Capítulo 59

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Vida

A lua derramava sobre nós sua luz e suas bênçãos.  A festa estava animada, e mesmo tendo que ficar separada de Alex, eu estava me divertindo.
Pois na nossa tradição, a festa começava com os homens separados das mulheres.  A União dos casais só acontecia depois da dança dos noivos. E esse era o momento que coroava o matrimônio do novo casal. Era tipo uma dança do acasalamento como minha prima Pilar costumava dizer para escandalizar a todas nós moças.
Ao espantar um inseto com a mão, vi o pequeno corte que a Baba fizera quando chegamos vindos do castelo.  Antes das bebidas, das comidas e das músicas tínhamos um ritual ainda a cumprir.
Sob a luz da lua e das tochas, a Baba reuniu a mim e a Alex para o casamento cigano.
Comemos do mesmo prato de sal, bebemos da mesma taça de vinho e demos um ao outro um pedaço do pão.
Então a Baba cobriu nossas mãos unidas com o lenço vermelho desejando que a paixão nunca acabasse entre nós.  Alex olhou para mim e seus olhos negros me faziam doces promessas.
Em seguida ela fez um corte no meu pulso esquerdo e no direito de Alex e os juntou com o lenço vermelho nos atando com três nós.
"Um pelo amor, dois pela fartura  e três pelos filhos. "
Naquele momento fechei os olhos e desejei dar muitos filhos fortes e saudáveis ao meu marido.
Marido... Passei o dedo sobre o corte e olhei na direção dele. Alex me olhava intensamente e ergueu sua taça em um brinde silencioso. Senti minha pele arrepiar diante da carícia de seu olhar.
A Baba inclinou-se para mim.
_ Vida temos que falar com você - sussurrou com um sorriso.
As outras mulheres se levantaram também com exceção das solteiras que continuaram nos mesmos lugares soltando risinhos nervosos.
Fomos até um dos trailers. O maior deles que pertencia a Baba e a tia Sara que vivia com ela. Nós  entramos e logo eu vi sobre a cama um lindo vestido azul.
Rapidamente, as mulheres começaram a tirar meu vestido de noiva e por em mim braceletes e pulseiras. Colocaram em mim o vestido azul e refizeram minha maquiagem deixando meus olhos ainda mais misteriosos e meus lábios mais rubros.
Então minha tia Sara pegou em minha mão e começou a falar.  
_ Lembre-se filha. Você não poderá tirar os olhos dele durante a dança.  Passe a língua sobre os lábios, faça biquinho, o que quiser, mas não tire os olhos dele. Apenas nos rodopios, já que você não tem olhos na nuca, não é?
As mulheres riram.  Então a Baba tomou a palavra entregando um lenço  branco para mim.
_ Esse é seu lençol, filha. Sobre esse lenço você irá deitar-se. - As mulheres ficam serias, embora seus labios ainda curvavam-se em divertimento. - Seu marido a possuirá,  mas não terminará dentro de você.  Suas honras irão sair e manchar o lenço.  De manhã iremos buscá-lo e seu casamento estará completo. Você entendeu?
_ Sim Baba. - eu respondi séria, morrendo de medo, mas sem admiti-lo. O ato sexual era um mistério para mim. Claro que eu já tinha educação em teoria o bastante. Eu sabia o que esperavam por mim naquela noite, mas será que eu corresponderia ao que ele esperava de mim? Dúvidas, dúvidas... Mas de uma coisa eu estava certa. Por mais que Alex houvesse despertado a paixão em meu corpo, naquele momento eu fiquei aliviada de não termos sucumbido a paixão naquele dia no quarto dele.
Acho que, de alguma forma, a Baba sentiu o meu alívio porque ela me disse em seguida.
_ Boa menina. Sua mãe estaria orgulhosa de você. Agora tenho uma última coisa a fazer.  Fique bem e que Deus a abençoe.
A Baba saiu do trailer e me perguntei o que ela teria de mais importante para fazer do que ficar ali conosco. Entre risos e brincadeiras saímos do trailer. Eu me sentindo uma verdadeira rainha cigana.
Então fui deixada no centro da arena.  Não havia leões a me devorar como aos antigos cristãos,  apenas um homem com olhos de felino a me encarar. Senti meu âmago se contorcer em antecipação.
Os violinos começaram a soar e, como sempre acontecia, senti a música me invadir. Inconscientemente,  comecei a mover os braços. Aquela tinha que ser a dança. Eu teria que ser melhor do que quando dancei para o líder de todos os ciganos.
Ouvi os murmúrios da aprovação e quando dei por mim, Alex já estava junto de mim, porém sem me tocar ainda. Mas nem precisava. Seu olhar sem deixar o meu era como se me acariciasse inteira.
As palmas e os pés batendo faziam eco ao meu coração e sabia que Alex sentia o mesmo pelo trincar de seu maxilar e pelo brilho de desejo em seus olhos negros. Meus seios estavam sensíveis contra o tecido do vestido e a excitação tomou conta de meu corpo, deixando-o trêmulo.
A música foi subindo de tom, assim como meus movimentos que foram ficando mais intensos e meu corpo se aproximava do de Alex como um círculo que ia se fechando. Até que, num último rodopio, ele me segurou pela cintura e eu desabei em seus braços como uma mulher após o êxtase.
Ele me beijou rapidamente, enquanto dizia em meu ouvido.
_ Isso, minha querida é apenas o começo. 
Antes que eu pudesse se refazer do beijo ou das palavras, ele me tomou nos braços e me colocou em um garanhao negro como a noite.  Em seguida, montou também e seguimos pela noite em direção a mais completa união  que um homem e uma mulher podem conhecer.

A Condessa CiganaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora