II. Machucados

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No dia seguinte, Midoriya acordou com a cabeça a mil. Havia dormido muito mal, o cérebro agitado demais para conseguir ter uma noite de sono decente, revirando-se com um milhão de perguntas sem respostas. O estômago não estava muito melhor, sendo aquele gole de bebida tudo o que havia tomado antes de dormir.

Permaneceu deitado, os olhos fitando o teto embaçado e a voz em sua consciência lhe falando de maneira repetida: "Eu avisei...". Mas, por algum motivo, não conseguia se sentir tão culpado quanto devia. "Você não vai cair nessa de novo. " Disse para si mesmo, "Precisa se concentrar nos estudos! ". Levou as mãos as bochechas, apertando-as e mandando o calor que a lembrança dos corpos próximos e daqueles olhos heterocromáticos exigindo respostas lhe trazia. "Isso mesmo, esqueça. Você provavelmente nunca mais voltará a vê-lo. "

Com a determinação renovada, pegou o celular apenas para assustar-se ao ver a hora e o quão atrasado estava. Colocou os óculos, crente que sua visão ruim estava a lhe pregar uma piada, mas, mesmo assim, a hora permanecia a mesma, rindo de si pelo fato de que estava prestes a perder a primeira prova do semestre. Trocou de roupa, sentindo o conforto do moletom como um velho amigo, agarrou a mochila amarela (que Uraraka tão gentilmente apelidara de "bananão" no ano anterior) e correu pela porta, os cabelos uma bagunça e os óculos escorregando no rosto. O estômago ainda reclamava e, infelizmente, não havia tempo para lidar com isso. Ele teria de se conformar.

Chegou à sala no exato momento que o sinal tocava e recebeu o olhar irritado do professor Aizawa (que, se possível, tinha uma expressão ainda mais cansada que a sua). A alça da mochila escorregava pelo braço e as roupas amarrotadas, provavelmente tinha a cara vermelha também. "Uma semana tentando causar uma boa impressão para ela acabar assim. " Lamentou.

- Agora que o Senhor Midoriya nos deu o prazer de sua companhia, podemos iniciar a avaliação.

O garoto passou pela mesa do professor com a cabeça baixa, desejando encolher até sumir. Desviou o olhar do rosto de Iida que se preparava para lhe passar uma bronca, e sentou-se na última cadeira, escondendo a face entre os braços, mas atento as instruções ditadas na frente. Tão compenetrado como estava, não notou um certo olhar fixo na sua direção. O olhar que justamente havia sido a causa do seu atraso.

Shouto estava surpreso. Não esperava que o garoto do sofá da noite anterior - não, Midoriya Izuku - fosse estar logo em sua sala. Nem ao menos podia esconder o quão satisfeito estava com isso; uma vez que se os amigos o vissem perguntando por aí sobre ele, zombariam de si até a morte.

Observou-o se dirigir ao lugar, especulando que ele deveria estar muito envergonhado (se a noite anterior havia lhe ensinado algo, era isso). Estreitou os olhos na tentativa de enxergar seu rosto por entre os braços, tendo uma vontade louca de sorrir ao notar que, sim, ele estava muito envergonhado pelo atraso. Uma alma inocente, como diria Kirishima.

Midoriya não o percebeu de imediato, ocupado como estava repreendendo-se mentalmente e renovando as promessas de mais responsabilidade e, claro, nunca mais ir em festas novamente, não importando o quanto Ochako o fitasse com aqueles olhos de Gato de Botas. Por isso, só foi perceber a atenção que atraía quando Aizawa começou a distribuir as provas e ele encontrou os olhos que tomavam seus pensamentos ao acordar por entre as roupas escuras do professor. A boca se abriu em surpresa e, antes que qualquer coisa pudesse sair de sua boca, a folha de papel foi depositada a sua frente junto a um olhar analítico que informava muito bem o que aconteceria com ele se não se concentrasse. Engoliu em seco e baixou a cabeça para a prova, respirando fundo para focar apenas em ler os enunciados e as fórmulas que lhe eram apresentadas, velhas amigas suas.

Podia sentir o olhar de Shouto pinicando em sua nuca, ocasionalmente. E era inquietante o quanto aquilo causava uma reação em si, uma comichão no estômago (que ainda estava vazio, então podia muito bem ser causada pela fome). Lutou para se concentrar e não levantar a cabeça a cada cinco minutos para conferir se ele ainda estava olhando. Para sua satisfação, apesar de não ter tido uma noite de estudos decente, conseguiu resolver as questões sem muita dificuldade.

A Teoria do AmorWhere stories live. Discover now