7. DECODIFICAR

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O aperto de Lucius - torço para ser involuntário - só finalmente diminuiu quando um rosto conhecido e elegante demais se opôs entre o corredor.

- Charles, que prazer! - Disse Lucius em um tom de falso júbilo.
- Igualmente.
Ele respondeu no mesmo tom cortante, seus olhos viajaram para mim e então ele estendeu o braço.
- Me concede a honra de acompanhar você até os assentos, Savie? - Charles perguntou em um tom suave.

Estava embasbacada, me soltei do aperto de Lucius e esfreguei meu braço aonde ele me apertou de forma momentânea. Charles e Lucius trocaram olhares faiscantes iluminados pelas luzes presas nas paredes e eu finalmente disse:
- Não queremos nos atrasar.
- É claro. - Respondeu Charles ainda encarando Lucius em ameaça, ambos ainda se encaravam.

Lucius cedeu, abaixou os olhos e alisou o cabelo grisalho que começava a cair formando áreas calvas.
- Tenha um bom proveito Senhorita Hawley, vou resolver um assunto. - Ele encarava o sapato e quando levantou os olhos disse novamente com a falsa cortesia. - É muito bom te ver aqui Charles.

Olhei para Charles, seu rosto era ilegível, os cabelos cor de areia agora estavam molhadas num tom mais escuro puxados para trás penteados, seus olhos vívidos encaravam Lucius Culbert se afastar pelo corredor e descer a escada ao primeiro andar. Passamos pelo parapeito de grade quando me atrevi olha para baixo aonde os demais assentos eram preenchidos e caminhamos aos assentos de camarote em sacadas requintadas. Foi quando eu tomei coragem pára parar e fazer Charles ter atenção em mim, pela pouca iluminação pois o espetáculo iria começar em breve.
- Porque você ainda me surpreende?
- Por que você me força a causar essas emoções em você.

Arregalei os olhos, ele novamente estava tentando me confundir.
- Você veio, foi convidado? - Fiz uma pergunta pra óbvia.
- Sim, acharam que seria conveniente eu aparecer.
- E porquê?
- Você faz muita pergunta.
Ele disse.
- Só não entendo porque fui chamada e não Debbie. - Eu disse esfregando o braço sabia que ficaria um hematoma ali mais tarde. - Me senti mal por ter mentido para ela.
- Ela irá superar.
Suspirei, não estava convicta.
- Você não a conhece.
- Ela é a Julieta. - Ele esboçou um sorriso que pude enxergar, parecendo disposto a tirar o baixo astral.
Assenti, sem jeito.

- Você não deveria esperar que às pessoas te dessem ordem, você é uma bailarina tão boa como às outras. Acha que conseguiu o papel de Rosalina porquê?
- Não sei, achei que por causa... - Não sabia se deveria ser franca. - Que você tivesse algo a ver com isso.
Ele riu, e eu arregalei os olhos incrédula em como eu soei ridícula.

- Porque me viu na sala do Lucius?

Eu assenti olhando para baixo.

- Você conseguiu porque chamou a atenção do conselho, eu vi sua apresentação.
Lembrei de como ele havia me encarado da primeira vez que vi ele naquela sala.
- E o que você fez hoje de manhã só provou a todos de que não deveria se contentar com Rosalina. - Ele prosseguiu.

Encarei ele, vendo todos os seus traços hipnotizantes ele estendeu a mão novamente, quando eu agarrei para pegar notei algo que não tinha reparado - ele tinha uma cicatriz na lateral da mão.
Agarrei a mão dele, aveludada e fechei os olhos enquanto ele me guiava para nosso camarote. Tentando processar tudo que Charles me disse.

Quando me sentei em uma das cadeiras vi que havia mais pessoas ali, contei rapidamente três mulheres e um homem. Me sentei em uma cadeira ao lado de Charles e uma das senhoras ali, não pude ver seu rosto.
O espetáculo começou, eu vi bailarinas em branco com graça atravessarem a sala, o rigor em que dançam como água em uma cachoeira; tão natural quanto.
Até que na pausa dos atos, algumas luzes se ascenderam e reparei que Charles não havia tirado os olhos da peça.

A Colina VermelhaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora