LXVI - Pequeno.

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ARON

Ainda que eu esperasse que algo tivesse acontecido - de alguma forma estrondosa - me surpreendeu o fato de que nada se encontrava assim. Pelo contrário, estava tudo em perfeito estado como eu havia deixado ao sair. Apenas se encontrava demasiadamente silencioso. Me senti aliviado ao vê-la bem e dormindo.

Luce se encontrava deitada na cama, com metade do corpo debaixo das cobertas, e ainda que não visse suas pernas, sabia que ela estava encolhida em posição fetal como era normal dela dormir. Aproximei-me dela, sentando na beirada da cama, admirando-a e percebendo que ela não expressava nenhuma expressão, estava pacífica em seu sono pela primeira vez em meio a esta turbulência. Talvez por estar tão emotiva, a fez ficar de alguma forma mais cansada ou talvez fosse a nova condição de seu corpo.

Acariciei seu sedoso e grosso cabelo, tentando deixá-la ainda mais confortável, enquanto ela tentava estar mais íntima do contato, porém sua respiração começou a ficar um pouco irregular e não demorou muito para seus olhos tremularem e de forma sonolenta se abrirem.

Ela deu um sorriso leve ao me ver, enquanto coçava os olhos para se acordar. Quando terminou, apoiou-se com os cotovelos e me encarou.

— O que aconteceu? — Perguntei. Ainda que muito levemente, eu sentia o cheiro de Sebastian em sua pele. O que me fez semicerrar os olhos, contrariado. A besta, o lobo, não gostava disto. A minha pergunta a pegou de surpresa, dado a expressão que ela fez.

— Promete que não vai ficar bravo?

Nos encaramos por um momento, segurando o olhar um do outro e ela não se deixou levar até que eu balançasse a cabeça. Como uma criança pequena, ela se ajeitou na cama, a feição infantil de culpa apareceu e ela me olhava por debaixo das longas pestanas, enquanto mordiscava a unha. Ela puxou a coberta um pouco para baixo, seu vestido listrado aparecendo em primeiro e então seu joelho direito que estava com gaze e esparadrapo, um pouco mal colocado, como se ela mesmo o fizesse. Eu arqueei uma das sobrancelhas.

— Luce...— A censurei e ela se encolheu no mesmo instante.

—Você prometeu!

Respirei fundo, controlando o rosnado de frustração que ameaçava sair, que não era para ela, mas sim pela situação. Pelo dano em seu corpo. Por eu não ter estado lá para protegê-la.

—Explique. — Ordenei. Luce abriu a boca e depois a fechou, repetindo este mesmo movimento umas duas vezes. — Pequena.

— Hum... D-depois de alguns minutos que você saiu, o interfone tocou. Eu não entendi o queriam dizer, estavam falando em russo, então eu desci até o hall do prédio, o porteiro apontou para fora e quando saí, alguém esbarrou em mim e eu caí, ralando o meu joelho no asfalto, um cara me ajudou a levantar e impediu de que eu quase fosse atropelada por uma bicicleta. Depois disso, cada um foi para seu canto. — Explicou. Um momento de silêncio surgiu. — Você prometeu que não ficaria bravo.

Exasperei, gesticulando com as mãos ao alto.

—Dói? — Perguntei, depois de alguns segundos. Controlando o som da minha voz.

—Um pouco. — Confessou. Eu olhei para seu abdômen e depois para sua face, ela logo entendeu o recado. — Está tudo bem. — Deu um meio sorriso.

—Deixe-me ver. — Ordenei, com as mãos já para tirar o esparadrapo e Luce encolheu os joelhos no mesmo instante.

—Não! Vai doer! — Reclamou igual a uma criança.

Lobos não ChoramOnde as histórias ganham vida. Descobre agora