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O aroma de milho tostado misturado ao cheiro de madeira queimada é suficiente para quase me fazer desmaiar de fome

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O aroma de milho tostado misturado ao cheiro de madeira queimada é suficiente para quase me fazer desmaiar de fome. Mal consigo registrar o quão quentes os grãos estão ou sequer o fato de que são os milhos mais estranhos que já vi na vida, conforme eu os abocanho diretamente no sabugo.

Kravz deve ser um campeão do auto-controle. Porque sou testemunha ocular de que ele está o mesmo período de tempo que eu sem comer e teve a mesma quantidade de exerção física, mas em vez de devorar imediatamente o pouco que conseguimos coletar, ele apenas segura a espiga que tem entre as mãos e me observa com um sorriso intrigado, como se eu fosse um animal interessante, digno de estudo.

— O quê? — pergunto, erguendo o queixo, antes de terminar de mastigar.

— Nada. — Ele abre um sorriso enorme, o que acaba por contradizer a afirmação.

Seu rosto está manchado com uma lama da mistura de terra e suor, o cabelo desgrenhado apontando em todas as direções. Não devo estar muito diferente. Mas nele, a aparência maltrapilha é destacada pela massa preta que cobre o nariz que quebrei antes de sermos transportados para o mundo dos Imperdoáveis.

Sander está sentado num tronco caído, coberto de musgo, enquanto eu escolhi me acomodar sobre uma rocha plana, um pouco mais baixa que o tronco, embora tivesse espaço ao seu lado. Os assentos naturais parecem ter sido dispostos propositalmente, pela forma que estão localizados em posições estratégicas em semi-círculo ao redor de uma grande fogueira. Mais adiante, há uma tábua de madeira erguida em uma elevação no solo, o que se assemelha a um pódio e um palco.

Jogo o sabugo vazio ao chão de terra entre nós dois. Só aí que Sander eleva o milho multicolorido das mãos até o rosto, fecha os olhos, aspira o aroma e começa a saboreá-lo lentamente.

Meu estômago protesta diante da visão com um redemoinho raivoso e barulhento.

O rapaz parece perceber algo, a julgar pela forma que o movimento de suas mastigadas se torna ainda mais lento ao ponto de quase parar, conforme ele me encara, com sobrancelhas erguidas.

— Quer mais um? — pergunta, apontando para dois milhos intactos, afundados num balde de água, ao seu lado.

Tibbutz deve ter me deixado muito mal acostumada, porque eu já soube coletar comida muito mais rápido do que o fiasco de hoje. Talvez porque eu estivesse exausta e tonta de fome. Ou simplesmente não estivesse preparada. Pois eu não sabia que o ronco da máquina de transporte levando embora quase todo o estoque de milho fosse o tiro de largada para que todos os imperdoáveis saltassem como animais selvagens atrás das espigas caídas esquecidas no chão. Sander conseguiu fazer uma coleção própria admirável.

Eu fui relegada a uma única desculpa de espiga murcha que sobrara.

Faço uma careta e dou de ombros. Naturalmente meu orgulho é maior do que minha fome.

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