Capítulo 17

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Destino

Iniciamos a caminhada. Iria ser um tanto difícil, já que nenhum do dois estava com sapatos adequados. Mas a moça estava aguentando bem, para meu alívio.

- E então? Vai me contar a longa história ou não? – ela estava ofegante, mas não reclamava.

- É uma longa história... – eu avisei.

- Olha, você já viu o tamanho do livro E o vento levou? Ou os livros da Diana Gabaldon? Então não me venha falar de longas histórias. Eu adoro longas histórias.

- Bem, sendo assim... Hamish quer que Seamus seja o novo conde a todo o custo. Não é por uma questão de dinheiro. É por uma questão de princípios.

- Princípios?

- Sim. Um princípio distorcido de honra. Tomar posse de Craigmoor seria matar um desejo de vingança que dura mais de trezentos anos.

- Está brincando?! Quer dizer que esse senhor, que nem me conhece, quer me matar para cumprir uma vingança antiga?

- Você vai ver que nas Highlands algo que aconteceu a cem, duzentos, trezentos anos ainda é lembrado como se tivesse ocorrido ontem.

- O que aconteceu para ele odiar tanto assim os Kingcraig?

- No século dezoito, o líder dos Kingcraig era um homem chamado Malcolm. Nessa época os Kingcraig e os MacDougals eram aliados e, eu poderia dizer, até amigos. O líder dos MacDougals se chamava Douglas.

Vida parou com uma expressão estranha no rosto. Como se lembrasse de algo.

- O que foi? – perguntei.

- Nada... – ela murmurou ainda distante. – Continue.

- Bem, E como toda a amizade que se preze, sempre é estremecida por causa de uma mulher. No caso de Douglas e Malcolm duas mulheres.

- Ora... Cada um pegava a que o outro era apaixonado?

- Não. Douglas tinha uma irmã. Emma MacDougal. Levada ainda criança para viver com os parentes maternos na França. Vivendo na corte de Luís XV, ela acabou se tornando coquete e mimada. Provocou tantos escândalos que o irmão teve que ir busca-la. Emma não gostou de ter que se enterrar nas montanhas da Escócia, mas mudou de ideia ao conhecer Malcolm Kingcraig. Colocou na cabeça que iria ser a condessa.

- Mas ele não sabia disso. – ela sorriu. – Típico: Moça conhece rapaz, se encanta por ele, se apaixona. Mas ele nem aí.

Vida tinha as faces afogueadas, o que me fez pensar que era hora de descansarmos um pouco.

- Vamos parar um pouco. Você deve estar com fome. Nessa parte do rio tem peixe. Vou ver o que consigo.

- Se precisar de ajuda...

- Tudo bem. Já estou acostumado a pescar por aqui.

- Não vejo nenhuma vara de pescar com você. Ou será que o seu celular de última geração se transforma em uma. – ela caçoou.

- Eu não preciso de uma – retruquei, dando a ela meu paletó. Quando olhei para Vida, seus olhos passeavam sobre mim como se me avaliando. Notei que ela gostava do que via. Aquilo me envaideceu um pouco já que ela era uma jovem de vinte e cinco anos e eu já passara dos quarenta.

A Condessa CiganaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora