Capítulo 1

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Era mais uma festa chata, com pessoas chatas e papos chatos. Gustavo não deixava de olhar para o relógio prateado no pulso enquanto sorria forçado para o grupo de inversionistas ali presente, após tomar mais um gole longo de seu martini na intenção de aliviar o estresse e a impaciência, sentiu o celular vibrando no bolso e pediu licença para todos ali enquanto se afastava para atender, suspirando quando viu o nome na tela, sabendo que vinha chumbo grosso.

-Flor... Calma, eu sei que não lhe avisei que viria ao Rio, mas é que foi de última hora, passarei a semana toda trabalhando aqui. -O homem explicava enquanto ouvia a mulher gritando do outro lado da linha. -Não tem por que você vir para cá, eu vou ficar trabalhando em tempo integral e não terei tempo para você. É melhor que nos encontremos aí... Espera, não desliga.

Ouviu quando o aparelho apitou avisando que a mulher havia desligado. Já fazia mais ou menos dois anos que Gustavo estava namorando Flor Bittencourt, uma modelo famosa que saía quase todas as semanas em capas de revistas, uma total manequim que fazia qualquer homem babar e matar qualquer mulher de inveja. A moça era completamente apaixonada por ele, mas Vieira ainda não havia decidido se sentia o mesmo por ela, dentro de si se realmente a amava ou se estava com ela por comodidade, status, solidão. Afastou os pensamentos enquanto voltava para a roda de homens e no caminho encontrou seu melhor amigo e advogado, Bruno Alencar.

-Bruno, estou indo embora. -Vieira disse impaciente. -Essa reunião já deu, os caras não vão fazer negócio e eu estou cansado.

-Fica mais um pouco, eu vou falar com o Félix, ele vai ter que rever as propostas e aceitar. -Pediu Bruno enquanto tocava o ombro do amigo. -Olha, quer saber? Vá pro hotel, você está com uma cara péssima e amanhã nos vemos no escritório.

-Me entrega as chaves do seu carro. -Ordenou com a voz firme.

-O que ? Você não...

-Sem discussão, Bruno, me dá logo as chaves desse carro.

-Olha só dirige com cuidado, tá bom? Esse carro é novinho e você...

Gustavo nem ouviu, pois ao receber as chaves das mãos de Bruno, saiu com passos elegantes e firmes até o estacionamento a fim de sair o mais rápido que podia daquele lugar sufocante. Quando achou o conversível preto do amigo, ligou três vezes com certa dificuldade e logo deu partida sentindo como o automóvel voava mais do que um avião pela estrada.

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Magali terminou de se trocar naquela noite, optando por usar um vestido branco que ficava bem colado ao seu corpo, com um decote generoso que chamava bastante atenção, colocou uma peruca channel preta, botas também pretas de cano alto e salto também alto. O batom vermelho sangue estava sempre presente em sua boca, maquiagem pesada e um sobretudo vermelho, apesar de ser sempre quente no Rio de Janeiro, ficar no calçadão toda a madrugada lhe causava calafrios não só pelos clientes que a abordava mas pela própria brisa na beira da praia. Antes de sair, ela olhou o bolo de contas sobre a mesa e fechou os olhos engolindo seco enquanto pensava em uma maneira de pagar tudo aquilo. Nem se trabalhasse com cinquenta homens numa noite só poderia quitar todas aquelas as dívidas.

Enquanto esperava algum cliente aparecer pelo calçadão, Magali sentiu duas mãos pegando em seus braços com força, o susto a fez ficar pálida e quase desmaiou quando viu o rosto de quem era, um dos agiotas que havia pedido dinheiro emprestado para pagar o aluguel e as contas de água e luz do mês retrasado que estavam atrasadas.

-E aí, boneca, já tem o dinheiro ? -O homem perguntou apertando-a.

-Ainda não, mas eu prometo que até o fim da semana eu pago você. -Respondeu com a voz trêmula de medo.

Uma Linda MulherOnde histórias criam vida. Descubra agora