capítulo 16

355 88 21
                                    

― Mãe ― Mateus gritou logo que saltou do carro ― a Alana convidou a gente pra ir pro hotel do tio dela pra gente almoçar depois daqui.

― Mateus... ― pela forma como ela chamou o garoto estava mais que claro que ia recusar o convite ― eu acho que não vai rolar, amor.

Alice saiu do carro pegado a mão da filha enquanto Alfonso retirava Henrique da cadeirinha. Sam desceu do carro com a cara emburrada de sempre e meu irmão sussurrava alguma coisa em seu ouvido. Esperava que ele estivesse pedindo pra ela melhorar aquela cara de mostro que podia muito bem assustar minha sobrinha que estava em seu colo.

― Ah, mãe! ― exclamou decepcionado ― Porque não?

― É, Bia! ― Alice interveio antes que eu pudesse pensar em alguma forma de convencê-la ― Porque não? Vocês deviam aproveitar pra passar o dia inteiro conosco.

― Ah, não quero incomodar vocês. Já devem ter planos e...

― E você e Mateus já estão inclusos nos planos, ― ela sorriu ― minha filha está gostando muito da companhia de Mateus, e acho que o sentimento é reciproco, acredito que vai ser bom eles brincarem um pouco, não concorda?

Bia mordeu um cantinho da boca como se estivesse ponderando. Internamente meus dedos estavam cruzados. Queria a companhia dela e de Mateus.

Eu não sabia explicar o motivo, mas alguma coisa me fazia acreditar que era certo o que sentia quando estava com Bia. Ela me fazia sentir diferente.

― Tudo bem ― concordou olhando para Mateus ― ,mas o senhor vai arrumar todo seu quarto amanhã e não quero reclamação. ― Ergueu uma sobrancelha. ― Combinados?

― Combinados, mãe.

Ele ergueu a mão eles trocaram um aperto. Mateus e Alana comemoraram que os planos deles deram certo. Já estavam programando uma tarde cheia de banho de piscina, filmes que pelo visto eles jamais veriam, pois não conseguiam entrar em acordo. Alana queria princesa, Mateus super heróis.

Se tem uma coisa que eu aprendi sobre Alana esses dias é que ela sempre acaba conseguindo o que quer. Pelo menos dos tios e do pai. Alice era um pouco mais linha dura.

― Vamos ― Ravi falou apontando para a entrada.

― Vamos! ― As crianças gritaram animadas.

Saímos da Praia Vermelha e pegamos o primeiro bonde que nos levou ao Morro da Urca e de lá fizemos o trajeto até o topo do morro do Pão de Açúcar que fica a exatos 394 metros no nível do mar

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Saímos da Praia Vermelha e pegamos o primeiro bonde que nos levou ao Morro da Urca e de lá fizemos o trajeto até o topo do morro do Pão de Açúcar que fica a exatos 394 metros no nível do mar.

― Existem diferentes histórias para justificar o nome do lugar. A mais popular diz que durante os séculos XVI e XVIII, no auge da produção de cana de açúcar, os produtos eram armazenados em blocos de açúcar que se assemelharam ao monte e por causa disso surgiu o nome ― Alfonso, o mexicano, explicou. Achava engraçado como ele sabia coisas demais sobre o Brasil e nem morava aqui á tantos anos assim.

― O bondinho foi inaugurado em 1912. Foi o primeiro teleférico do Brasil e terceiro do mundo ― continuou ― de lá pra cá mais de quarenta milhões de pessoas já passaram pelos bondinhos.

Alana estendeu as mãos bem alto mostrando que tinha uma dúvida.
― Diga, princesa ― Alfonso falou com a pequena.

― Papai... Quantas pessoas são quarenta milhões? ― essa era uma pergunta bem interessante e eu queria ver como ele encontraria uma resposta.

Alfonso coçou a cabeça pegando a pequena no colo em seguida.

― Sabe lá o estádio do Maracanã que a gente viu lá no Cristo? ― Mateus perguntou a Alana antes que Alfonso pudesse explicar.

― Sei sim ― Alana respondeu balançando a cabeça freneticamente ― Papai me levou lá uma vez. Tinha um montãaaaaaaaaaaaaaao de gente lá ― completou fazendo um gesto com as mãos que queriam dizer exatamente isso. Que o lugar estava superlotado.

― Então... é como se tivessem quarenta daquele estádios cheios, bem cheios.

Alana arregalou os olhos e Alfonso colocou a menina no chão novamente impressionado com a sabedoria do pequeno Mateus.

― Uau, papai ― ela encarou Alfonso com o rosto expressando sua perplexidade ― é um montão de gente mesmo.

― É sim, meu amor ― ele bagunçou o cabelo da filha com as mãos fazendo a menina dar uma risadinha.

Bia olhava para o filho encantada com a forma dele explicar uma coisa complexa a uma criança.

― Parece que alguém tem um filho bem inteligente por aqui ― ela sorriu feliz para meu irmão.

― Você gosta de futebol, Mateus? ― Alfonso quis saber.

― Sim, senhor ― Respondeu animado ― gosto muito.

― E pra que time você torce? ― quis saber, mas antes que Mateus conseguisse responder o mexicano convencido ergueu um dedo ― espero que sua resposta seja sábia.

Mateus passou a mão pelo cabelo enquanto Ravi e Alfonso estavam aguardando ansiosos para saber qual dos dois iria dizer que gostava mais do menino.

― Só existem times tricolores no mundo, todos os outros ainda precisam aprender muito para merecerem ser chamados de times.

― Tenho a impressão de que vamos nos dar muito bem, garoto ― Alfonso falou passando o braço pelo ombro do menino levando-o para explorar o lugar. Nós os seguimos.

Alana estava de mãos dadas com Ravi tagarelando sobre alguma coisa, Sam e Alice cochichando sobre, provavelmente, a Bia e o desejo repentino de minha cunhada por ignorar uma pessoa sendo completamente mal educada.

Bia andava ao meu lado. Estava absorta olhando a paisagem. Os pensamentos pareciam estar bem distantes dali, e eu gostaria mesmo de acreditar que ela estava pensando em mim.

Queria saber se ela pensava em mim como eu pensava nela.

Bia não saia da minha cabeça e eu começava a me perguntar o que estava acontecendo de errado comigo.

Bia sorrindo, dançando comigo, nos observando na praia.

Eu não podia continuar pensando essas bobagens. Eu tinha tudo sobre controle.

Eu tinha tudo sobre controle.

― Deve ser difícil, né? ― perguntei a primeira coisa que me veio á cabeça, quando Bia fez uma careta estranha que indicava que não tinha entendido eu percebi que não devia ter tocado nesse assunto ― Criar uma criança sozinha.

― No começo foi mais, agora Mateus já é grandinho e um menino muito compreensivo ― ela soltou o cabelo mexendo um pouco nos cachos ― também não estou sozinha. Moramos com meus pais e eles ajudam e ajudaram muito em todo o processo. Minha mãe cuidava de Mateus quando eu estava nas aulas.

Assenti.

― No seu país tem muitas mães solteiras também? ― quis saber.

― Na verdade não... ― fiz uma pausa pensando em como podia explicar sem dizer toda a verdade. Bem... não tinha ― A Índia é um país difícil pras mulheres.

Ela fez um bico entortando a boca um pouco. Tinha certeza que estava comparando com o que Alice descreveu.

― Alice vai falar sobre isso no livro novo ― falei baixo ― ,mas ainda é segredo.

Bia fez o sinal de fechando o zíper na boca.

Eu ri.

― E o pai dele, ajuda você de alguma forma? ― perguntei.

― O que você viu na praia é uma constante. ― suspirou ― Marcos marca com ele e acaba desmarcando em cima da hora. Eu me sinto mal por ter dado ao meu filho um pai tão egoísta ― balançou a cabeça em negativa ― eu tento ser uma boa mãe para compensar a falta que eu sei que Mateus sente de uma presença masculina, mas ás vezes é... ― ela puxou o ar, muito ar soltando-o em seguida com força ― frustrante.

Assenti em silêncio.

― Ele foi meu primeiro namorado. Era o clichê das histórias sabe? O bad boy, e eu achei que seria como as mocinhas dos filmes que conseguem fazer com que o cara se apaixonasse por mim e mudasse completamente ― Bia ficou em silêncio por alguns instantes parando de andar se encostando na mureta.

Ela uma visão linda, e certamente eu não devia pensar essas coisas com a mulher abrindo o coração a minha frente.

― Eu achava que eu era o problema ― deu uma risada sem graça ― achei que não era uma mocinha boa o suficiente para fazer alguém largar tudo por mim. Por nosso filho.

