styl... excuse me?

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O fim de ano em South Park, com neve, o engarrafamento, problemas com papais noeis de shopping bêbados, e metade da população odiando a própria vida, tudo do jeito que sempre foi. Até mesmo naquela casinha. O quarto estava quente, o garoto com o gorro azul estava deitado na cama, as mãos cruzadas sobre o peito como um defunto, ele contava em sua cabeça o número de minutos que havia esperado.
Quando aquele lugar tinha mudado tanto? Quando que tinha sido pintado, quando que a Mancha de bolor na parede havia sumido? Desde quando não havia roupa por todos os cantos?
É Stan, passe três meses em coma e é isso que você ganhará,  esperava o que? Biscoitos? Não.
Ele vê a sombra de aproximando da cama e se senta quase imediatamente.
–Calma garotão, não faz movimentos bruscos, não quero que volte pra cama de hospital.
Stan sorri, tirando o gorro da cabeça.
–Desculpa, estava ansioso pra ver você, me conta, quais foram as novidades nesse tempo que eu passei fora?
–Ah, aconteceu muita coisa, da espaço ai ou eu sento no seu colo.
Stan vai pro lado, revirando os olhos e se ajeitando no batente da cama, ele sente a cama balançar com o peso de mais alguém sentando, sim... Realmente, era tão frágil e ruim quanto ele se lembrava.
–Então... Por onde eu começo? Olha eu-
–Desculpa interromper e falar por cima, mas já pensou em trocar essa cama? Sério, você e sua namorada aproveitam como nisso aqui?
Ele sente uma respiração profunda de desgosto vindo do seu lado e esconde um sorrisinho ao conseguir ouvir uma contagem bem lenta até dez.
–Stan, a minha vida com a minha namorada te importa exatamente por que...?
–Sou teu ex, me preocupo com a sua... –Ele faz gestos com a mão tentando ilustrar e só agarrando o ar enquanto buscava a palavra, o rosto se iluminando ao lembrar. –... Vida sexual, por assim dizer...
–Stan, eu vou te quebrar na porrada.
Ele sente um soco em seu braço direito, ardia mas não impedia ele de rir alto, esfregando o local dolorido.
–Se você se importasse com a "minha vida sexual"–o tom de nojo na voz fez Stan gargalhar mais alto ainda. –teria feito direito na sua vez... Para de rir.
Ele para, ficando sério derrepente.
–Ei, ei, ei, ei... –ele se vira, os olhos de Wendy estavam fixos nele, os braço cruzados, a cara de desprezo habitual de quando ouvia falar de algo que não gostava já se fazia presente. –... Injusto isso ai, eu não sabia que eu era mais atraído por homens.–Ele ouve sua fala ser interrompida por um comentário bem baixo que dizia " Vulgo gay", mas continua, fingindo que não ouviu. –Que você era Bi, e... Eu era bem mais novo, e você foi literalmente minha primeira vez. Não pode me julgar. Você também não foi nada bem.
–É, tem razão, ainda bem que eu descobri que dedos são bem melhores que paus.
Stan faz uma cara ofendida, enquanto Wendy sorri maliciosamente.
–Mano... –Ele empurra ela. Que começa a rir. –... Como você ousa... Pode ofender a minha dignidade, mas não a de todos os paus do mundo.
–Verdade, o de algumas pessoas valem a pena.
–Obrigado.
–Não inclui o seu.
Ela ri, se ajeitando novamente na cama, Wendy tinha os cabelos bem mais curtos do que quando era criança, ela os cortou na altura do pescoço, eles estavam bagunçados devido a todo aquele empurra empurra.
Stan e Wendy. O casal hetero em que todos se apoiavam a muito tempo atrás. Quer dizer, até os dois acabarem com tudo de vez, foi uma conversa amistosa e eles decidiram continuar amigos.
Por que eles terminaram?
Haviam descoberto muito sobre si mesmo na época, Wendy descobriu sua Bissexualidade e Stan "descobriu" que meninas não o atraiam tanto quanto ele achava que deveria, a conversa de termino foi sincera e pela primeira vez não ouve discussões. Era o necessário para que pudessem ser felizes.
Nenhum dos dois voltou atrás, nem mesmo uma única vez, as vezes, tarde da noite, Wendy ligava para Stan com algum drama feminino que ele não entendia, coisas normais, menstruação, séries e filmes clichês que tinham terminado de forma mais clichê ainda, roupas, vontade de matar o Cartman, estudo de Ciências, revolução. Coisas normais.
