seguiu até o padre Antoine a quem Sorte pediu para usar a sala da sacristia.

Usara o noivado como justificativa para o confabulo e o padre permitiu, mas na condição de alguém ficasse na porta. Sorte escolheu Matilde. Todavia, disse para a mulher não interromper a conversa, depois ela e o irmão se acertariam.

Azarado sentiu que algo não ia bem. Sorte apresentava comportamento estranho, objetivo como ele nunca vira antes.

Ambos entraram na saleta da sacristia e Sorte deixou a porta com uma fresta aberta. Finalmente Azarado falou sobre o que observara nos últimos minutos.

— Você está diferente, Sorte. Fiz algo que a aborreceu? Acaso o problema é Clementine? — Questionou preocupado enquanto Sorte fitava o chão.

Sorte inspirou com força, reunindo coragem para falar.

Então levantou os olhos e mirou nas íris dele. Enxergou as órbitas emolduradas por uma expressão de insegurança.

— Primeiro, prometa que não vai sair desta sala antes que o assunto se encerre. E que não fará besteira de qualquer natureza. — Pediu.

— Por quê? — Ele questionou desconfiado.

— Prometa, por favor. — Sorte engoliu em seco e sentiu um aperto no peito. Sentia-se abafada.

— Eu prometo. — Disse ele, ainda mais desconfiado.

— Pois bem, você me deu sua palavra. — Afirmou com uma porção nova de tranquilidade, mas queria que ele firmasse a promessa por temer que não fosse suficiente.

— Sim, você tem minha palavra. — O marquês firmou.

— Há alguns dias, recebi a visita inesperada do senhor Desfleurs... — Azarado bufou. Sua expressão tornou-se carregada, como se adivinhasse o que viria a seguir. — Ele foi gentil, respeitoso e passamos uma tarde agradável. Eu, ele e Adália. Quando o senhor Desfleurs resolveu voltar para sua fazenda, pediu-me que o acompanhasse até o estábulo. Como fui educada para ser solícita com as pessoas, aceitei o pedido.

Sorte analisou Azarado que estava com o olhar fixo nela, quase não piscava, e tinha o maxilar trincado em antecipação.

— Quando eu o levava ao cavalo, tropecei e quase caí. No entanto, os reflexos dele foram mais rápidos de modo que Marcel me puxou contra si, evitando que eu quedasse e batesse o rosto contra uma pedra. — Sorte inspirou e expirou profundamente. — Eu não sei como, mas o ar ficou diferente e ele me beijou.

Sorte e o Marquês (Donas do Império - Livro 1) [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now