Ele a segurou pelos braços e a sacudiu.

−  E o que mais?

−  Fomos também ao shopp...      

Ela mal terminou de falar e Roberto desferiu um soco tão violento em seu rosto que a derrubou.

−  Com quem? Com quem vocês foram?

Adriana sentiu gosto de sangue e levou a mão à boca para limpar os lábios partidos, antes de se encolher aos pés da cama e as lágrimas aflorarem copiosamente em seus olhos.

−  Com ninguém, Beto. Com ninguém. Fomos só a Lê e eu.

−  Eu não sei por que mente tanto para mim, Dri. Mas tenha certeza que eu vou descobrir, mais cedo ou mais tarde. E quando isto acontecer... eu não gostaria de estar na sua pele.

−  Pare de me ameaçar. – Ela fixou os olhos nele, apesar do medo que contraía terrivelmente seu estômago e a fazia suar frio. – Senão eu vou embora desta casa e você nunca mais vai me ver na sua vida. Nem a mim, nem a Letícia.

−  Pois experimente fazer isso – desafiou Roberto, após erguê-la por um dos braços e chacoalhá-la outra vez – e você é quem nunca mais verá a sua filha.

Adriana tentou manter a voz firme. Ela não podia sucumbir ao medo, muito menos deixar que o marido sempre usasse a filha como alvo principal de suas chantagens.

−  Você sabe muito bem que não pode tomar legalmente a Letícia de mim, principalmente quando o juiz souber o quanto é agressivo. Além disso, eu tenho toda a condição de criar minha filha e, nestes casos, raramente o juiz não fica a favor da mãe.

Com o dorso da mão, ele a acertou pela segunda vez. Ela tornou a cair.

−  Você quer pagar para ver?

Desta vez, Adriana bateu com a cabeça na mesinha de cabeceira e ficou tão atordoada que por algum tempo não teve condição sequer para pensar, muito menos para responder. Quando enfim conseguiu se levantar, alguns instantes depois, disse a si mesma que não havia mais qualquer possibilidade de continuar ao lado de Roberto. Mas ele nunca lhe daria o divórcio, portanto, sua única opção era fugir. Ela, porém, não arriscaria a segurança de Letícia. A menina era seu bem mais precioso, sua verdadeira razão de viver. Tanto que se não fosse pela filha ela já teria dado um jeito em sua vida.

Suicídio. Ela pensara muitas e muitas vezes, principalmente durante as madrugadas. Mas nessas horas lembrava que Letícia precisava dela, e dava graças por um dia Deus ter colocado aquele pequeno ser em sua vida.

Ainda era cedo, sete horas da manhã, quando Daniel levantou, tomou um banho e seguiu para a cozinha, para preparar o café da manhã.

Ele mal conseguira dormir durante quase toda a madrugada, pensando em como o destino às vezes brincava cruelmente com o sentimento e a vida das pessoas, pois havia lhe separado de sua amada por tanto tempo e apenas agora, depois de dez anos e após ela estar casada, colocara-a de volta em seu caminho, num perigoso triângulo amoroso. Apesar disso, ele não conseguiu evitar que uma doce ilusão arraigasse em seu coração e tomasse proporções imensas.

Mas suas esperanças começaram a murchar à medida que as horas passavam e o telefone não tocava.

Ele tentou entreter-se enquanto aguardava que Adriana ligasse, lendo o jornal da manhã; no entanto, o telefone continuava sem dar nenhum sinal de vida.

Aguardou até dez horas da manhã. E nada. Adriana não ligou. Resolveu então acordar o filho, que dormia tranquilo no quarto decorado somente para ele, e, depois de dar-lhe o café, levou o garoto para a casa dos avós.

...Where stories live. Discover now