Quando Wendy começou a namorar, Stan foi o primeiro a saber, dizem que o ex saber do namoro antes de completar uma semana da azar, mas a insegurança da menina era tanta que ela nem se importou. Stan a ajudou da melhor forma que podia.
Quanto a Stan, quando ele começou a namorar, Wendy e a namorada fizeram questão de "ajudar ele a se tornar uma 'fêmea' alfa" (porquê machos são babacas), mesmo ele tendo dito mais de uma vez que tinha tudo sobre controle.
O que ele obviamente não tinha.
A relação dele havia ficado tão boa depois do namoro deles ter acabado que sinceramente, Bebe nem se impressionava mais com a invasão de privacidade de Stan. Que já chegou a ver ela nua uma vez quando saia do banho (voaram algumas pelúcias na cara dele e ele saiu da casa a base do grito), e em seus piores momentos.
As vezes as pessoas achavam que ela tava levando chifre. Se soubessem quão gay Stan era. Bem, nem o próprio moreno sabia direito, ou não conseguia admitir, ele dizia que era "incapaz de se rotular" quanta besteira.
–Ah claro, um dos paus que vale a pena inclui o do Cartman?
Ele sabia que tinha pisado em terreno proibido, mesmo com o tom de deboche, Wendy odiava lembrar daquela época em sua vida, o nojo dela já se fazia presente e sua voz era de puro ódio.
–EU. ODEIO. O. CARTMAN. EU E ELE NUNCA TIVEMOS NADA E ESSA MERDA DE BOATO QUE ELE ESPALHOU DEVERIA TER MORRIDO ONDE FOI CRIADO. COM ELE.
É Cartman a uns anos atrás, pra acabar com a moral de Stan, disse a todo mundo que tinha "comido" Wendy, ninguém levou a sério mesmo eles já tendo ficado quando criança (era o Cartman), então ele forjou umas fotos (ninguém sabe como) e, bem... O apelido puta Wendy ainda pega por aí.
–Desculpa, desculpa, desculpa, foi uma piada de mal gosto.
Stan ergue as mãos pra se proteger, engolindo em seco e esperando os socos, que não tardaram a vir.
–Os homens são todos iguais, uns babacas que pensam que mulher é objeto pra eles, nem precisa ser objeto sexual, são todos uns bostas.
Ah... O piti... Stan talvez tenha sentido falta disso, ele segura os braços dela e a abraça.
–Eu cuidei de tudo, Cartman nem esta mais na cidade, faz meses lembra? Ele ta em outra escola, em um lugar bem longe daqui, bem longe de você com os comentários de gordo putrido dele.
Wendy o abraça, passando levemente a mão em suas costas.
–Sobre isso...
Stan se ajeita, a encarando.
–Não me diga que a rolha de poço voltou.
–Stan...
Ele coloca as mãos na cabeça, massageando as temporas.
–Não me diga... Que o gordão voltou...
–Você perdeu muita coisa...
Ela a encara. Pareço haver piedade em seu olhar.
–Kyle vai ficar tão puto.
–Então... Stan...
Sua voz parecia conter toda uma incerteza que Stan nunca ouviu antes, ele arregala os olhos, sabia que devia ter ido falar com o ruivo primeiro, sentia isso desde que recebeu alta daquele hospital e não o achou lá. Mas ele não conseguiu...
Ele e Kyle tiveram uma discussão feia antes do acidente, feia de verdade, como jamais haviam tido antes (tanto em amizade quanto em namoro), falaram coisas que não queriam um para o outro e se magoaram, Kyle mandou que Stan saisse, desse tempo para ele pensar, sozinho. Stan fez isso, mas é claro que Stan não podia só ir pra casa, tomar sorvete e cerveja e ver série enquanto desabafava com sua amiga ao telefone, chorando feito um condenado.
Não. Ele tinha que estragar tudo.
Stan havia comprado uma moto.
Vermelha e preta, ultima geração, novinha, mal havia usado, era uma das coisas que mais cuidava nesse mundo, pois havia gastado MUITO dinheiro naquilo.
Mas naquele dia ele não deu a mínima, saiu andar de moto pela cidade, passou por estradas que nunca sequer tinha visto, pensando em Kyle, pensando no motivo da briga, um nó surgiu em sua garganta naquele momento e lágrimas saíram de seus olhos, foi  ai que parou em um bar lá no fim do mundo, arrumado, todo estilizado, Madeira boa e belas pessoas servindo as mesas que não estavam muito vazias, no centro, um palco circular revestido de carpete, com dois altos falantes em cada lado, bebeu muito e ficou até o bar fechar, fez amizade com um cantorzinho que era incrivelmente fofo, ele tinha sotaque e estava se apresentando. Cabelos castanhos, alto e forte, sorriso constante e parecia entender bastante sobre escolhas erradas, era muito compreensivo. Tudo bem até ai, como diria Wendy, novas amizades são sempre boas, especialmente em momentos difíceis.
