6. CONTRASTE

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Pela primeira vez entrei no grande auditório, os segundos andares especialmente para pessoas mais favorecidas - eufemismo - e eu me senti absurdamente nua ali, com meias calças brancas, collant de mesma tonalidade e um tutu que me pareceu incrivelmente chamativo. Madame Fleury andava na frente, quando pisquei os olhos para focalizar o palco pela ausência de luz que ali havia, até eu conseguir enxergar.  O palco brilhava pela belíssima luz dos holofotes, a pouca iluminação presente de uma forma para que todos focassem no palco. As cortinas carmesim escorrendo como cachoeiras de tecidos por toda a extremidade bela de hastes acima do palco. Até o solo de madeira erguido, como o palco.
Havia um grupo de pessoas sentadas na enorme fileira do meio ( havia cinco linhas por todo o enorme auditório ). Me sentei em alguns bancos de distância quando Madame Fleury se virou para trás pondo a mão para baixo, gesticulando para eu me sentar, como se faz com um animal. Tentei ignorar.
Ela se sentou ao lado de uma cadeira que aparentemente me pareceu vazia mas depois vi que havia uma mulher baixinha sentada ali, e inclinei, apoiando meu rosto no banco da frente, ficando a metros de distância. Não pude ouvir pelo som que transmitia no enorme salão, qualquer ruído abafava o que eles falavam.
Pareceu conversar com as cabeças nos bancos ao lado, me perguntei por qual motivo eu estava ali, ao envez de estar ensaiando como todos os outros.

Ela havia deixado todos as outras pessoas no salão esperando, e carreguei esse breve sentimento de culpa como se todos fossem me culpar por ter "me mostrado". Mas eu não quis fazer nada, só queria provar a mim mesma que eu conseguia me estabelecer. Não convidei ninguém a olhar, e não vi ninguém por estar tão concentrada.
Deixei transparecer minha raiva momentânea e comecei a roer as unhas. Batendo os pés cobertos pela sapatilha, impaciente.

- Claro, claro. É importante. - Ouvi uma voz masculina, e voltei a olhar para a conversa a frente.
Foco. Meu subconsciente pareceu ralhar. Arregalei os olhos e comecei a ficar ansiosa demais.

- Tenho certeza de que White ficaria boa como. - Uma vez feminina, e pouco conhecida com sotaque forte de Londres.
- Aui. - Concordou Fleury.
Ela se levantou, e então enquanto os demais conversavam no breu, percebi que estavam organizando um espetáculo que haveria essa noite.

Fleury caminhou e não olhou para mim, senti que deveria seguir ela e sem fazer perguntas. Quando estávamos no meio do corredor de volta ela disse ríspida:
- Recomendo vestido de gala para essa nuit. - Ela disse, e eu não entendi de início, ela percebeu meu silêncio. - O conselho solicitou sua presença a noite, não me faça se arrepender Hawley.

Percebi tudo de uma vez. Ela me recomendou como convidada de um espetáculo que irá ocorrer essa noite na Hemingway, e que eu deveria vestir um vestido de gala.
Ela parou e me encarou, eu parecia ter visto um fantasma.

- O que foi? - Ela perguntou irritadiça.
- Eu... não tenho um vestido.
Ela permaneceu com a mesma expressão.
- Recomendo ir às compras. Mais alguma pergunta?
- É... eu ouvi, o nome de Debbie.
- A senhorita White? - Ela fez marca de expressão na testa agora, ao franzir.
- Sim, ela é uma amiga.
- Não pode dizer a ela sobre. - Ela vociferou. - E nem a ninguém.
- Bom. - Eu comecei pensativa. - Preciso de ajuda para me guiar nessa cidade em uma loja de vestidos.
Ela pegou um cigarro da bolsa de lado e acendeu com as mãos trêmulas e ligou o isqueiro. Tragou e soltou a fumaça, até me encarar de novo.
- Está me dizendo que não sabe reconhecer uma loja de roupas? - Ela disse de olhos fechados, com a cabeça erguida. A fumaça do cigarro já desvanecia e na ponta do cigarro se criava outra fina linha desajeitada de fumaça.
- Sei. - Eu tentei parecer ofendida, mas menti péssimo. Eu realmente não fazia ideia de onde achar um vestido de gala. - Mas preciso de opiniões.

- Eis a minha, toda peça que escolher ficará incrivelmente ridículo em você. - Ela disse e voltou a por o cigarro nos lábios secos e se virou continuando a andar, apressei os passos ficando atrás dela e então disse, quase que como implorando:

A Colina Vermelhaحيث تعيش القصص. اكتشف الآن