textos que doem

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eu costumava querer que meus dias fossem sempre coloridos, mas agora eu já não faço tanta questão disso
agora eu me contento que eles sejam apenas dias
enquanto eu olho pela janela do ônibus num dia chuvoso, encaro fascinada a estátua de D. Pedro I na praça Tiradentes, ao passo que a chuva a corrói lentamente
todos os dias a estátua dá seu grito de liberdade no vazio, faça chuva ou sol, com plateia ou não.

e penso que há um tempo eu também era como a estátua, dando meu grito de liberdade no vazio, fazendo chuva ou sol, com plateia ou não. mas agora eu enfrento os meus dias com uma voracidade que antes eu não conhecia e não sabia que existia dentro de mim.

penso no quanto sou invencível em relação a algumas coisas e o quão vulnerável sou quando se trata de outras; no quanto fujo de certos sentimentos e no quanto me agarro à outros, como a esperança de ser encontrada por alguém que tanto espero numa quarta-feira qualquer nesse mundo caótico e cruel, enquanto me escondo nos meus traumas e me fecho pra visitações e estadias.

porque eu enfrento minhas batalhas com coragem mas sou proporcionalmente frágil aos planos do destino. e agora eu prefiro me manter em silêncio do que gritar, porque sei que em meio à todas as pessoas, em toda essa cidade, ninguém vai me escutar, nem eu mesma.

e eu já gritei tanto.
em meio a todas essas pessoas e às batidas de todos esses corações vazios, ninguém me escutou
por isso eu espero.

eu me tornei uma grande, imponente e ignorada estátua numa praça vazia no centro da cidade.

essa é a linha tênue sobre o quão bela e trágica a vida pode ser.

Batom Vermelho e PoesiaWhere stories live. Discover now