— Ofélia. — Sorte chamou a amiga pela segunda vez.
— Sim? — Ofélia respondeu perdida.
— O senhor Desfleurs quer provar das bebidas que temos por aqui. — Sorte falou. O olhar de Marcel passeava entre ambas que eram quase da altura dele.
Ofélia abriu os abriu bem os olhos e deu um sorriso brilhante, arteiro até.
— Já conhece Leite de Onça, senhor Desfleurs? — Perguntou matreira para o rapaz que a fitou com curiosidade.
— “Nón”. — Respondeu.
Sorte pensou que o sotaque dele era bem menos intenso que o da irmã.
— Então conhecerá! — A jovem Olivares exclamou e riu.
Ambas as moças escoltaram o jovem até as bebidas e pediram uma dose para cada. Como já sabiam o quanto a bebida era traiçoeira, saborearam devagar. O Leite de Onça é um licor feito com cachaça, leite de coco, leite de vaca e açúcar. Deliciosamente suave e doce, desce pela garganta como água. As pessoas conseguem bebê-lo em grande quantidade sem notarem que estão traçando um caminho perigoso que pode levá-los até uma calçada imunda ou uma longa temporada na latrina.
Desavisado dos efeitos da bebida, Marcel tomou mais de um litro do líquido enquanto as moças riam à larga.
— Acho que estou tonto. — Marcel comentou com as moças. O sotaque tão carregado que as palavras se embolavam. — Muito “bon” este licor. Delicioso. Fantastic!
Certamente Marcel era do tipo de pessoa a quem a bebida faria deitar nas calçadas imundas.
— Qual será a próxima “diversón”? — Perguntou alegre.
O conde e a condessa apareceram, passando por algumas pessoas que estavam no centro da rua. Pedro notou que o homem era estrangeiro e Adália ficou curiosa sobre a figura que arrancava risos espontâneos de Sorte e Ofélia.— Senhor Desfleurs, — Sorte chamou a atenção de Marcel para o casal que estava parado logo à frente — permita-me apresentar Vossa Graça o conde de Pedra Negra e sua esposa. Senhor e senhora Olivares.
Marcel flexionou o corpo em um cumprimento respeitoso.
— Monsieur e madame Pedra Negra, é um prazer conhecê-los. — Marcel disse.
— Senhor e senhora Olivares, apresento-lhes o senhor Marcel Desfleurs, um hóspede do marquês de Diamantais. — Sorte apresentou e todos trocaram cumprimentos.
— Sua estadia se estenderá por quanto tempo, senhor Desfleurs? — Adália perguntou. Notara que o homem estava um pouco ébrio.
— Depende da vontade de minha irmã, senhora. — Marcel respondeu enquanto analisava a forma bem feita da condessa.
— Ah! Tem uma irmã. — Adália observou. — Onde está? Seria uma honra conhecê-la.— Clementine seguiu com Diamantais. O marquês prometeu apresentá-la para o prêtre Antoine. — Marcel explicou.
— Entendo. — Adália respondeu.
Pedro cruzou um olhar desconfiado com a irmã. Por um instante o conde ergueu uma sobrancelha como quem desconfia de algo.
— Isso é muito providencial. Temos um assunto para tratar com o padre Antoine, é certo que conheceremos a senhorita Desfleurs. — Pedro falou de forma educada.
Adália entendeu que ele queria verificar se Azarado cumpria com a promessa que fizera ou se também levara a jovem francesa para um passeio na pracinha. Por um instante o conde passou a mão sobre a arma que trazia oculta pela roupa. O casal se retirou em busca do padre e as moças continuaram com o plano de entreter o francês.
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Sorte e o Marquês (Donas do Império - Livro 1) [CONCLUÍDO]
Historical Fiction[Romance] No interior do Império do Brasil, à altura do início do Século XIX, nasceram nobres crianças que ganharam nomes peculiares. Ele sempre teve muita sorte e ela incessantemente perseguida pelo azar. O que acontecerá quando o caminho de ambos...