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— Preciso sair daqui — sussurro com uma a voz trêmula e Sander se volta para mim, atento

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— Preciso sair daqui — sussurro com uma a voz trêmula e Sander se volta para mim, atento.

— Você está bem?

Eu me levanto abruptamente e mal dá tempo para que me afaste alguns passos trôpegos da multidão antes que caia de joelhos no chão e coloque para fora o resto do pouco que comera esta noite.

Os dedos que passam pela minha nuca e seguram meu cabelo na segunda onda de náusea são o indicador de que Sander me seguira até aqui. No chão de barro resta agora uma poça amarelo-esverdeada com um cheiro râncido.

Sinto os olhos do rapaz sobre mim.

— Eu sei que deveria ter dito algo... — começa.

Ergo uma mão, pedindo para que pare o discurso, enquanto mantenho a outra no chão para me apoiar. Inspiro fundo algumas vezes, tentando bloquear uma terceira onda de vômito.

— Eu entendo — me ouço pronunciar e estou surpresa comigo mesma com o fato de que estou sendo sincera. — Na verdade, eu faria o mesmo. Mesmo que eu soubesse, não haveria nada que eu pudesse fazer a respeito e não me ajudaria de forma alguma a me adaptar em Tibbutz e lutar pela cidadania.

Sander permanece em silêncio, o polegar da mão que ainda segura meu cabelo inconscientemente acaricia minha nuca.

— Mas... — continuo. — Eu não posso entender como vocês podem fazer teatro e extrair risos de algo assim. É doentio.

— O objetivo não é fazer graça por fazer. O fator de entretenimento está aí só para desarmar e ferir. E ferir para despertar — diz, os olhos sombrios e uma curva saliente no canto dos lábios.

Aparentemente, Sander quase sempre está tentando conter um sorriso, mesmo quando fala de coisas tão sérias.

Expiro e relaxo. Com um impulso, me empurro para trás, fazendo com que eu sente no chão de barro ao lado da poça de vômito.

— É assim que lobos conseguem dormir tranquilos e sem culpa à noite? — falo, tentando forçar uma leveza que não sinto. — Justificam pra si mesmos que ferem os outros por bons motivos?

A expressão repentinamente grave no rosto de Sander revela ao que ele acha que estou me referindo. E aí lembro disso também.

Do que eu jamais deveria ter esquecido.

E o pior é que, se fosse a isso que eu estava me referindo, eu provavelmente teria sido certeira como uma flecha.

— É isso, não é? É assim que vocês conseguem conviver com qualquer barbaridade que fazem? — Insisto na nova direção que a conversa inadvertidamente tomou. — Vocês falam de mudar a cultura, custe o que custar. Machucando quem machucar. Mesmo que seja uma pessoa inocente? Tudo é justificável quando os motivos são nobres?

Sander desvia os olhos para o chão e seus lábios se contraem numa expressão evidente de culpa.

— Você já tinha falado alguma vez com ela? — pergunto, de repente tomada por uma curiosidade genuína. — Brincado com ela? Perguntado sobre o que ela gosta ou não gosta, quais seus medos e sonhos?

HUMANO [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora