O Passado do Young Blue 5

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- Pergunte a ele o que quer dizer com isso.

Mokó assim fez. O homem respondeu algo que Mokó traduziu como:

- Se de bom coração, retornaram para entregar o que nos pertence. De seu sangue faremos um contrato.

- Sangue de quem?

- Dos meninos.

- Não vão retirar nada de meus filhos. O ouro devolvido já não é o suficiente?

- É só uma gota, de cada um deles. As almas puras que juntam a terra e o mar num mesmo corpo. Selando assim o contrato de finalização de uma maldição que dura a 110 anos.

- Terra e mar?

- Um olho verde como as terras que aqui, antes eram férteis e verdejantes. Um azul como o mar que engoliu aqueles que trouxeram a falência de nosso povo e a miséria na comida também.

Não concordava em nada com aquela ideia maluca de machucar meus filhos por uma crença em algo que poderia não passar de uma história.

- Mamãe, deixe-nos fazer isso. É só uma gotinha. - Naia falou.

- Até eu concordo com Naia, mamãe. Sei que isso parece história de contos que papai lê para mim, mas se isso vai deixa essas pessoas felizes, ou trazer para elas de volta a comida que não têm. Eu aceito. - José falou enquanto limpava seus óculos e os colocava no rosto novamente.

- Ele está convidando-os para entrar. - Mokó falou.

Segurei na mão de José Carlos e Gabriel segurou na mão de Naia. Entramos na aldeia. Alguns curiosos, que não estavam acostumados a ver pessoas com nosso tipo de vestimenta e formas se aproximavam para olhar.

Meus homens foram divididos para diferentes casas de tendas. Eu, as crianças e Gabriel fomos para uma cabana indicada pelo homem.

Mokó ao longo do caminho nos traduzia tudo que ele falava. O homem nos contava a história de sua aldeia. O sofrimento que eles tinham durante tantos anos.

Como suas terras eram férteis e de uma hora para outra secaram e o chão tornou-se ressecado e rachado. Que as chuvas que eram mais frequentes do nada se tornaram algo raro. Tudo por culpa da raiva e ódio que seus antepassados lançaram ao praguejar o navio da holandesa.

De fato, percebia-se a magreza excessiva do povo que morava ali. Eles eram mais magros até mesmo que o povo da ilha Mercury. Também se via o chão seco e o calor da região.

Entramos num lugar todo escuro com velas iluminando o ambiente. Uma roda desenhada no centro, muitos barris de oferenda e estatuas de homens e mulheres ao longo do local algumas eu conhecia através dos ensinamentos de Raul, ja outras era totalmente desconhecidos para mim.

Mokó pediu para que nós nos sentássemos no chão atrás do círculo central. Assim fizemos. O velho homem começou a falar algumas coisas que Mokó não traduziu, em seguida ele bateu o pé com força no chão e rodopiou por todo o círculo. Só parou quando os dois homens que o acompanhava o segurou pelos braços.

Naia se segurava com força em meu colo enterrando seu rosto em meu seio, José usava a mão de Matheus Gabriel para tampar seus olhos. O homem parou e olho para nós.

- Vocês. - Ele disse na nossa língua. - Vocês são a atual família de tripulantes do meu navio. Estão aqui para devolver o que eu peguei.

- Holandesa? - Murmurei

- É. Meu nome é Amelita, senhora. Vim agradecer-vos. E pedir que me ajude. Não consigo mais, a tortura deste lugar, - O homem olhou para Naia e José Carlos, de maneira carinhosa, que agora observavam a cena, como se tivessem reencontrado alguém que não viam a muito tempo. - meus filhos... eles não mereciam esse fim. Me ajude. Por favor, te peço como uma mãe desesperada. Ajude meus filhos, pela terra e pela água que nos separam faça com que eles parem de sofrer. Por favor.

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