Capítulo 25: Um Ponto Não Final

9 2 0
                                    


Duas semanas se passaram. Durante esse tempo, Brittle aplicou suas sessões de cura em mim, por seis dias. Ela disse que meu corpo precisava se curar sozinho, também; caso contrário, ele perderia certas funções. Passei da cadeira de rodas a muletas e agora consigo andar sozinho, ainda sinto um pouco de dor no tórax, mas nada que me impeça de aproveitar meu dia a dia.

Conversamos com o diretor e ele pediu que nos ausentássemos das aulas convencionais e participássemos das aulas voltadas ao aprendizado singular. Não hesitei em aceitar, já Ricardo e Brittle responderam um tempo depois; ainda não sei a decisão dos dois.

Eu não podia desperdiçar meu tempo em aulas normais, tinha que ficar mais forte, estou sempre rodeados de amigos, não vou deixar nenhum deles morrer, por isso tenho que ser forte, treinar muito.

Quando cheguei aqui nessa escola, eu desprezava pessoas que usavam a palavra "amigo". E realmente não sei a partir de qual ponto minha opinião mudou. Provavelmente começou com o acolhimento de Ricardo, depois Brittle, em seguida, todos os que eu fui conhecendo. Considerava-os, agora, amigos; embora ainda não conseguisse me entregar cem por cento a essa amizade.

Hoje seria o último dia de aula, eu começaria as aulas especiais após as férias.

Brittle havia marcado um lanche de despedida para nós à margem do estreito rio que cortava a floresta. Passei pelos túmulos dos companheiros, mortos em batalha.

O memorial ficou incrível, mal conseguia esconder as lágrimas, nem mesmo queria; elas mostravam o arrependimento, a dor do meu coração. Refletiam minha fraqueza para proteger aqueles que lutaram por mim. Se não fosse tão fraco, eles não precisariam lutar sozinhos; se não fosse tão fraco, não precisariam se sacrificar por mim.

Fiz um gesto em respeito ao memorial e fui andando. O pano estava estendido na grama, quadriculado de várias cores. Brittle me viu ao longe, acenou. Ricardo tirou um prato e encheu um copo extra de suco.

Toquei meu punho no de Ricardo e Brittle me abraçou bem forte. Sentei-me e retirei meu almoço. O suco era de limão.

Eu estava distante, eles conversavam sobre a missão: Brittle se gabava por ter matado Konnor e Ricardo falava, ainda mais alto, sobre como o havia enfraquecido para que Brittle pudesse dar o golpe final.

— Mas foi o Kile que arrancou o braço daquele nanico estúpido, não é? — Ricardo empurrou meu ombro levemente; assenti, depois de olhá-los, e voltei a comer. — O que foi, Kile?

— Kile, para com essa cara! Aquilo já passou, não foi sua culpa. — Brittle negava a verdade, e tentava fazer com que eu acreditasse que ela estava certa. — Anime-se! Nossa próxima missão é depois das férias; o diretor não especificou, mas disse que não vai demorar até que outra missão apareça.

Negativei.

— Não terá mais missão para mim. — coloquei o prato de lado e bebi meu suco. — Eu me recuso a viajar em missão com mais alguém, não farei mais missões em grupo, sou fraco demais, não quero ver mais ninguém morrendo por mim.

Eles se entreolharam. Abracei meus joelhos, apoiei a cabeça nos braços, observando o rio.

— Se morrermos em missão, você não ficará muito pior por não estar lá, conosco? — Xeque Mate, odeio quando ela faz isso. — Pense bem.

Forcei uma risada bem irônica.

— Vocês são bem mais fortes que eu, nunca morreriam em batalha, vocês venceriam mais facilmente por não terem que se preocupar comigo.

Brittle pulou em cima de mim; deu-me um tapa na cara, bem forte, deixou-me caído na grama e se levantou.

— Quando você vai parar com essa atitude ridícula, Kile? Torne-se um homem, seu moleque! Aceita a verdade, aceita que eles acreditam em você! Vai mesmo deixar a esperança que eles depositaram em você simplesmente se apagar? Você não é o Kile que eu conheci, é o Kile do qual eu quero me distanciar o máximo possível!

As Crônicas de um Singular - Livro 1: A Rosa PrismaWhere stories live. Discover now