Capítulo 57

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Destino

Percebi que lidar com fanáticos religiosos no Oriente médio era brincadeira de criança diante da minha mãe quase tendo um ataque.
Tudo bem que já fazia uns cinco anos desde o casamento de Jeremy e Anne e eu não estava aqui para comemorar junto. Aliás eu agradeci aos céus a oportunidade de não estar aqui. Não que eu não quisesse a felicidade de meu irmão. Eu não queria era estragar a festa com a minha amargura.
Mas, agora, minha mãe estava ao ponto da histeria.  E ela nem era a mãe da noiva.
_ Destino, você avisou ao seu irmão do casamento?
_ Sim, mamãe.  Liguei ontem mesmo para ele falando de tudo que havia acontecido.
_ Você fez um relatório,  não um convite para o casamento.
_ Mãe não foi um relatório. Eu convidei Jem e Anne. Afinal ele será  meu padrinho junto com o Mac.
_ Fiquei feliz por você ter convidado Mac para ser seu padrinho. - súbito ela se lembrou de outra coisa. - O padre? Alguém lembrou de avisa-lo?
Suspirei antes de responder.
_ Padre MacMahon mora no casa paroquial adjunta a igreja, mãe.  Ele foi o segundo a saber.
Ela colocou as mãos na cintura e me encarou enquanto eu dava o nó na gravata que iria usar no almoço.
_ Você está se divertindo com meu nervosismo, não é?
Virei-me para ela e, segurando-a pelos ombros, eu beijei sua testa.
_ Mãe,  não precisa ficar tão nervosa. A família de Vida tem tudo sob controle. - eu a soltei e continuei a me arrumar.
_ Mas é isso que está me deixando maluca.  Não quero que fique tudo nas costas deles. Quero participar... - ela se sentou na cama como uma criança a quem negam sobremesa depois do jantar.
_ Mas a senhora não preparou o almoço dos noivos? Passei pela sala de jantar e está tudo lindo mãe.
_ Sim... Eu sei! Mas eles parecem tão eficazes... parece que eles já tem tudo pronto em caixas surpresas.
_ Com uma família tão grande, sempre deve ter alguém se casando.
_ É mesmo. - ela se levantou e veio até mim, ajustando minha gravata ou tirando uma poeira inexistente da minha camisa branca.
_   Você está muito elegante.
_ Obrigado. A senhora está linda, se me permite. - ela sorriu embevecida. Notei, naquele momento, que minha mãe ainda era uma senhora bonita. Só não sabia se esse fato deveria me deixar satisfeito ou apreensivo.
_ É bom ver você vestindo algo diferente de preto, Destino.
_ Esse período acabou, mãe.  A Vida transformou minha vida
Ela riu das minhas palavras que pareceram um trocadilho.
_ Eu sei o quanto vocês serão felizes.  Basta ver no olhar de vocês.
_ Eu a farei tão feliz que ela nunca se arrependerá de ter ficado comigo.
_ Sei disso, meu querido.  E  ela te fará o homem mais feliz da face da Terra também. - ela se afastou de mim com os olhos arregalados. - O almoço! Tem que estar tudo perfeito. - ela se virou pra sair. Então se virou de novo para mim, - Seu irmão! Ele chegará a tempo do almoço? Sabe que as estradas...
_ Mãe, mandei um helicóptero da Burton Tecnologias buscar ele e a Anne. - olhei para o relógio. - Eles devem estar chegando em minutos.
Súbito, um barulho de pás de helicóptero chegou até  nós. - Viu? São eles.
_ Ah, meu Deus! Então deixa eu ir ve-los. - ela correu para a porta, quase dando um encontrão em Mac. - Oh! Desculpa, Mac! Eu tenho que ir.
Mac entrou no quarto sorrindo.
_ Faz tempo que eu não a vejo tão ansiosa.
_ Ela está uma pilha desde que amanheceu. Eu duvido se até o almoço ela não troque de roupa novamente. - coloquei o paletó e virei-me para Mac. - Então? Como estou?
_ Horrível! Se aquela menina for esperta vai sair correndo de você! Deveria deixar crescer mais cabelo nessa cabeça.
_ Você é gentil em me lembrar isso, Mac. Muito apropriado. Mas saiba que foi justamente por isso que ela se apaixonou por mim.
_ Por essa cabeça pelada?! Conta outra!
Nós rimos descontraídos.  Mac foi até a mesa de bebidas e serviu dois copos de whisky.
_ A felicidade que estará presente a partir de hoje nesse castelo. - ele desejou
_ A felicidade!
Nós  brindamos e bebemos.
_ Não sei se já lhe falei isso, mas você é um homem bom Alex. Não importa o passado, você será  muito feliz. Seu tio deve estar fazendo um brinde no céu.
Mac não costumava falar muito, mas quando o fazia era de tocar o coração.
_ Você sabe que não haveria mais ninguém que eu considerasse digno de ser meu padrinho hoje a não ser você. 
Ele me abraçou emocionado. Se eu considerava meu tio Robert como pai, Mac era um tio muito querido.
Uma batida na porta nos separou. Eu limpei a garganta antes de pedir que entrassem. Mac ficou de costas para a porta.
Duncan abriu a porta e entrou.
_ Ora.. Só podia ser você a atrasar o senhor Burton não é MacLafen, seu sapo barbudo.
Mac se virou rapidamente já pronto para a briga. Ele e Duncan há anos ficavam nessa provocação mutua.
_ E você já veio para nos chatear não é bode velho? Vá procurar uma bota velha para mastigar.
_ Vou te mostrar quem é o bode velho... - Duncan já partia para cima de Mac.
Me interpus entre os dois.
_ Escutem aqui! Vamos parar já com isso. Hoje é o dia do meu casamento.
_ Mas o que é um casamento escocês sem uma boa briga, senhor Burton? - perguntou Duncan
_ Você tá muito comportadinho. - comentou Mac.
Percebi que os dois se divertiam às minhas custas.
_ Ora seus... - parti para cima deles. Os dois correram para a porta rindo descaradamente. Apenas Duncan parou na porta .
_ Senhor Burton... Em nome dos funcionários de Craigmoor queríamos que o senhor soubesse que não há homem nesse mundo que nós consideramos mais adequado para milady do que o senhor.
Aquela declaração me pegou de surpresa.
_ Mesmo eu sendo inglês?
_ O senhor é mais escocês do que muito membro do Conselho de clãs.  A gente vê o quanto o senhor ama Craigmoor. E isso é retribuído por nós. Seguiremos milady e o senhor com a maior das lealdades. Tenha certeza disso.
Depois dessa declaração, Duncan saiu do meu quarto me deixando aturdido e com o coração repleto de paz.
Outras batidas na porta. Hoje esse quarto estava movimentado!
_ Pode entrar. - autorizei enquanto colocava o relógio e pegava meu celular.
Minha mãe apareceu no vão da porta entreaberta.
_ Querido já está pronto? Estamos todos lá embaixo já.
Descemos as escadas em direção a sala privativa de jantar. Uma das salas favoritas do meu tio, era perfeita para Vida. Quando nós chegamos, fomos recebidos por Jeremy e Anne. Minha cunhada viera mesmo com oito meses de gravidez.
_ Alex! - ela fulgurava com a alegria da gravidez e com o meu casamento. - Você não sabe o quanto estou feliz por você e ansiosa em conhecer Vida pessoalmente.
_ Olá Alex. É bom ver você tão tranquilo - Jeremy me abraçou.
_ Eu que estou feliz em vê-los. E você Anne? Está belíssima. Já sabem o sexo do bebê?
Jeremy e Anne se entrolharam surpresos. Era esperado que eles se sentissem assim. No passado, eu nunca seria tão casual ou interessado.
_Oh.. sim, claro! - atrapalhou-se Jeremy. - É uma menina. Vamos lhe dar o nome de Claire
_ Claire... É um bonito nome.
_ Logo vocês também terão seus filhos, Alex. - disse minha cunhada.
Eu já lhe ia responder quando um movimento junto a porta chamou nossa atenção. Ouvi longe o "caramba" de Jeremy e o arfar de minha cunhada Anne. Eles ainda não conheciam o quanto o clã Ivanovitch era impressionante.
Ladeada por Ian de um lado e sua avó de outro, Vida era uma aparição fantástica.  Ela estava maravilhosa de um jeito que eu ainda não tinha visto. O vestido verde que usava mais insinuava do que mostrava a pele sob a renda.
Atrás deles haviam outros dois casais, mais velhos. Provavelmente os outros irmãos de Zaíra, a mãe de Vida.
Mas a minha vontade era arrebata-la para meus braços e beija-la até o fim dos nossos fôlegos.  Mas eu sabia que não deveria ser assim. Até o casamento eu não poderia toca-la ou me dirigir diretamente à ela.
_ Boa tarde! - disse dona Ilona com sua voz melodiosa.
_ Boa tarde! - respondeu minha mãe se encaminhando para eles. Eu a acompanhei. - Sejam bem vindos. Por favor, venham conhecer meu outro filho e minha nora.
_ Minha neta disse-me que seu esposo já é falecido. Meus sentimentos.
_ Já faz algum tempo... Quando meu esposo faleceu Destino tinha quinze anos e Jeremy dez.
_ Destino? - a avó de Vida me olhou com olhos divertidos. É, minha senhora, é isso mesmo. Destino... Ian mal conseguiu segurar o riso.
_ Sim. É meu segundo nome. - expliquei. -  É uma longa história.
_ Que eu vou adorar ouvir. - disse Dona Ilona. - Mas antes... Que adorável casal temos aqui. E que linda menina vocês irão ter.
Se antes a presença dos Ivanovitch haviam deixado Anne e Jeremy surpresos, eles agora estavam estupefatos.
Anne se recuperou mais depressa do que meu irmão, por estar acostumada com esse papo sobrenatural e esotérico.
_ É uma honra conhecer a senhora. Desde que Alex me falou sobre a família de minha futura cunhada eu fiquei ansiosa.
Jeremy após a surpresa inicial também estendeu a mão calorosamente.  Ele sempre foi mais simpático do que eu a primeira vista.
Logo todos estavam devidamente apresentados e conversavam animadamente. Mas havia grupos de mulheres e homens separadamente.  Mas quando eu olhava para Vida, todo o som de conversa desaparecia e sabia pelo seu olhar que ela também sentia o mesmo.

A Condessa CiganaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora