Capítulo 20: Bem Vindos à Cidade da Ponte de Ferro!

7 2 0
                                    


As poltronas eram muito confortáveis. Cochilei algumas vezes durante o caminho. Não fazia ideia de quanto tempo havia se passado, desde termos deixado aquele recanto do terror, para trás. Sempre que me lembrava de Thales, me entristecia. Porém, ao mesmo tempo, sentia-me feliz por ele estar livre para viver, ser forte, ser humano.

O ônibus era sofisticado. Acomodamo-nos em assentos separados, havia poucos vagos. O fraco sol das dez da manhã de um dia frio entrava pela janela e batia em meu rosto. A janela estava com uma pequena fresta aberta, para entrar o ar fresco.

Havíamos dividido os lanches e as garrafas d'água, enquanto esperávamos o ônibus, a garrafa maior ficou com o Ricardo. O diretor disse que passaríamos por três cidades até a Cidade da Ponte de Ferro. Ele nos deu uma quantia de quinhentos reais em dinheiro, para as despesas gerais. O dinheiro ficava com a Brittle.

"— Mas nada de importante fica com o Kile".

Não me considero apto a ficar responsável por uma tarefa mais importante que as outras, mesmo que seja carregar a garrafa d'água maior ou uma quantia de dinheiro como aquela. Não me sentia bem, deixando meus amigos dependentes de mim, seja lá para o que for. Isso me desagrada, eu sentiria como se fosse superior a eles.

Havia muita gente viajando. Olhei por cima da poltrona: avistei Brittle vidrada na janela, fitando a paisagem que passava ligeira. Foi quando notei que ela não olhava a paisagem, mas pensava freneticamente. Estava preocupada.

Ricardo estava lendo o livreto "Os Arquivos do Artesão"; deve tê-lo pego com a Brittle, em algum ponto da viagem; eles estavam mais próximos um do outro do que eu estava de cada um deles. Ele provavelmente queria saber mais sobre o artefato que estávamos buscando. Inteligente da parte dele, considerando que se a ponta da rosa o furasse ele teria a alma arrancada do corpo.

Todos acomodados. Decidi estudar o mapa. Cada um de nós possuía uma cópia. Peguei a minha na mochila e comecei a estudar.

A ponte começava com um ângulo de sessenta graus, com a linha se elevando para a direita, formando um triângulo, com outra linha na vertical. Assim, formava um triângulo e depois outro, junto; constituindo, ao final, um retângulo. Eram três linhas em 60 graus do chão ao topo, um "X" e três linhas de 60 graus do topo ao chão. Um grande e largo "V" — a pedra da passagem ficava no centro desta letra. — e depois tudo se repetia, porém, espelhado.

Era uma ponte de ferro simples e muito bem estruturada. Quase podia imaginá-la na minha mente. O mapa não mostrava, mas, provavelmente havia uma passarela no meio dela, ou de lado, para poder atravessá-la; caso contrário, seria inútil a sua existência.

Alguém solicitou a parada do ônibus. Não sabia qual cidade era aquela, bonita, cheia de prédios. O ponto ficava próximo a um parque imenso. Levantei-me, para prestar mais atenção. Foi então que eu o vi: um homem velho, apenas um manto cobrindo seu corpo e um chapéu redondo estilo japonês, como fosse um quiosque. Uma nuvem de areia negra pairava em seu redor, seu corpo quase misturava a ela. Ninguém parecia vê-lo, além de mim.

Levei a mão ao coração e fechei-a. Toquei minha pedra negra.

"Farei você se orgulhar por ter me dado esta pedra, senhor Kháido!"

O ônibus começou a andar, ele simplesmente desapareceu, empurrado pelo vento.

Senti um leve movimento no meu ombro. Comecei a ver uma claridade fosca, bem ao longe. Abri os olhos devagar. Pela janela do ônibus eu via o céu, completamente escuro. Agora, somente os postes iluminavam as ruas.

Virei-me e vi Brittle curvada em minha direção. Com a voz mais doce que eu já ouvira, ela disse:

— Acorde, Kile, chegamos.

As Crônicas de um Singular - Livro 1: A Rosa PrismaNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