Bia virou de costas para mim e olhou a paisagem a sua frente. Fiz o mesmo me encostando na mureta ao lado dela. Ficamos olhando para frente por um longo tempo e achei que ela não falaria mais nada.

― Marcos é, definitivamente, o pior pai que eu poderia querer pro meu filho. E eu nunca vou poder mudar isso porque fui uma adolescente burra que não pensei nas consequências dos meus atos ― depois ela colocou a mão na boca como se tivesse falado uma besteira ― eu não tô dizendo que me arrependo do meu filho ― Bia procurou o garoto com o olhar e sorriu quando o viu brincando com Alana e Ravi. Alfonso estava abraçando com a esposa e Henrique entre eles. Sorriram para nós quando perceberam que estavam sendo observados  ― Mateus é a alegria da minha vida, eu só queria ter sido esperta o suficiente para ter dado a ele um pai que fosse bom pro meu filho.

Ela ficou calada e dessa vez eu tinha certeza que não ia mais falar nada.

― Não é sua culpa ― comecei ― Não precisa carregar esse peso com você. Você é uma boa mãe e eu tenho certeza que seu filho pensa o mesmo de você. Mateus é um menino incrível e você o criou muito bem.

Os olhos dela se encheram de lágrimas, e eu nunca quis tanto abraçar alguém na vida. Queria que Bia soubesse que ela estava mesmo fazendo um bom trabalho.

― Se o pai do seu filho não percebe o quão maravilhoso ele é, ele é quem perde. Não Mateus. ― Ela abriu a boca para protestar, mas coloquei o indicador em sua boca ― Tenho certeza que seu pai também deve ser um ótimo exemplo para ele ― Bia assentiu ― ele me falou um pouco do dada dele na praia quando nos conhecemos. Parece que eles sem amam muito.

Um sorriso discreto de formou em seus lábios.

― Acho que no fim das contas todo mundo carrega um pouco da culpa por algo que não é exatamente sua culpa ― ela torceu a boca e fez uma careta mostrando que não concordava muito ― Nós descobrimos á pouco tempo, no dia que minha sobrinha Amisha nasceu, que minha dadi fez uma coisa horrível e mamadi carregava essa culpa por muitos anos.

Bia me olhou com curiosidade queria o resto da história.

― Raji, vamos? ― Meu irmão chamou ao longe ― As crianças estão com fome.

Bia secou uma lágrima que acabou caindo e sorriu para mim. Ergui o braço a sua frente mostrando que devia seguir. Nos juntamos ao resto do grupo, Mateus veio para seu lado abraçando a mãe pela cintura. Contava que havia sido convidado por Ravi e Alfonso para assistir o próximo jogo com eles no estádio. O Fla Flu aconteceria em duas semanas e o menino estava animado prometendo a mãe que comeria todos os legumes que ela quisesse sem reclamar se a mãe deixasse com que ele fosse. Bia disse que ia pensar, mas eu já conhecia bastante dela pra saber que ia permitir que Mateus fosse sim.

Parei de andar ao repassar aquela frase em minha mente.

Eu já conhecia Bia o suficiente.

Ou achava que conhecia, depois da Karina era difícil dizer. Mas Bia parecia ser muito diferente dela. E esse era um grande problema, Bia era diferente de Karina, também era diferente de Alice. E, pra ser sincero comigo, eu já nem pensava mais em Alice da mesma forma que antes.

Talvez Sam tivesse razão.

Talvez as coisas pudessem não acabar bem.

― Raji ― Alice chamou fazendo com que todos os outros me olhassem e estranhassem a distância do resto do grupo ― você não vem? ― perguntou.

Assenti.

Eu iria.

O problema era que não sabia para onde exatamente eu estava indo.


Olá, amores!! Essas últimas semanas foram muito complicadas pra mim

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Olá, amores!!
Essas últimas semanas foram muito complicadas pra mim. Eu fui desligada da empresa e eu amo demais aquelas crianças... não estou nada legal ainda. Por conta disso minha família está sendo mais próxima e me levando pra sair o máximo possível... mal tenho ficado em casa.
A parte boa é que agora vou poder escrever mais... rs
Semana que vem estou em casa e vou escrever maaaaaais!! Estarei aqui de forma mais constante e em breve vamos saber da Maala!

Mas me contem, o que acharam o capítulo?
Beijos e até breve!

Tradicional Essência [Degustação]Where stories live. Discover now