Marqueses

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A viagem de carruagem foi lenta e agradável. Pela janela da carruagem a moça via as árvores que ladeavam o caminho. Muitas delas eram frutíferas e estavam carregadas. As crianças sempre faziam a festa quando as árvores se enchiam de frutos. Até mesmo ela, com suas limitações, aproveitara muito.

Certa feita o irmão a levara para colher jatobás. Ela gostava da maneira como a polpa do fruto aderia no céu da boca de modo que sempre infernizava Pedro para ir colher alguns. O conde fora ao pé de jatobá para verificar se estava seguro e concluiu que sim, ele só não contava que perto dali havia uma colméia. Salvaram-se porque Pedro era um homem atento que catara a irmã no colo e correra para longe do local.

A propriedade dos marqueses era absurda de bela. Tinha construções feitas com materiais luxuosos, importados, amplos jardins em estilo francês e inglês, e um pomar repleto de árvores frutíferas, selvagens e domésticas.

O aroma floral que passeava no ar era absurdamente agradável. E da entrada via-se um belíssimo caramanchão coberto por roseiras bem cuidadas. Sorte pensou que, se fosse a marquesa, também não teria vontade de sair daquela casa. A casa... Uma raridade de se ver. Tinha três andares e cômodos incontáveis. Estava sempre pronta para receber visitantes e sempre à disposição do Imperador, sua família e a comitiva que o acompanhava onde quer que fosse.

A marquesa raramente oferecia recepções e quando o fazia, era na casa da vila, portanto Sorte nunca vira aquela construção antes. Desceu da carruagem com o apoio do irmão e depois ficou parada enquanto embasbacada, admirava a magnitude de tudo. Claro que morava em uma casa grande e confortável em uma bela propriedade, mas a casa dos marqueses parecia um palácio no interior.

Uma senhora de cabelos crespos bem arrumados em um laço e trajando um vestido luxuoso, os recebeu.

— Sou Adelaide, a governanta. — Apresentou-se. — Os marqueses já aguardam por Vossa Graça e família.

Atipicamente, a família apresentou-se para a empregada.
Uma governanta negra era algo raro de ver, principalmente porque a maioria dos escravagistas discursava que os homens e mulheres de cor eram larápios por natureza, por isso não se podia confiar totalmente. O estômago da família era fraco para aquele tipo de discurso discriminatório e sem base empírica. Na verdade, Pedro sentia vontade de acertar um murro na cara de cada entojado que dizia aquilo, mas pelos negócios, ficava calado. Nunca concordava, apenas olhava. No entanto as pessoas entendiam que ele estava sim de acordo. Pessoas sempre entendem o que desejam entender.

Pedro já admitira para si que era escravo de seus bens. Pelo dinheiro e pelo status ele se calava diante de muitas injustiças, mas fazia desencargo de consciência ao pensar que com os mesmos bens sustentava muitas famílias.

Não estava certo, mas dormia tranquilo.

— É uma satisfação conhecê-la, senhora Adelaide. — A mulher tinha uma aliança dourada no dedo anelar da mão esquerda, por esse motivo Pedro a chamou de “senhora”. — Sou Pedro Olivares e esta é minha família, — apontou para as mulheres — Adelaide e Sorte Olivares, e, senhorita Matilde Pinhais. Preferimos que nos chame por nossos primeiros nomes, dispensamos formalidades.

— Como preferir, senhor Pedro. — A mulher respondeu enquanto fazia um gesto na direção da casa. — Os conduzirei até a sala.

Sorte observou que a mulher tinha refinamento.

Certamente estudara, assim como Matilde que aprendera a ler e escrever. Depois ela ensinou para outros que repassaram o conhecimento, sendo assim, quase todos da fazenda eram letrados. Todavia, poucos tinham o refino de uma grande senhora. Na própria sociedade local, poucas eram as senhoras que tinham algum refino real, muitas perderiam para Matilde e principalmente para Adelaide caso fossem postas em uma competição. Essa era a opinião de Sorte naquele momento.

Sorte e o Marquês (Donas do Império - Livro 1) [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now