Mas o rapazinho era atraente demais.
Em resumo, Stan disse um nome falso, eles se beijaram, as pessoas tiraram fotos, chegou no celular de Kyle antes mesmo que Stan pudesse pensar no que fez, o garoto falou que depois que o show acabasse ele poderia garantir um show particular, Stan aceitou, tudo acaba, eles vão pros fundos. Eles se beijam novamente e as coisas começam a esquentar, ele não consegue mais evitar. Uma ligação aparece em seu celular, Stan atende, enquanto ele tenta se explicar o garoto de cabelos castanhos beija seu pescoço o que o faz gemer, Kyle termina tudo ao ouvir isso, o garoto de cabelo castanho congela ao saber que ele tinha um namorado, vai embora deixando Stan sozinho, com dúvidas na cabeça nublada de bêbado sem entender o que diabos aconteceu.
Ele só queria falar com Kyle, colocou o capacete e foi até a moto... E ai... Aconteceu o acidente.
Stan mal viu o carro. Era preto, grande, e veio a 100km/h.
Foi nessa noite que ele viu seu inferno pessoal.
Mas agora estava vivo, estava bem, pelo visto o inimigo do seu namo... Ex namorado estava na cidade de novo. Então ele não podia mais adiar a conversa.
–Stan...
–Eu tenho que ir. Kyle precisa saber, eu não posso deixar Cartman se aproximar dele. Quer dizer, eu sou babaca mas ele, ele é mais. E também eu sabia que não podia evitar ele pra sempre... Afinal... Eu ainda o amo...
Ele encara Wendy com um olhar suplicando, recebe apenas o piedoso de volta.
–Stan... Sobre isso...
–Wendy eu te adoro mas...
–STAN CALA A BOCA E ME ESCUTA.
O garoto parou com o pé a centímetros no chão, a touca torta na cabeça, ele recolhe o pé e se senta de novo, olhando pra amiga.
–Sim?
Seu rosto estava preocupado, Wendy o toma com as duas mãos. A barba do garoto estava nascendo e pinicava levemente a mão dela.
–Stan... O Kyle já sabe que Cartman esta na cidade.
–Já?
–Já.
Stan arregala os olhos, preocupado.
–E como foi? Foi tão ruim quanto eu acho que foi? Eles não se mataram né?
Wendy da um sorriso fofo enquanto encosta a testa na testa do moreno, rindo.
–Não... Ai vem a notícia ruim, você não pode pirar.
Stan se afasta com o tom de Wendy.
–O que o balofo fez?
–Ele... - o sussurro sai tão baixo que nem mesmo Wendy se escuta, stan se aproxima e a encara, pedindo silenciosamente que ela fale de novo, dessa vez com a boca aberta de preferência, e não como se tivesse com os dedos de Bebe nela. -... Olha, eles até brigaram, quer dizer, o Kyle brigou mas ai Cartman começou a agir estranho, ele começou a... A aceitar... Eric Cartman aceitou um xingamento do Kyle sem reclamar, na verdade mais de um, muitos, e quando Kyle partiu pra cima dele ele não fez nada. Nada mesmo. Cartman não parece mais o Cartman, em nada, nem na aparência nem na atitude. Eu não acredito em uma palavra que ele diz, que fique claro. Sabe, eu sei que aquele idiota não é confiável, mas... Não importa o que eu penso no fim das contas.
Stan deixou os ombros caírem.
–Ah... E a má notícia?
–Isso faz dois meses, a um mês atrás começou a correr boatos de que... Bem...
Stan se aproxima, o coração acelerado, não é possível que fosse o que ele pensava.
–Que?
–Cartman e Kyle tão saindo...
Um silêncio toma o lugar, Wendy (que olhava para as próprias mãos) ergue o olhar.
–Stan? Stan?
O garoto apenas encarava seu rosto atónito, ele não esperava realmente que a resposta fosse aquela, era irreal demais, não era possível que Kyle... Seu Kyle, seu ruivinho estivesse tendo algo com o Nazista... Era?
Não...
–Stan! Ai meu pai, eu quebrei ele.
Ela se levanta pra chamar a namorada, que era enfermeira. Seu coração acelerado, quando abre a porta ela escuta algo e seu coração da um leve salto de alívio:
–Puta que pariu.

one shots de South ParkOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz