Luxo, Ira e Mistério

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Século XXI


    O cenário era o interior de um salão refinado, o piso era lajotado e encerado, um brinco, no mais chegado de um elogio. As paredes eram de mármore, revestidas na excelente fortificação de uma obra antiga e reformada, esta mesma agrupava grandes quadros velhos conservados em molduras de madeira as quais procuravam resgatar o ar do tempo em que as pessoas retratadas nas telas viveram.

    Um imenso e magnífico lustre estava ligado ao teto bem no centro por puro luxo, elegância, gosto, preferência, seja lá como chamariam tal vaidade; por fim alguns móveis, uma taça de cristal suja de batom vermelho acompanhada de uma garrafa do melhor vinho holandês em cima de uma grande mesa e suas trinta cadeiras conjuntas.

    No cenário do esplêndido salão havia uma única pessoa presente, uma mulher à primeira vista atraente, à segunda, séria ou concentrada, e à realidade: preocupada, impaciente, enraivecida e até mesmo angustiada pela demora sem fim de uma simples notícia.

    Ela vestia preto, um vestido longo colado mas solto ao chegar nos joelhos, estilo cauda de sereia; um decote orgulhosamente maligno, tentador; um colar de brilhantes que auxiliava (ou exagerava) a exibição dos seios. Os cabelos em um tom de loiro metálico, a tez tom de leite, o rosto maduro muito bem maquiado e os olhos cor de âmbar realçados em um toque de ousadia. Isso dependia do humor diário? Não, ela era assim habitualmente, gostava de exalar poder, afinal era dona do salão e do monastério que se podia enxergar além dele.

    Cansada de ziguezaguear e escutar o barulho de seus saltos altos no chão, a mulher decide se sentar à mesa, mas não sem antes encher a taça com mais vinho e virá-la de uma vez em combustão, as notícias demoravam e isso a fazia ferver por dentro.

- Aqueles estúpidos... - resmungava desagradada. Havia mandado um novo grupo para a Grã-Bretânia após o atraso do primeiro; este novo grupo daria um relatório da missão, mas estava demorando e isso era aborrecedor; a "direção" a enchia com exigências e reclamações, isso era muito estressante.

    Dedilhou na mesa ainda estressada, queria arranhar sem dó as unhas na madeira devido a raiva que sentia naquele exato momento, os olhos carregados de fúria, preocupação, olheiras e maquiajem focaram-se na cor do vinho por um curto tempo. Sua vontade era arremessar a taça e assim aliviar um pouco de sua ira através da força, só não fez porque as altas portas do salão se abriram antes.

- Com licença, já temos notícias da missão - uma mulher jovem e muito parecida com a de preto entrou no vaidoso cenário.

- Já estava mais do que na hora! - expirou num timbre grosseiro tanto quanto aliviado. Tomou outro gole de vinho - O que está esperando? Conte!

    A mulher mais jovem se aproximou com uma pasta escura, a depositou sobre a mesa e a abriu diante da mais velha, revelando alguns papeis, jornais e fotos onde trê homens já conhecidos eram notoriamente exibidos.

- Steev, Kurt e Brian Coster. Os irmãos Coster. Caçadores de recompensa desde a juventude - a mais nova apontou as fotos dos tais citados - Foram mandados à Londres há duas semanas para confiscar a relíquia - a jovem revelou mais uma fotografia, a de um caixão argênteo.

- Isso eu já sabia - a mulher de preto falou tediosa. Encheu novamente a taça, bebendo e espiando de canto os três estúpidos que, mesmo sendo idiotas, eram bonitos. Lembrou-se de haver estado com eles em momentos mais "oportunos" - Quero saber o que aconteceu com eles e com a missão, claro, pela sua cara já sei que a notícia é ruim.

- A missão falhou. O primeiro grupo foi eliminado.

    A mais velha, antes revirando os olhos em outro gole, agora os arregala perplexa.

- Foram eles, não foram?! - o desgosto era muito bem visto na face da mulher, odiava "eles", os malditos rivais - Aqueles desgraçados!

- Temo que seja algo pior.

- Pior como?

    A loira jovem retira mais fotos dentre as papeladas, fotos que se diriam pertubadoras: fotos de pessoas mortas. A mais jovem não era a favor de encarar aquelas cenas fotografadas, entregou-as para a superior que, ao contrário dela, tinha o estômago mais forte.

- As três primeiras fotos são dos vigias do museu assassinados, e as cinco últimas dos irmãos Coster.

    A elegante visualizou as imagens das vítimas, uma a uma, os corpos sem vida de homens trabalhadores e ladrões patéticos; fotos de homens de família que sustentavam esposa e filhos e caçadores de recompensa que não fariam falta no mundo. Era injusto? Sim, contudo a loura não deu importância para isso. O que lhe chamou a atenção era a maneira de como eles morreram. As marcas de mordida nos dois irmãos, a haste de ferro cravada na cabeça do terceiro... esse não era o estilo dos rivais, eles tinham discrição, não fariam nada que os delatassem. Esse massacre retratado em papéis com certeza não era deles.

Mas então de quem era?

- Os vigias foram mortos com tiros na cabeça, provavelmente os irmãos Coster foram os responsáveis - a jovem informava a outra - Mas os Costers foram assassinados de um jeito tão inexplicável e medonho que, segundo nossas fontes, as investigações tentaram abafar, mas não puderam evitar os boatos.

- Boatos? - a de preto semicerrou as pálpebras num ar duvidoso. A mais nova entregou-lhe uma folha de jornal londrino.

- O grupo que mandamos enviou isso junto com o relatório das investigações britânicas - ela não mencionou que o segundo grupo conseguiu tal relatório através de suborno, mas isso era algo explícito entre as duas.

    A loira misteriosa pegou a folha do jornal, estava em inglês mas ela sabia falar o idioma. Era a folha de um jornal chamado "News from London", a data era "september 7", a notícia de primeira página e as letras maiores em negrito destacavam o assunto que mais interessava.

"Is Dracula among us?"

Segredos de Vlad(PAUSADO)Where stories live. Discover now