O Segredo da Irmandade

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Século XV

    Curiosamente, o jovem búlgaro não suportava mais o silêncio do pequeno conde, e Vlad não aguentava mais a insistência de Alper em querer conversar. Foi assim ao decorrer de uma rigorosa semana, o garoto se rendera, tanto ao silêncio quanto ao castelo, não havia muito a se fazer dado a realidade em que a fortaleza era um universo implacável, onde para para cada ação diferente do estimado existia uma reação imperdoável, para evitar o pior, era muito mais preferível agir como um corpo sem alma do que apanhar a troco de coisa alguma; sofrer em silêncio parecia melhor do que ter seu exterior deteriorado, ninguém conseguiria viver de tal forma sem macular a própria razão. Vlad travava uma luta diária contra o castelo e tudo que o queria tornar louco.

    O jovem búlgaro, por sua vez, guardou seu auterego para oferecer espaço a um Alper em busca de redenção, o único problema era que este seu lado mais irritava do que qualquer outra coisa, e em muito pouco tempo o inquietante Alper conseguiu virar o jogo, atormentando o conde com a mesma insistência de um gato por atenção humana.

– Você é um bobo, Vlad. Um bobo – dizia zombeteiro, como um bufão na sua própria corte. – Tão bobo que leva pequenos assuntos ao extremo.

    Provocativo e sempre rindo de canto, ele praticamente gargalhava ante a face do menino, que naquele ponto, esforçava-se para não responder absolutamente nada, ação que insentivava cada vez mais as implicâncias do adolescente na cama ao lado.

– É burro como um cabrito – exaspera, então aperta os labios, pronto para s÷u escárnio mais vil – Bééé – a onomatopeia nunca pareceu tão hostíl, ele balia vez ou outra nos ouvidosdo garoto, era um verdadeiro suplício, mas o conde deveria tinha determinação – Não vai falar nada mesmo? – mas riu do que perguntou, e enquanto centrava a visão sobre o menino, o menino evitava olhar para ele.

    O fato devia ser admitido: era extraordinário ver como Alper conseguiu tornar o motivo de silêncio do conde em uma situação mais para inconveniente do que divertida, a antes tão séria situação tornara-se um jogo do silêncio onde o ego de ambos os participantes era o prêmio e só acabaria se Vlad cedesse às provocações ou Alper desistisse de implicar.

– Todo valáquio é convencido como você? – perguntou, visto que o garoto o ignorava, e como já esperado, nada respondia.

    Podia parecer que não, mas Alper estava por um triz de enlouquecer com a atitude esnobe de Vlad, ele insistia em fazer de conta que seu treinador era invisível e, se havia algo que Alper detestava , era ser ignorado. Para ele isso não era tão diferente de uma decepção amorosa, pensava irônico, até porque o menino que o odiava era seu aprendiz por designação, e agora a atmosfera entre eles era sufocante e Alper estava mais que decidido a mudar a situação.

– Anda Vlad! Não pode ser assim pelo resto de nossas vidas! – saculejou o menino e ele se desfez do toque com desprezo, ação que serviu como aumento às frustrações do jovem guerreiro. – As coisas não vão se resolver se você continuar assim – e esperou por um momento, na esperança de ouvir alguma palavra do garoto, mas nada do que fazia adiantava.

    E as frustrações deram lugar a raiva do guerreiro, fazendo-o desferir golpes em seu leito, assustando os vizinhos.

– Que maldição! Eu pedi desculpas, o que mais você quer?! Eu te treinei, te ajudei, até mesmo repreendi os garotos que murmuram de você. Agora parece que eles tinham razão, você é um garoto mimado e arrogante! Apareceu aqui como um garotinho assustado, mas sabia que uma hora mostraria o lado burguês e podre da sua família!

Segredos de Vlad(PAUSADO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora