Areia e Sangue

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Quando a dupla cortava as areias finas aquela manhã em direção ao canyon buscando informações sobre Civitus, a temperatura atingia aproximadamente 65 graus, e o calor escaldante derretia qualquer expectativa ou esperança de sucesso, porém, agora no fim da noite, os dois retornavam na mesma trilha que antes percorreram, e tudo havia mudado. Titã por ser mais forte e robusto guiava o caminho com um grande cobertor negro feito de peles de Veados Adax gigantes do deserto, enquanto Azus na retaguarda seguia por baixo da enorme pele deixando o amigo se encarregar da rota a frente, e apesar da temperatura de -25 graus negativos da noite desertica, o interior de Azus ardia em uma mistura de raiva, esperança e coragem, era como se todo o mundo conhecido fosse uma enorme caverna que acabara de ter seu teto abalado por dinamites, revelando os contornos de um céu arrebatadoramente claro, porém, como alcançar essa imensidão azul, como respirar o ar que transborda tão acima, estando acorrentado como um ser minúsculo no meio desse turbilhão de informações que explodira o teto de seu pequeno mundo.

Titã por outro lado, apesar de sempre ter se considerado o mais impulsivo e radical dos dois, parecia agora ter o maior senso de prudência naquela situação, pois, como seria possível dois seres minúsculos em meio a todo esse caos, atravessar o mundo para realizar uma fantasia de derrubar um Deus para mudar a realidade de todos, mesmo apesar de sentir a fúria daquele pequeno ser, que tremia agarrando-se a suas costas tentando roubar o máximo de calor, como poderia ele aceitar tal investida suicida.

A realidade para Titã sempre fora aquela, matando e roubando desde os sete para sobreviver, tinha o deserto como um pai violento e alcoólatra, castigando e arrancando pedaços de sua sanidade, a água podia ser vista como uma mãe velha e doente que dava as caras raramente porém trazendo um pouco de esperança a sua alma desesperada, o fato é, quando Azus entrara em sua vida, Titã encontrara um novo motivo para viver, ao olhar para aquele ser humano tão menor e fisicamente mais fraco, porém determinado a lutar contra todo a fúria do deserto para sobreviver, era algo novo para seu mundo, pois o deserto provara toda sua vida que a sobrevivência destinava-se aos mais fortes e aptos, mas ainda assim, ali estava aquele ser, lutando, roubando, insistindo em viver, e agora os dois chegaram nesta situação.

Durante todo o caminho, o silencio reinou enquanto a dunas deslizavam sobre seus pés, a frente a protuberância negra onde se eram despejadas oferendas e que se erguia no meio do deserto ainda despertava estranheza em Titã, passando em frente observou as estranhas marcas circulares que se localizavam ao longo do cano negro, até o momento que uma das marcas se acendeu em um brilho vermelho, lançando um efeito cadeia em todas as outras que acordaram ao mesmo tempo, antes de Titã reagir raios de luzes vermelhas dispararam em sua cabeça descendo de forma a percorrer todo seu corpo musculoso e em seguida recolheram-se ao silencio negro do cano.

− O que foi isso Titã? Porque você parou?

− Eu não sei como te explicar o que aconteceu aqui ainda, quando chegarmos lá eu tento

− Vamos logo antes que eu morra congelado aqui atrás! e você sabe da lendas do deserto, eu não quero ser esquecido nas areias e virar um zumbi de Anupos.

− Não se preocupe, Anupos não quer zumbis anões ou que pesam 20 kilos

− Vai zoando, vai.

Os dois Continuaram a seguir deserto adentro, até Titã avistar os primeiros sinais do povoamento, seus passos diminuíram lentamente, até pararem.

− O que foi agora Titã?

Titã não respondeu, seu corpo parecia uma montanha bloqueando toda a vista e passagem.

− Ei o que está acontecendo? Não vai falar nada? Eu quero ir pra frente, dá licença.

− Não sai! – Falou Titã em uma voz áspera e seria que Azus nunca ouvira antes – Eu resolvo isso.

Cães do DesertoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora