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O cheiro característico recende ao meu olfato antes mesmo que eu seja capaz de distinguir, na penumbra do corredor, a expressão de assombro em seu rosto

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O cheiro característico recende ao meu olfato antes mesmo que eu seja capaz de distinguir, na penumbra do corredor, a expressão de assombro em seu rosto. Exatamente a mesma que estampava enquanto resistia à lâmina da foice que eu empunhei contra seu lindo pescocinho, apenas algumas horas atrás.

— Maldito — sussurro entredentes.

— Hadassa — Sander sussurra de volta, a surpresa em seu olhar se acentuando a cada segundo. — O que está... o que está fazendo aí?

Mal posso acreditar que ele esteja aqui e tenha se passado por um funcionário sem dificuldades. Que tenha conseguido enganar toda essa gente enquanto estou me esgueirando como uma criminosa.

— Apreciando a vista, imbecil.

Ódio, raiva, chame do que quiser, essa vibração agonizante em meu peito instiga um dos comportamentos mais irritantes que aprendi em Tibbutz: a ironia.

— Você deveria tentar. É um mundo totalmente diferente aqui em cima.

Ele contrai a mandíbula com força e vira a cabeça de um lado para o outro, constatando que está mesmo sozinho, antes de se voltar para mim com o pescoço esticado para cima. Então cruza os braços na frente do peito, e um dos cantos dos seus lábios se eleva, exibindo aquele maldito sorriso torto.

— Parece que você precisa de uma mãozinha.

— O que faz aqui? — rebato, áspera, os olhos semicerrados.

Sander revira os olhos ao ponto de sumirem por trás das pálpebras.

— Quer ajuda ou colocar o papo em dia? — pergunta ele, e num gingado maroto dá dois passos para frente.

Meus dedos se firmam ao redor do gélido metal de uma das hastes da janela. Sinto o quadril ranger, protestando contra o aperto cada vez mais estreito ao seu redor. Reprimo um gemido quando tento me mover e minha carne reclama em volta dos músculos, cada fibra dos meus bíceps retesa, numa contração de agonizante insuficiência. Sander meneia a cabeça, calado, enquanto me assiste em meu desespero.

— E aí? — pergunta mais uma vez.

Olho para as extremidades do corredor, analisando os arredores, minha mente trabalha vasculhando alternativas. Não o encaro quando dou minha resposta entre os dentes cerrados:

— O que você acha?

Sua língua estala na boca, fazendo soar um muxoxo lento e despreocupado.

— Não, mocinha... O pequeno incidente envolvendo uma foice e o meu pescoço? Coisas assim ferem a honra de um homem, sabia?

Em circunstâncias mais convencionais, talvez aquilo me fizesse achar graça. Mas não agora. Não quando preciso da ajuda da pessoa que começou tudo isso. Se existe alguém responsável pela minha situação, esse alguém é Sander Kravz.

HUMANO [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora