16

1K 247 111
                                    


Tremendo, ao despertar, a primeira coisa que faço é procurar discernir na profundidade da escuridão o teto acima de mim

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.




Tremendo, ao despertar, a primeira coisa que faço é procurar discernir na profundidade da escuridão o teto acima de mim. Não lembro mais imediatamente de onde estou.

E aí, de repente, lembro.

Aos trambolhões, me sento com pressa no que suponho ser uma maca, me impulsionando com um cotovelo e transferindo o peso do meu corpo para um lado do meu quadril. Minhas mãos estão algemadas. Há uma faixa sobre meus olhos. E... um cabo preso em meu braço?

A faixa é imediatamente removida e um flash de luz recai sobre minhas pupilas. Pisco para recuperar o foco e ajustar minha vista à claridade e vejo como Doutora Aleksa Salz balança uma espécie de lanterna muito fina diante do meu rosto. Ela estala um dedo próximo ao meu ouvido, me causando um sobressalto. Está curvada, olhando-me na altura dos olhos. Tento apreender o ambiente desconhecido ao redor e percebo que o que tenho conectado ao meu braço não é um cabo e, sim, um tubo de infusão ligado a um pedestal metálico no alto.

Quero gritar, quero perguntar onde está Tink e onde eu estou, mas quando abro a boca e começo a tentar pronunciar algo, ouço apenas uma espécie de ganido extremamente agudo, mas débil, quase inaudível. Minha garganta está apertada e seca e nenhum outro som escapa dela.

— Respire fundo — a mãe de Raah diz com uma voz grave e gentil. — A infusão a trouxe temporariamente de volta à consciência, então fugir é impossível, caso esteja cogitando isso. Uma solução mais definitiva só será concedida se constatarmos que você não apresenta perigo para ninguém, entendido?

Eu já fui presa uma vez.

Numa madrugada qualquer da minha adolescência, fui acordada por três homens desconhecidos, carregada à força para o deserto, amarrada a uma árvore seca e abandonada para morrer. Na época, eu não sabia que isso fazia parte de um treinamento. Eu não sabia de muita coisa. Tive que lutar para escapar e sobreviver toda a jornada de volta para casa. E consegui. Mas essa sensação de violação, de ser colocada numa situação à força, de ter sua liberdade roubada, ser agredida, sua vida colocada em risco arbitrariamente... hoje não me parece nada, sequer equiparável a isto.

A violação mais cruel que posso imaginar agora é ter a voz roubada. Incapaz de se expressar, protestar, negociar, explicar-se, clamar por socorro. Por favor, eu pediria se conseguisse, abandonem-me no deserto para morrer, mas não me impeçam de ser ouvida.

Doutora Salz não espera resposta. Em vez disso, ainda inclinada, gira a cabeça e olha para trás. Sigo seu olhar e percebo pela primeira vez que, na penumbra, há um vulto. Piscando algumas vezes, reconheço, de braços cruzados e um semblante severo, o rapaz que beijara apenas esta manhã.

— Estamos decepcionados com você, Hadassa — a médica continua, aprumando a postura. — Você tem tanto potencial. Mas invadir um hospital? Sério?

HUMANO [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora