Batom Vermelho e Poesia

textos que doem

minha avó materna sempre gostou de fazer crochê, tricô e ponto-cruz
eu sempre quis aprender mas nunca consegui, nunca tive a aptidão necessária, assim como pra muitas coisas na minha vida
eu costumava achar fantástico como ela consegue transformar um simples pedaço de linha em desenhos, letras, como se fossem uma pintura e ela faz isso com tanta facilidade e alegria

eu também queria conseguir transformar os carretéis que a vida me dá em algo bonito. queria conduzir a linha da vida com tanta maestria quanto ela.

é raro tecer momentos em que a felicidade seja a linha principal
deixando o trabalho mais bonito

a linha do amor não entra pela minha agulha-guia, por mais fina que ela seja

e eu colecionei tantos carretéis ao longo da vida, de diversas cores, tamanhos
tristeza, angústia, fé, esperança, felicidade, amor, revolta
e eu nunca aprendi a manusear minhas agulhas direito

eu consigo retalhar tudo o que for necessário de uma forma não muito bonita
inclusive a minha vida, meus sentimentos, de uma forma que eu continue de pé e siga em frente

mas não o meu coração.
não há ponto-cruz, tricô, crochê
que possa retalhar meu coração