Confronto Final 3/3

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    Sem saber ao certo o que poderia acontecer a partir dali, disse a Matheus Gabriel o que eu lhe havia dito uma única vez na vida. A frase que eu nunca soube como pronuncia-la em voz alta. Ele pediu que eu não a dissesse, ignorei, sabendo que minha ignorância doía nossos corações eu disse a ele que o amava.

    Queria poder dizer mais, dizer que meus melhores momento foi ao lado dele. Que sou apaixonada pelo seu sorriso e sempre que ele parte para Miquate, uma saudade consome meu coração e eu começo a contar as horas para que ele retorne, afinal, ele não foi qualquer homem em minha vida, ele foi o homem que me ensinou o valor do amor, que me ensinou a amar e ver que este não era um sentimento que devia ser bloqueado, e sim, guardado e dado a quem merece. Espero um dia dizer isso a ele.

    Fui ao local indicado por Marie. Com sorte ela mirou em minha barriga, senti a dor consumir eu corpo, olhei para Gabriel que protegia a visão das crianças. Senti meu corpo fraquejar, as pernas não conseguirem mais me sustentar, ajoelhei-me, e cai para frente. Não estava morta, ainda podia ouvi o que acontecia, só não podia mais tomar controle de meus movimentos, nem mesmo as pálpebras eu conseguia abrir.

    Antes de fechar os olhos pude ver que Jonas chorava. Ele sabia o que estava prestes a acontecer com ele e com Marie, sua irmã. Jonas chorava por que ele estava cumprindo com sua parte do acordo.

    Fiquei um bom tempo sem conseguir me mover, ouvindo apenas o tilintar das espadas, os gritos de dores e as vozes sufocadas por um golpe mortal.  Pouco a pouco o silencio voltou a reinar. Ouvi Marie insistir a Jonas que fugissem dali e ele negar por diversas vezes.

    Com esforço, abri meus olhos e vi Marie arrastar ele para um túnel no fundo do salão da caverna, Gabriel e Jonatas foram atrás deles passando tão depressa por mim que nem notaram que eu tentava balbuciar algumas palavras.

    Eles os amarraram e os colocaram de costas um para o outro e Marie começou a menosprezar, mesmo depois de detida, a todos, crendo que era superior a nós e principalmente a mim.

    Jonatas e Diego como eu já esperava deram aos irmãos um pouco do que mereciam, o que me surpreendeu foi o excesso de frieza em Gabriel, não sabia que minha morte poderia causar tanta dor a ele. Logo após a pequena tortura, Matheus Gabriel, dominado pelo ódio que se podia ver de longe, colocou duas cobras corais para picar cada um dos irmãos e assistiu suas mortes, havia tanta mágoa no seu coração que eu podia ver de longe, chegava ser perturbador ver Gabriel agindo daquela maneira.

    Senti que já podia mover meu braço direito, então peguei a arma de Marie que estava comigo e atirei para cima.

    De imediato Jonatas e Gabriel vieram a meu encontro. Diego veio pouco depois de capturar as cobras novamente e coloca-las dentro da caixa, para assim garantir que elas não piquem mais ninguém.

    Após mostrar o que eu tinha em mim, meu corpo apagou. Só acordei novamente com o efeito do antidoto, na cabine de dormitório do Young Blue. Estava preparada para receber quaisquer tipos de bronca que fosse, e foi exatamente o que aconteceu.

    Depois de acalma-los fiquei só no quarto, sentindo os efeitos colaterais de minha loucura. Não conseguia comer nada sem vomitar e senti febre. Pelo menos sabia que já estava melhorando, pois pelos meus estudos, a febre era o último efeito do remédio.

    - Capitã, sabe de uma coisa? - Diz Diego segurando meu cabelo.

    - O que? - Pergunto com o rosto ainda dentro do balde.

    - Está chovendo. Era para estarmos lá fora correndo e escorregando pelo Young Blue. Não tem como fingir que estar melhor?

    - Bem que eu queria, faz tempo que não brincamos na chu...

    - Pois da próxima vez, não importa a tempestade, nós vamos brincar na chuva. Vai ter próxima vez,  não vai?

    - Claro. Agora eu tenho certeza absoluta da morte de Marie. Ela não me atormentará e tampouco atrapalhará minhas viagens. Finalmente livre.

    - Que bom. Não aguentava mais viajar sem você. - Diego diz me entregando um recipiente com água que eu usei para me limpar. Em seguida ele trançou meus cabelos. - Era Gabriel quem deveria estar aqui, cuidando de ti.

    - Ele está cuidando das crianças.

    - As crianças estão dormindo, não tem o que se preocupar. - Ele responde transando fitas coloridas na minha trança. - Não gosto quando brigam.

    - Não brigamos. Só tive uma ideia suicida que fez Gabriel pensar que eu morreria. Só isso. - Digo irônica. Assim que Diego termina meu cabelo, ainda sentado, me deitei em seu colo, com a cabeça doendo e o estômago rodando. - Posso tomar vinho?

    - Não, está chovendo, mas está de dia, além do mais, tu estás passando mal, vinho não irá ajudar-te. - Diego diz acariciando meu rosto. - Mas podemos fofocar sobre aquela decoração horrorosa na caverna.

    - Sim, podemos. - Digo rindo.

    No final da tarde do dia seguinte já estava de pé, pronta para qualquer situação. De volta ao comando do Young Blue, meu navio que nunca me negou uma vitória sequer em tudo que eu já fiz. No meio da noite já estava de volta à aldeia.

    Meus homens, como os homens que são, festejaram. Diego fez questão de contar a eles, depois que dormi um pouco no dormitório, o que eu tinha feito. Eles me parabenizaram pela coragem, pois nenhum deles teria coragem de fazer o que eu fiz ali por eles.

    Fizeram uma festança na Taberna da Arara Azul, algo que eles chamam de simples comemoração, mas que para Gabriel era como a festa do ano.

    Bebidas, bebidas, músicas, mais bebidas, danças, Bebidas... tudo que eles gostam, por minha conta. Isso os alegrava e os dava mais entusiasmo ainda em lutar ao meu lado. Também fazia por gostar de saber que minha tripulação está contente.

   Depois de tanta comemoração, me dirigi a tribo de mamãe que estava arrancando os cabelos de preocupação da fuga dos gêmeos, depois de tudo explicado, ela os repreendeu com uma bronca. Como bem conheço minha mãe, não tardou muito para ela já estar brincando com as crianças como se nada tivesse ocorrido.

    O padre Antônio, ao saber que estávamos num santuário satanista, tratou de nos benzer, benzer ao navio e até mesmo a minha casa.

    Dormimos na tribo, nós quatro juntos na oca de minha mãe, na manhã seguinte voltamos para a casa. Mamãe pediu que as crianças ficassem com ela dois dias como “penitência” pelo que eles fizeram. Eu e Gabriel concordamos em deixá-los lá, aproveitando que Melody estava na tribo também, assim minha sogra não atrapalhava Lara, que decerto não gostava das visitas da mãe por motivos que não são relevantes aqui.

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