Naquela sexta-feira, quando Roberto chegou ao escritório do seu amigo Waldo, os nervos agitavam-se sob sua pele como se fossem vespas atiçadas. Já fazia quase dois meses que ele esperava por notícias da esposa e da filha, e nada. Mas ele não ia se conformar enquanto não as encontrasse, enquanto não as trouxesse de volta para casa. Faria qualquer coisa para tê-las de volta ao seu lado. Qualquer coisa mesmo.
− Assim não tem condições, cara! Estou com os nervos à flor da pele. – Ele chegou gritando. – Não aguento mais esperar.
Waldo Prates, um homem de estatura mediana, expressão suave e sorriso fácil, fitou-o por detrás de sua escrivaninha e dos óculos redondos, antes de dizer com voz tranquila:
− Calma. Se chamei você aqui hoje, é porque tenho novidades.
− Pois já não era sem tempo.
− Você há de concordar comigo que a tarefa não era das mais simples, afinal, não havia, em princípio, nenhuma pista. A única forma de chegar a Adriana era por intermédio da sua filha. Só que a menina ficou aproximadamente duas semanas sem ir à escola e, quando voltou, tinha mudado para o período da tarde. Perdi pelo menos três semanas vigiando a escola na parte da manhã para só então descobrir isso...
− Esse é o seu trabalho – replicou Roberto impacientemente. – Além disso, está sendo muito bem pago para fazer isso.
− Sei disso e não estou reclamando. Mas a maior dificuldade é que a menina vivia acompanhada por seguranças; e estes, quando percebiam que estavam sendo seguidos, ficavam dando voltas pela cidade até conseguir despistar. Não faz ideia de como deu trabalho para descobrir onde elas estavam.
Roberto franziu o rosto.
− Seguranças?!
Waldo fez que sim com a cabeça e completou:
− Dois.
− Não pode ser – resmungou Roberto, andando de um lado para o outro da sala. – Adriana não tem dinheiro suficiente para isso, mesmo porque nossa conta é conjunta e eu bloqueei o cartão e a senha dela...
− Você fez isso? – perguntou Waldo, um pouco surpreso.
− Fiz. Mas isso não é da sua conta. E encurta logo essa história e me diga onde elas estão.
Waldo deu de ombros. De fato, aquilo não lhe interessava. Nem um pouco.
− Estou lhe explicando tudo isso para você entender que o processo foi realmente muito complicado. Sua esposa conseguiu complicar bem as coisas. Isso porque você me disse que ela não era muito esperta, imagina se fosse...
− Olha, cara, mesmo admitindo que subestimei a capacidade da Adriana, posso lhe garantir que ela não teria dinheiro para pagar esse tipo de despesa. Acho que tem alguém por trás disso tudo... Alguém que fez a cabeça dela contra mim. Você acredita que ela me denunciou logo após sair do hospital? Que fui intimado?
− Cuidado com a Lei Maria da Penha – alertou Waldo. – Isso pode dar cadeia.
− Não estou preocupado com isso. Ela não compareceu à primeira audiência e, segundo meu advogado, quando a mulher não comparece às audiências, o processo é simplesmente arquivado. Mas vamos ao que interessa... Tem alguém por trás disso tudo?
− Tem sim – afirmou Waldo. – Ela e a menina ficaram algum tempo no apartamento de um rapaz... Como é mesmo o nome dele? – Waldo forçou a memória para lembrar; como não conseguiu, abriu uma gaveta, pegou um bloco de anotações e conferiu o nome – Um tal de Daniel Diniz Pacheco. Conhece? É primo da sua esposa.