Capítulo 19: O Último Feito de Meredith

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— Você sabe que já revistamos o lugar todo, uma vez, não é?

— Não custa nada revistar de novo.

Thales tinha razão, não achamos na primeira vez, por que acharíamos na segunda?

Alguns minutos depois, o diretor veio até nós, para ajudar. Revistamos toda a casa junto a ele.

— Mais uma vez não achamos nada.

Ele olhou ao redor, por um instante, em silêncio.

— Por que não procuramos com os olhos da alma?

Thales e eu nos entreolhamos.

— Seria uma boa hora de aprendermos uma nova técnica.

Sorri o máximo que eu podia, tentando convencê-lo. Ele pousou a mão na face e deslizou para baixo, como se dissesse "Ah, eu mereço...". Juntou as mãos e acumulou um pouco de energia. Mandou toda energia para uma das mãos. Ficou como uma esfera de cor azul bem clara e transparente. Apontou para uma parede, formando nela, um círculo de mesma cor.

— É como uma lanterna, — o diretor começou a andar, nós o seguimos. — Meredith e eu desenvolvemos esse meio de comunicação há muito tempo. Ela podia deixar palavras ou desenhos feitos com sua própria energia, em qualquer superfície sólida.

O passado retornou a mim. Lembrei-me de quando Mack e eu brincávamos, em nossa infância. Deixávamos recados um para o outro nos vidros e espelhos das casas. A gente assoprava devagar, para ficar embaçado, depois escrevíamos. Aí era só embaçar novamente e as letras ficavam de cor diferente, dava para ler normalmente.

— É como deixar recados em vidros embaçados.

Ele assentiu, sem olhar para trás.

Foi jogando a luz por todas as paredes, sem deixar nada escapar.

Começamos pela varanda exterior, depois a interior, a cozinha, o banheiro. Toda a parte debaixo da casa. Thales tinha muita dificuldade em deixar sua energia, digamos, um pouco espiritual. Enfim, não conseguiu usar a técnica. Sua energia era sólida, densa, como todo singular queria que a sua fosse. Eu consegui usar, não com facilidade, mas foi bem rápido. Era difícil manter o controle.

— Vamos para a parte de cima — o diretor parecia saber exatamente onde encontrar o que quer que fosse que estivéssemos procurando.

Olhamos nos três quartos, não encontramos absolutamente nada.

— Podemos perder as esperanças agora? — eu não queria ser negativo em relação àquela situação, mas realmente odeio fazer a mesma coisa repetidas vezes; é uma tortura! Já estava perdendo a paciência.

— Ainda tenho meu último trunfo. — ele pegou a gema dentro de sua blusa branca, que aparecia debaixo do sobretudo preto. — É melhor fecharem os olhos e ficarem de costas.

Um flashback fez com que eu me virasse instantaneamente, apertando os olhos com bem forte. A sensação de cegueira era horrível, não queria experimentar aquilo de novo.

Mesmo com os olhos fechados, pude perceber a extrema iluminação na sala e um grito agudo.

— MEUS OLHOS!

Não consegui conter minha risada: Thales tentou expiar como eu havia feito na primeira vez.

— Pela selva! — o diretor irritou-se como havia se irritado comigo. — Eu não disse para fechar os olhos e se virar?!

— Vou ficar cego para sempre? — choramingou.

O diretor balançou a cabeça, negativamente, com uma expressão de cansaço.

As Crônicas de um Singular - Livro 1: A Rosa PrismaWhere stories live. Discover now