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Fico paralisada, observando a moça que tentou salvar minha vida e do Sander, a mulher com quem ele demonstra tanta confiança e estima, uma pessoa capaz de admitir assassinato de uma criança sem sequer pestanejar

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Fico paralisada, observando a moça que tentou salvar minha vida e do Sander, a mulher com quem ele demonstra tanta confiança e estima, uma pessoa capaz de admitir assassinato de uma criança sem sequer pestanejar.

Quase não consigo mais ouvir os tiros lá fora e não sei dizer se é porque estão se tornando mais distantes ou se estou entrando num estado catatônico.

— Eu o matei. Matei meu filho. Matei meu bebê. — Ela balança a cabeça, o rosto impassível e sem lágrimas, confirmando mais uma vez o ato, como se, talvez, eu tivesse dúvidas em relação ao que significa cancelar alguém.

— Bem... — É tudo que consigo pronunciar, de início, engolindo em seco. Tente superar essa, Hadassa. — Imagino que você esteja no lugar certo, então.

Ao menos, estou bem acompanhada. — Ela volta a sorrir e encara Kravz com olhos brilhantes. — Era para ser um exílio, mas acho que encontrei uma família.

— Emocionante — replico, sarcasticamente. — Uma família de marginais.

Sander me fuzila com os olhos, o rosto repentinamente vermelho.

Somos, não somos? — ela responde, em nada afetada por meu tom irônico. — Uma família de marginais. Gostei disso. — Seu sorriso se torna ainda mais amplo.  — Bem-vinda à família!

Hesito brevemente.

— Obrigada... — O agradecimento sai com um gosto amargo e desconcertante.

Sander continua com a expressão furiosa, os olhos fixados em meu rosto, enquanto seus dedos se entrelaçam com o da moça.

É até um alívio que ele me odeie. Facilita bastante as coisas para mim.

— Pode demorar algumas horas até que se vão — ela diz, seus olhos tornando-se distantes, e me recobrando a atenção aos tiros contínuos.

— Por que estão atirando? — questiono, enquanto a moça solta a mão de Sander e se senta no chão.

Não resisto e me acomodo da mesma forma também. Sander faz o mesmo.

Ela dá de ombros.

— Nunca parei para perguntar.

Os dois pombinhos riem juntos, embora não haja divertimento algum nos olhos do rapaz.

— Então, Naomi... — Volto a pronunciar o nome com exagero. — Já que estamos todos sentados aqui como uma linda família feliz, você não quer parar para explicar por que você acha legítimo assassinar membros da sua família?

Ela pisca algumas vezes, arriscando um pequeno sorriso, como se decidisse se estou tentando ser engraçada ou se valeria a pena se sentir ofendida. Eu me sinto forte por atacá-la. Eu me sinto uma verdadeira defensora das crianças assassinadas.

HUMANO [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora