"Não somos uma família de verdade"

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Tive que tocar a campainha uma porção de vezes até que alguém notasse a minha presença, até que finalmente deu certo.
- Alguém desliga essa merda de som e vai atender a droga da porta! – gritou uma voz de dentro da casa.
- Cheryl?! O que você está fazendo aqui?! – perguntou Toni ao abrir a porta e me ver, ela ficou com uma feição de surpresa, mas não parecia ser no bom sentido.
- Eu disse que eu era uma ótima detetive! – respondi rindo.
- Cheryl eu te falei pra não vir!
- Mas eu vim, e não vejo problema algum em eu conhecer a sua família, a não ser que você não queira! – respondi a olhando séria.
- Não é isso...- falou ela de cabeça baixa.
- Então o que é?! Você tem vergonha de mim? Me fala Toni, por que eu não posso conhecer a sua família?! – perguntei olhando dentro dos olhos dela, nada disso fazia sentido, será que eu era tão sem graça assim para que ela não quisesse me apresentar para a família dela?! Isso era praticamente inadmissível, aliás é impossível não gostar de mim, então isso está fora de questão, portanto ela me deve um bom motivo para todo esse drama!
- Eu não tenho vergonha de você Cheryl, e nunca teria, é que... A minha família não é tão simples como parece.
- Acho que você tem que ser mais especifica...
- Vem comigo! – falou ela pegando na minha mão e me levando para outro lugar, eu não sabia onde íamos, mas mesmo assim não disse nada, talvez o que ela queira me dizer algo que é importante para ela, então eu simplesmente a acompanhei. Andamos por algumas quadras e chegamos em uma pracinha, eu nunca tinha vindo aqui, na verdade eu nunca fui para lugar algum desse bairro!
- E então, será que agora você pode me explicar o por que disso tudo?! – perguntei me sentando em um balanço ao lado dela.
- Me desculpa pela minha atitude, eu não queria que você fosse em casa por que não somos uma família de verdade...- respondeu ela desviando seu olhar.
- Como assim não é uma família de verdade?!
- Meu pai criou eu meu irmão sozinho, mas ainda quando erámos crianças ele ficou muito doente e então...
- Ta tudo bem amor, pode contar! – falei pegando na mão dela ao perceber que seus olhos encheram de lagrimas e sua voz começou a ficar tremula.
-... E então ele nos deu embora, como objetos sem valor, ele simplesmente nos vendeu para outra pessoa e nós tivemos que ficar com essa mulher que se acha a nossa mãe! Ela não é nada fácil de se lidar, por isso não queria que você fosse na minha casa Cheryl, não tem nada de errado com você, é só a minha família...- falou ela soluçando e deitando sua cabeça em meu ombro, eu não fazia a mínima ideia de que esse era o motivo pelo qual ela não me queria na casa dela, eu nunca imaginaria uma coisa dessa e isso afetava muito ela, então tudo o que eu tinha que fazer era consola-la.
- Ei, ta tudo bem Toni, eu te entendo e quer saber, não existe família perfeita, nunca vai existir! – respondi limpando suas lagrimas.
- Se essa família for ao seu lado, então seria a única perfeita! – falou ela olhando dentro dos meus olhos, nós começamos a nos beijar com aquela leve brisa nos nossos cabelos, aquele vento do fim de tarde era a sintonia perfeita no clima que estava entre nós duas! Parece que quando nos beijamos, toda e qualquer cicatriz se curava, e que nenhuma tristeza existia enquanto nossos lábios se tocavam, era como mágica!
Ficamos por horas sentadas no balanço da pracinha onde estávamos, e ainda que o sol ia se pondo, nós não nos importávamos, só de estar ali com ela era perfeito! Ela ainda estava triste por ter escondido de mim a verdade sobre a sua família, mas eu entendia perfeitamente o sentimento dela, não deve ser nada fácil ter que passar por tudo que ela passou, e ainda quando era criança! A minha infância foi como a de uma princesa, eu já nasci rica com empregados fazendo tudo por mim, tudo sempre foi tão fácil, que eu achava que todos tivessem esse privilégio como eu, mas depois eu voltava para a realidade e me lembrava de que existia várias realidades diferentes, inclusive uma infância ruim como a da Toni!
- O que você acha da gente beber esse vinho?! – perguntou ela olhando para o vinho que eu havia trazido para o jantar, e como não houve esse tal jantar eu achei uma ótima ideia!
- Mas a gente nem tem taças aqui...- falei olhando para ela.
- E quem disse que precisamos de taças?! – respondeu ela pegando a garrafa de vinho da minha mão e o abrindo, ela piscou para mim e virou a garrafa na boca.
- Eu amo essa sua loucura! – falei pegando a garrafa da mão dela e também a virando na minha boca, fizemos isso até a última gota de vinho! Riamos a toa e nos beijávamos entre essas nossas risadas sem sentidos, eu me sentia nas nuvens, não pelo fato de estarmos bêbadas, mas sim por estar com ela!
- Onde está essa desgraçada! TONI TOPAZ quando eu te achar você vai estar bem encrencada! – gritou uma voz vindo da esquina.
- Ai meu Deus é a minha mãe! Eu não avisei quando sai e esqueci totalmente do jantar, vai embora Cheryl se não ela vai te matar! – falou Toni me olhando desesperada.
- Não eu não vou te deixar aqui!
- Ta tudo bem, eu me viro com ela, mas você precisa ir! Por favor Cheryl vá! – suplicou ela olhando dentro dos meus olhos, eu não queria ir e deixar que ela levasse a culpa sozinha, mas ela me implorou então eu apenas a obedeci sem questionamentos, só não sei se isso foi a coisa certa...

Amor sem limitesWhere stories live. Discover now