Meus cafés e letras por você • knj

• tempo

Por mais que o universo não colabore, são tantas, tantas as vezes que os ponteiros do relógio não batem com os meus passos; ou eles estão sempre adiante ou atrasados demais. Tantas as vezes que esse compasso falta. Tenho pensado com tanto pesar no passado e com tanta graça no futuro, que nem vejo o presente pausar em mim como uma pluma leve.

Teve uma época que eu não suportava isso, sabe? Essa coisa do presente virar passado em questão de breves momentos. É estranho pensar nisso. A palavra que escrevi na última entrelinha foi a pouco tempo, mas já é passado. Já passou.

Eu amo maltratar meus pensamentos e fritar meu cérebro me arrependendo por coisas passadas. As coisas tem estado tão bagunçadas aqui dentro, que nem sei explicar o caminho que tenho levado pra conseguir a calmaria que os segundos deram quando ele tocou minha pele. Foi um cuidado tão cru e tão humano, que eu só me deixei levar.

Senti cada fibra do meu corpo mudando, meus pensamentos sorrido para vários lugares ao mesmo tempo. Vi ele se fazendo de mim em uma forma tão bela, que de repente ele pareceu ser só o presente. Eu não queria o futuro dele, e não o passado. Desejava só o agora, mas o agora é muito para suportar.

Um toque pode se eternizar na alma. O "eterno" é tão belo e límpido. Porque não importa quanto tempo passe, o que é eterno sempre, sempre vai fazer parte de nós. Por isso digo que ele é eterno em mim. Dizem que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, mas sinto muito Isaac, mas eu não acredito nisso. É que quando ele me abraça, sinto meu ser adentrando no peito dele, fazendo parte de cada sistema que ele têm. Ele me transborda, então sinto que somos um só.

Depois que ele se tornou o marcador de minhas páginas, passei a entender melhor o significado de uma letra. Uma letra também é uma forma de marcar o presente e o futuro. Você marca o que é e o que será depois que terminar de escrever. Você marca o amor presente e o amor passado, mas nada importa os amores passados quando o amor presente começa a fluir. E é assim com todos os amores; se escreve, se apaga, se reescreve, se revisa, se tira o lápis e passa a caneta, mas então se vê outro erro e daí vem o corretivo. Depois desiste e escreve um parágrafo novo, e aquele parece muito mais belo do que o anterior. Então, tudo acontece de novo.

A escrita se divide em nós até que a letra parece boa o suficiente para permanecer ali. Daí ela vira presente, passado e futuro, tudo ao mesmo tempo. Por isso é eterna.

Eu não gosto de relógios. Fazem um barulho chato e apressam as batidas do coração. Mas eu gosto de você. Por isso me permito olhar os minutos no celular pra não atrasar pra te ver. Às vezes, uma música se torna meu tempo. Se uma música se foi, sei que quatro minutos e alguma coisa se foram com ela. Não sei porque, mas quanto menos olho no relógio, mais some essa sensação de que um dia vou te perder de mim.

Ei leitor, já olhou as horas hoje? Cuidado, elas são perigosas. Vão marcar em você o presente, o passado e o futuro, e isso é perigoso demais. Pois então você vai lamentar o passarinho que acabou de voar, mas não vai ver que outro pousou. Você vai virar futuro sem amar o presente, que logo vira passado. E então, tudo se transformará em uma bagunça dentro do peito, impossível de suportar. Daí as coisas vão passar rápido demais, e de repente tem um fio branco dentre os seus cabelos. O que você foi ontem? Você mudou no hoje? Espera ser o que amanhã?

Eu não sei o que vou ser amanhã. Mas sei que jamais serei igual ao que eu era antes dele. E nem me importo com isso, na realidade. Eu só espero que o presente dure o tempo suficiente pra nos engolir nesse abraço. Espero que o presente se eternize em nós. Espero que esse café que estamos tomando agora fique pra sempre no paladar. Espero que os sorrisos e os olhares sejam recíprocos. Espero por você, amor. Te espero não só com forças que arranjei no passado, e também não te espero com ideias no futuro. Mas te espero para eternizar o que nós somos; marcadores da vida, amantes das madrugadas e ponteiros não contados.

Te espero no presente, no agora, no hoje. Te espero no beijo, no abraço, no carinho. Te espero.