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De todas as coisas para as quais fui treinada em toda a minha vida, nada, absolutamente nada me preparou para isso

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De todas as coisas para as quais fui treinada em toda a minha vida, nada, absolutamente nada me preparou para isso.

Todas as paredes externas da casa do Raah são de um vidro negro brilhante. Não faço ideia se por dentro seriam transparentes, mas espero que não, porque estou neste momento me analisando atentamente no reflexo. O que pode haver de tão atraente nessa fantasia, afinal? Bato com as costas das minhas mãos numa pena curvada para a frente e jogo meu cabelo de lado com a outra mão. É apenas um vestido curto e espalhafatoso. Meus lábios estão cobertos por um pigmento vinho escuro e minhas bochechas, testa, colo e pernas foram salpicados com um pó reluzente.

Gosto da minha aparência. É o aspecto de uma guerreira, alguém saudável, jovem e bem treinada por toda a vida. Mas reconheço que jamais chegaria aos pés das mulheres das Tibbutz. Elas tem o viço de pessoas nunca tocadas pela guerra. Então, não consigo imaginar como nada disso possa ajudar em alguma coisa. Mas quem sabe? Homens são estranhos.

Ainda não amanheceu completamente e estou internamente implorando aos céus para que Raah seja a pessoa a me receber. Se tentar seduzir o garoto mais incrível do mundo com uma fantasia de pavão não for péssimo o suficiente, dar de cara com a mãe dele de luto certamente será.

Estou ensaiando expressões faciais no reflexo do vidro, quando a porta repentinamente desliza e me deparo com o rosto eternamente sério de Raah.

É só quando eu o vejo, assim, me encarando com olhos vazios, que me dou conta do quanto me afeta saber que ele está bravo comigo e que provavelmente não sou mais "sua trainee favorita". Raah, de uma forma ou de outra, se tornou sinônimo de família para mim nesse país. Ele é a pessoa com quem sempre pude contar.

Bem, ele e a Tink. Não posso esquecer disso. É o motivo pelo qual entrei nessa farsa.

Num salto, lanço meus braços ao redor de seu pescoço, tentando lembrar as palavras que ensaiamos mais cedo.

— Sinto muito — forço alguns soluços fingidos de lamento. — Por favor, me desculpe. Eu não sei o que estava pensando.

Raah permanece paralisado, rígido, incerto. Após alguns segundos, ele segura meus braços e os puxa para soltar-se. Em seguida, me examina, estreitando os olhos e sondando todo meu rosto. No meio de sua testa surgem algumas linhas de tensão. Isto me lembra que essa mesma pessoa que está diante de mim me jogou para fora do hospital e gritou comigo de uma forma que parecia uma ameaça e é a favor da morte de sua irmã mais nova. Eu o odeio.

— Eu deveria ter sido mais sensível em relação ao que vocês estavam sentindo — disparo com uma voz forçosamente aguda e melodiosa, antes que ele tenha oportunidade de dizer qualquer coisa. — Eu preciso mesmo entender a forma de vocês de pensar ao invés de impor minha cultura nesse lugar. É só que eu cheguei aqui como uma estrangeira ignorante, cheia de ideais e planos, e vocês sabem de tanta coisa que eu ainda não sei e quero que saiba que estou disposta a aprender. Eu preciso aprender, Raah. Por favor, me ajude.

HUMANO [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora